Repórter News - www.reporternews.com.br
Nacional
Sábado - 06 de Outubro de 2012 às 09:36

    Imprimir


A condenação nesta segunda-feira do proprietário de uma emissora independente de rádio acusado de motim foi o último de uma série de episódios similares neste ano no Camboja, um dos países que mais cometem violações dos direitos humanos.

Por trás dos abusos está o desmatamento ilegal e o confisco de terras, conflitos que causaram a morte do ativista ambiental Chhut Vuthy, do jornalista Hang Serei Oudom e levaram à prisão 13 mulheres que se opuseram à desapropriação de suas casas no centro de Phnom Penh para um projeto multimilionário de desenvolvimento urbanístico.

O último caso é o de Mam Sonando, de 70 anos e criador da "Beehive Rádio", condenado na segunda-feira a 20 anos de prisão acusado de conspirar pela independência da província de Kratie, no leste do país, junto com 13 cúmplices.

Por trás da sentença estão os enfrentamentos no mês de maio na aldeia de Broma e a morte de uma cambojana de 14 anos pelo disparo de um policial quando as forças de segurança tentaram retirar os moradores que travam uma disputa com uma empresa proprietária de 15 mil hectares adjacentes ao povoado.

A promotoria acusou Sonando de instigar os moradores a pegarem em armas para criar um Estado próprio e provocar os distúrbios.

Em comunicado, algumas organizações denunciaram na segunda-feira que Sonando foi detido depois que sua emissora divulgou a informação de uma denúncia apresentada ao Tribunal Internacional de Haia que acusava o governo cambojano de estar por trás das expropriações forçadas para concessões a empresas privadas.

Segundo estes grupos, um dia depois que a "Beehive Rádio" divulgou os fatos, o primeiro-ministro cambojano, Hun Sen, pediu publicamente a detenção de Sonando.

"Sonando representa uma ameaça para o governo, mas não porque tem intenções separatistas, mas porque é proprietário de uma das últimas rádios independentes do Camboja e porque dá espaço para a oposição e para vozes afastadas do círculo de poder", disse Naly Pilorge, diretora da Licadho, uma das organizações que assinaram o citado comunicado.

O diretor do Centro Cambojano para os Direitos Humanos, Ou Virak, classificou a sentença como uma "paródia grotesca da justiça" e uma violação "vergonhosa e descarada" dos direitos do acusado.

"Estou indignado pela condenação de hoje (segunda-feira). Durante o julgamento não foi apresentada nenhuma prova que ligue Mam Sonando com as acusações", disse o ativista em outro comunicado.

A União Europeia se uniu aos protestos pela punição e considera que a pena imposta "coloca sérias dúvidas sobre a imparcialidade e a independência da justiça do Camboja".

Em comunicado, a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, exigiu que o governo cambojano "proteja o direito fundamental de todas as pessoas de expressarem livremente suas opiniões de forma pacífica".

Durante os últimos anos, o governo de Hun Sen utilizou os tribunais para calar seus críticos.

Segundo o grupo "Global Witness", contratado pelo governo cambojano há mais de uma década para supervisionar as zonas florestais do país e cujo contrato foi rescindido quando se tornou muito rigoroso, a corrupção nos governos local e nacional e as forças de segurança amparam a exploração ilegal de madeira no Camboja, um negócio que rende US$ 13 milhões por ano.

No final de 2010, o governo do Camboja, país com 18,1 milhões de hectares de extensão, tinha 80 concessões que afetavam 1.127.841 hectares de terreno em 16 províncias, de acordo com dados da "The Center for People and Forests", uma entidade financiada pela União Europeia.

Segundo o Centro Cambojano para os Direitos Humanos, desde 2007 aconteceram 223 casos de expropriações forçadas no país.





Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://www.reporternews.com.br/noticia/39577/visualizar/