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Politica Brasil
Quarta - 30 de Junho de 2004 às 17:32
Por: Adriana Vandoni Curvo

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Nada como andar para conhecer os caminhos que a vida pode ter. Nada como escutar as pessoas para conhecer as várias histórias de vida. Oportunidades como essa, de escutar e conhecer as histórias de vida, são raras e, na maioria das vezes, podem passar despercebida.

A minha profissão e minha curiosidade, mais curiosidade que profissão, estão me possibilitando isso. Viajando, estou escutando pessoas das mais variadas histórias. Quanta riqueza este país esconde interior adentro. Gente simples, humilde, mas com um valor imensurável. Gente que se constrange em dizer que: "Meu problema, é que eu só fiz até a quarta série". Não, isso não é um problema seu. Isso é um descaminho que um modelo de administração pública vinha mantendo ao longo de anos, se beneficiando da pouca ou quase nenhuma educação do povo. Isso sempre os ajudou a se manterem no poder. É uma disfunção tão entranhada que chega a permear os limites da hereditariedade. passar despercebida.

Ao escutar o r elato dessas pessoas, tentei mostrar que a vergonha não deve ser deles, deve ser dos que, ao terem o poder de transformar, se omitiram pela ganância e medo de esclarecer a população, ou por pura incompetência administrativa. Farsas retóricas se desnudaram, ao longo da nossa história, em pessoas que, apesar de valorosas, tornaram-se fragilizadas pela pobreza e vergonha da sua própria situação. passar despercebida.

A população não se acomodou na situação, ela simplesmente não sabe que pode pedir, lutar, questionar e criticar. Ela não sabe que existe e nem que faz parte do processo. Não sabe que o valor de ser um Ser Humano é igual, independente da escolaridade. passar despercebida.

Infelizmente temos que aceitar que se nós, sociedade, não fizermos algo, independente de governos, nada mudará. Os governos, a cada novo grupo que assume o poder, mostra o quanto são incapazes de sozinhos solucionar a enorme dívida com os mais humildes. Eu me sinto responsável, não pela manutenção da ignorância em meu benefício, mas como uma cidadã que, por obra do destino, teve oportunidades. passar despercebida.

Será que já não está na hora de escutarmos as pessoas e nos desassossegarmos com suas histórias? De darmos um basta nos projetos mirabolante que ao longo de 500 anos só serviram para usurpar deste povo o suor de seu trabalho e amputar-lhes a dignidade de se considerarem seres humanos? Será que não está na hora da sociedade, independente de objetivos políticos, tomar para si algumas responsabilidades?passar despercebida.

Eu me sinto responsável. E você? passar despercebida.

Adriana Vandoni Curvo é professora de economia, consultora, especialista em Administração Pública pela FGV/RJ. E-mail: avandoni@uol.com.br




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