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Internacional
Quinta - 02 de Setembro de 2004 às 19:41

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Soldados camuflados retiraram na terça-feira crianças apavoradas da escola que foi ocupada por militantes armados no sul da Rússia, mas centenas de reféns passam uma segunda noite com fome e sede.

O presidente Vladimir Putin, enfrentando mais uma agressão atribuída aos separatistas da Chechênia, prometeu fazer de tudo para salvar as centenas de crianças, pais e professores que estão confinados no ginásio da escola, sob um calor abrasador.

Os sequestradores, que ameaçam explodir a escola, libertaram 26 mulheres e crianças que estavam entre os cerca de 350 reféns. A escola fica na república da Ossétia do Norte, vizinha da Chechênia. A produtora Olga Petrova, da TV Reuters, viu as mulheres e crianças sendo retiradas em um carro junto com o ex-líder da vizinha Ingushétia, Ruslan Aushev, que intermedeia a crise.

"Acabou, vocês estão bem", disse carinhosamente um soldado com a metralhadora atravessada sobre as costas, a um frágil bebê de cerca de três meses, quando passava em frente a um veículo blindado.

O soldado entrou no carro de Aushev, junto com duas outras crianças pequenas ¿ uma delas, nua, chorava muito.

O porta-voz do governo local, Lev Dzugayev, disse que 26 pessoas já foram libertadas. Outra fonte especificou que foram 15 crianças e 11 mulheres.

Pelo menos sete pessoas morreram na ocupação da escola. A Cruz Vermelha ouviu de colegas russos que podem ter sido até 16 mortos.

O pediatra Leonid Roshal, que também participa da mediação por telefone, disse que a libertação do grupo foi "uma grande vitória". "Mas, olhando para o quadro mais amplo, é uma gota no oceano. Há muito trabalho pela frente", disse ele a jornalistas na região, habitada por cristãos e muçulmanos de vários grupos étnicos, que mantêm uma história de relações turbulentas.

Os sequestradores, segundo Roshal, ainda proíbem a entrega de água e comida na escola. Ele disse que um final desastroso da crise poderia criar "uma guerra entre povos irmãos inguches, ossétios e chechenos" e que "milhares de vidas poderão ser perdidas".

A Ossétia, com população predominantemente ortodoxa, é a principal base de apoio da Rússia na guerra intermitente contra os separatistas muçulmanos da Chechênia, que já dura mais de uma década. No começo dos anos 1990, um conflito territorial entre ossétios e inguches (etnicamente semelhantes aos chechenos) matou centenas de pessoas.

SALVAR VIDAS

Putin, no governo há quatro anos e meio, disse que a prioridade nesta crise é salvar vidas. "Nossa principal tarefa é salvar a vida e a saúde daqueles que terminaram como reféns. Todas as ações das nossas forças serão devotadas para isso", afirmou o presidente ao rei Abdullah, da Jordânia, no Kremlin.

Valery Andreyev, diretor do FSB (serviço nacional de segurança) na Ossétia do Norte, disse que recorrer à força "é algo que não está em questão no momento". "Haverá um longo e tenso processo de negociação."

Por causa do incidente, Putin adiou uma visita à Turquia. Na capital russa, o sequestro e o atentado suicida de terça-feira, que matou dez pessoas numa estação de metrô, levaram a prefeitura a cancelar vários eventos ligados à celebração anual do Dia de Moscou.

VIGÍLIA

Os parentes continuam em vigília na frente da escola e pedem ao governo que não invada o prédio. "Não é possível invadir. Eles vão explodir nossas crianças", disse Luda, que tem um filho entre os reféns.

O sentimento na cidade varia da ansiedade à ira contra as autoridades, por terem provocado a calamidade.

"Essas crianças não têm culpa de bandidos virem aqui. A culpa é das autoridades. Elas não podem restaurar a ordem e guardar as fronteiras", disse Ruslan Tivitov, 27.

Em 2002, um sequestro num teatro de Moscou acabou em tragédia ¿ depois de um longo cerco, os militares invadiram o local usando um gás tóxico, que matou 41 guerrilheiros e 129 reféns.

Putin não pode se arriscar a uma nova catástrofe como essas, mas por outro lado estará quebrando uma antiga promessa se aceitar negociar com os sequestradores.

Na semana passada, dois aviões de passageiros explodiram quase simultaneamente no sul da Rússia, o que também está sendo tratado como um atentado.

Os líderes separatistas chechenos negam, porém, qualquer relação com a invasão da escola.

As autoridades dizem que o grupo armado só aceita conversar com Roshal e com outros líderes regionais e ameaçam matar 50 crianças para cada militante que for abatido.

Na Chechênia, dois soldados russos morreram e sete pessoas ficaram feridas quando o comboio em que eles estavam passou sobre uma mina, ao sul de Grozny, a capital regional.




Fonte: Reuters

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