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Internacional
Sexta - 13 de Agosto de 2004 às 21:42

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O clérigo radical iraquiano Moqtada Al-Sadr prometeu hoje que vai permanecer em Najaf, o reduto dos seus seguidores, até a vitória ou a morte. Isso afasta a possibilidade de um acordo com as forças norte-americanas que cercam os lugares sagrados da cidade.

Animado com as manifestações contra a ofensiva norte-americana preparada para controlar uma rebelião de nove dias, Al-Sadr mostrou a disposição de desafiar o governo interino "ditatorial", que tenta negociar o fim do impasse.

"Aconselho o governo ditatorial e agente dos EUA a renunciar, todo o povo iraquiano exige a renúncia do governo", afirmou ele a guerrilheiros entrincheirados na mesquita do imã Ali, segundo um porta-voz de Al-Sadr. "Não deixarei esta cidade sagrada", disse ele aos militantes, que responderam aos gritos de "não à América". "Vamos permanecer aqui defendendo os lugares sagrados até a vitória ou o martírio".

Antes, um representante de Al-Sadr dissera que ele retiraria suas forças de Najaf se os Estados Unidos também o fizessem e se as autoridades religiosas aceitassem administrar as mesquitas da cidade, a mais sagrada no Iraque para os xiitas, que compõem a maioria da população.

Mas o inflamado discurso, preparado para melhorar o moral dos combatentes que vêm sofrendo pesados ataques dos aviões e tanques norte-americanos, dava a entender que a possibilidade de acordo com o governo está descartada.

"O sayyed descendente do profeta Maomé Moqtada não será tocado se ele deixar o templo pacificamente", disse o ministro do Interior, Falah al-Naqib.

Em Basra, homens armados seqüestraram o jornalista James Brandon, do diário londrino Sunday Telegraph, e ameaçaram matá-lo dentro de 24 horas se os EUA não abandonassem Najaf. Mais tarde, porém, Brandon foi solto por ordens de al-Sadr.

Os combates em Najaf mataram centenas de pessoas e podem abalar o governo do primeiro-ministro interino Iyad Allawi, que tem dificuldades para conter uma rebelião xiita no sul do Iraque, que já atinge as exportações de petróleo.

À noite, testemunhas disseram que soldados dos EUA haviam abandonado suas posições perto da casa de al-Sadr em Najaf, que foi invadida na quinta-feira.

Ahmad al-Shinabi, assessor do clérigo, disse que ele foi ferido no peito, num braço e numa perna por volta de 4h30 (21h30 de quinta-feira) no cemitério da cidade, onde sua milícia se abriga. O ministro Naqib negou que Sadr tenha sido ferido e disse que uma trégua está em vigor desde a noite de quinta-feira.

A ofensiva em Najaf fez a cotação do petróleo bater um novo recorde na quinta-feira, quando chegou a ser vendido por 45,75 dólares por barril em Nova York. Na sexta-feira, o preço fechou em 46,50.

CRIANÇAS MORTAS

Os aviões dos EUA bombardearam a cidade de Falluja pelo segundo dia consecutivo, matando seis iraquianos, inclusive duas crianças, de acordo com fontes hospitalares. Os militares norte-americanos não comentaram os números.

Em Najaf, os moradores disseram que o clima estava mais tranquilo do que na quinta-feira. "Cessamos as operações militares ofensivas a esta altura", disse um porta-voz militar dos EUA.

Em Kufa, 10 quilômetros ao sul dali, as forças iraquianas mataram várias pessoas numa ofensiva contra um reduto de al-Sadr, segundo um porta-voz dos marines norte-americanos.

Centenas de seguidores de al-Sadr cercaram 20 soldados poloneses em uma delegacia de Hilla, segundo os militares. A Polônia auxilia as autoridades iraquianas na cidade e disse que poderá usar a força para romper o cerco.

Em Bagdá, milhares de simpatizantes de Sadr fizeram uma manifestação em frente à Zona Verde (complexo que abriga o governo e a embaixada dos EUA em Bagdá). Vários policiais iraquianos participaram. Também houve protestos nas cidades de Diwaniya, Kufa, Samawa, Kirkuk, Kerbala e Falluja.

Milhares de xiitas também saíram às ruas no Irã, cujo governo pediu que as tropas dos EUA deixem o vizinho Iraque. Houve manifestações ainda em Bahrein, país do golfo Pérsico aliado dos EUA, e em menor escala no Líbano.

Os protestos no Iraque mostraram como o país continua profundamente dividido na antevéspera de uma conferência nacional que vai escolher os cem membros de uma assembléia que supervisionará o trabalho do governo interino. O enviado da ONU ao Iraque, Ashraf Qazi, que deve participar da conferência, chegou a Bagdá e se reuniu com Allawi e com o presidente Ghazi al-Yawar.

O Conselho de Segurança aprovou na quinta-feira a ampliação da missão da ONU no Iraque, exatamente 12 meses depois de um atentado que matou o antecessor de Qazi no cargo, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, e mais 21 pessoas.

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, divulgou nota na qual se diz "profundamente entristecido" pela violência em Najaf.





Fonte: Reuters

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