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Cidades/Geral
Sábado - 10 de Julho de 2004 às 23:57

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O Conselho Regional de Odontologia (CRO) possui 120 denúncias de exercício ilegal da profissão em Mato Grosso, isto é, pessoas que atuam como dentistas sem terem cursado uma faculdade. Cerca de 30 falsos profissionais estariam trabalhando em Cuiabá e Várzea Grande.

No interior do Estado, há casos de falsos profissionais que trabalham como cabos eleitorais para políticos. O “aval” de alguém conhecido pela população acaba ocultando as suspeitas e, conseqüentemente, atrapalha a confirmação das denúncias.

Os casos estão sendo encaminhados para a Delegacia de Estelionato, que investiga, prende o falso profissional e interdita os consultórios. O crime está especificado no artigo 282 do Código Penal: “exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista e farmacêutico sem autorização legal”. A pena varia de seis meses a dois anos de prisão.

Duas pessoas foram presas esse ano em Cuiabá. No dia 17 de junho, Hosana de Azevedo Maximiniano foi presa no bairro Pedra 90. A casa dela funcionava com um consultório. Além dos equipamentos, a polícia também encontrou no local 49 trouxinhas de pasta-base de cocaína, em poder do filho dela, de 23 anos. Hosana havia feito atendimentos nos bairros Jardim Eldorado, em Várzea Grande, e Tijucal.

O caso mais recente foi descoberto no bairro Santa Isabel. Na terça-feira, Diógenes Granado foi preso pela Polícia Civil. Ele possuía uma clínica equipada com aparelhos. A comerciante Ivanir Gonçalves, vizinha do local, havia se consultado com Diógenes. “Fui bem atendida. Era tudo limpo e descartável”, conta.

Muitos “consultórios” têm aparência “normal”, o que acaba fazendo com que os pacientes sequer desconfiem que estão sendo atendidos por um falso profissional. “Não se deixe levar pela impressão”, ensina o presidente do Conselho Regional de Odontologia (CRO), José Armando Costa Júnior.

A dona de casa C.S., que pediu para não ser identificada, chegou a trabalhar para Hosana no início do ano, contratada para fazer cadastros de possíveis pacientes no Jardim Eldorado, em Várzea Grande. “Não dava para perceber que ela não era dentista. Ela usava luvas como os dentistas usam”, conta.

O cadastro, feito de casa em casa, era “sem compromisso” e atraía clientes oferecendo descontos. “Se a restauração fosse R$ 50, ela deixava por R$ 25, por exemplo”, diz. Ela e outras três pessoas foram contratadas para o trabalho. Receberiam um salário mínimo e um sacolão por mês. Porém, o valor prometido não foi pago.

Mas isso não foi o pior. O marido dela, trabalhador da construção civil, chegou a pagar R$ 150 para restaurar dois dentes. Poucos meses depois, as obturações já apresentam problemas. “Está caindo, lascando tudo”, conta.

Um vizinho da dona de casa teve mais problemas. Ele teria pago R$ 300 por duas próteses: dele e da esposa. “Ele disse que ela fez tanta força para encaixar a prótese que sangrou e acabou “colando”. Não saía da boca nem para escovar e limpar”, relata.

O caso mais grave foi o da vendedora Eloá Francis Lélis Pineo, de 19 anos. Há um ano e meio, ela fez um tratamento de canal no “consultório” do Santa Isabel, fechado pela polícia recentemente. Segundo ela, uma perfuração atravessou o dente e atingiu a gengiva. “Ele queria fechar, mas estava doendo muito. Aí, quis arrancar o dente”.

Depois de procurar um profissional e fazer vários exames, foi detectado que havia um cisto na raiz do dente. Eloá passou por uma cirurgia e teve que tomar vários remédios. Um ano depois da operação, ela ainda não pode usar o aparelho ortodôntico que precisava ter colocado nos dentes.

O caso da vendedora mostra que há muitos riscos envolvidos em ser atendido por um falso profissional. A falta de esterilização dos materiais utilizados pode levar a infecções dentárias que, se caírem na corrente sangüínea, podem levar a pessoa a morte.

O paciente pode contrair doenças graves como tétano e hepatite. Para mensurar a gravidade do problema, o presidente do conselho cita dados do Instituto do Coração (Incor). A pesquisa apontaria que 30% das inflamações das artérias do coração (endocardites bacterianas) vêm da boca.

Para José Armando, a atuação dos falsos profissionais é mais grave entre a população de baixa renda, que possui menos conhecimento e pode ser atraída por preços menores. “A população mais informada não procura um profissional aleatoriamente”, afirma.

Para não correr riscos, é importante que o paciente consulte o CRO para saber se aquela pessoa é realmente um profissional. A checagem pode ser feita com o nome ou com o número de registro. O registro nº 031 que Diógenes utilizava, por exemplo, estava desativado desde 1998.

Para dúvidas ou denúncias, o telefone do CRO é 321 1059.




Fonte: Diário de Cuiabá

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