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Copa 2014
Quarta - 25 de Junho de 2014 às 20:32

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Brasil e Chile se enfrentarão no próximo sábado, em Belo Horizonte, no Mineirão. Mais do que uma partida decisiva, o duelo será um confronto de gerações. Não exatamente dos 22 jogadores que estarão em campo, até porque Alexis Sánchez, Daniel Alves e Neymar, por exemplo, são companheiros da mesma equipe na Espanha, o Barcelona. Mas um confronto de ideias, materializado nos presidentes das confederações de futebol dos dois países.

De um lado, José Maria Marin, 82 anos. Do outro, Sérgio Jadue, que poderia ser até neto do primeiro, com 35 anos, o mandatário mais novo de todas as 32 seleções. Os dois têm quase o mesmo tempo de gestão: o primeiro entrou em março de 2012, depois da renúncia de Ricardo Teixeira, e o segundo assumiu em janeiro de 2011, após uma eleição conturbada, em que ele era parte da oposição. Os caminhos, no entanto, não foram os mesmos.

Se Marin entrou para dar continuidade à administração anterior, tendo feito poucas mudanças no futebol brasileiro de lá até aqui, Jadue é conhecido por ter feito uma revolução. Obviamente, não é a gestão da entidade que vai definir até onde uma seleção poderá ir em uma Copa do Mundo, mas certamente tem influência. Uma boa campanha chilena, portanto, pode consagrar o trabalho realizado até agora.

Segundo palavras do próprio presidente da federação de Alexis Sánchez e Arturo Vidal, as metas que tinha quando entrou já foram cumpridas: tirou os balanços do vermelho, bateu recordes de arrecadação, fechou novos contratos de patrocínio, implementou uma espécie de fair play financeiro, criou um código de ética para dirigentes, colocou o país de volta na Conmebol depois de 30 anos fora, negociou e ganhou para sediar uma Copa América e mudou o formato do campeonato, diminuindo de 18 para 16 clubes.

Para isso, segundo a imprensa chilena, Jadue perdeu 20 quilos desde 2011 até agora e adquiriu novos hábitos de vida: melhorou sua alimentação, criou tempo para fazer mais exercícios, o que lhe rende melhor desempenho em campo - sim, ele também joga.

Conheça um pouco da gestão de Sérgio Jadue

1) Fair play financeiro: as caras folhas de pagamentos dos clubes envolvendo seus jogadores assustaram Jadue. Um estudo foi encomendado e a conclusão foi de que era preciso tomar alguma atitude. Foi quando a federação decidiu atuar. Criou uma comissão de Controle Financeiro, responsável por olhar de perto os balanços das agremiações com um único objetivo: não deixar que os gastos com elenco passem de 70% do faturamento total e os outros 30% sejam investidos em infraestrutura e futebol de base. Se as regras não são cumpridas, há punição: desde não poder mais registrar jogadores até multas milionárias.

No Brasil, o assunto também está em pauta, há algum tempo, especialmente desde que o movimento Bom Senso surgiu, mas parou no mês passado. Muitos acreditam que fracassou, enquanto outros ainda têm esperança de conseguir mudanças.

2) Arrecadação: o presidente da federação reformulou os contratos de patrocínios do futebol chileno, alguns deles sendo até criticados, por não terem passado por um processo de licitação. O resultado, segundo as palavras de Jadue, são positivos: "Durante a minha administração, vendemos 126 milhões de dólares, contra 57 milhões de dólares que foram vendidos no período anterior", afirmou para a Revista Capital.

De Ricardo Teixeira para Marin, logo na transição, a arrecadação pulou de R$ 300 milhões para R$ 360 milhões. Em 2013, o faturamento cresceu ainda mais: R$ 436 milhões.

3) Balanço: com uma arrecadação maior, foi fácil deixar o balanço positivo. "Quando eu recebi a federação, o balanço do ano de 2010 era de 6,5 milhões de pesos negativos. Não quero falar do passado, mas fizeram gastos que não faziam sentido. Não é normal que no primeiro ano que eu entro, termos um balanço positivo de 2,5 milhões e no segundo 1,6 milhões, também a favor", disse, na mesma publicação.

O lucro da CBF, de Ricardo Teixeira para Marin, caiu de R$ 73 milhões para R$ 55 milhões, de 2011 para 2012; o mesmo valor foi mantido em 2013.

4) Divisão das cotas de televisão: 100% do dinheiro da TV vai para os clubes, chegando ao valor recorde no último ano de 50 milhões de dólares. Atualmente, 25% dos recursos vão para os times maiores (Colo Colo, Universidad de Chile e Universidad Católica), 17% para as outras equipes da primeira divisão e 18% para os clubes da Série B. O restante depende das negociações. Na nova gestão, as transmissões aumentaram de quatro para sete na semana, da primeira divisão, sem contar fins de semana.

A situação também é polêmica no Brasil. Clubes como Corinthians e Flamengo recebem muito mais do que os demais times e as negociações são feitas diretamente entre televisão e dirigentes, sem divisões previamente definidas.

5) Mudança no campeonato: até por essas questões financeiras, além de outros motivos, uma conferência no final do ano passado decidiu por unanimidade que haverá uma mudança a partir de 2016: a primeira divisão terá duas equipes apenas, passando de 18 para 16 participantes.

O surgimento do Bom Senso também trouxe essa discussão: a necessidade de uma mudança nos campeonatos, especialmente os estaduais. O assunto, na verdade, é discutido há anos, com ideias que sugerem também uma diminuição de times no Brasileirão.

6) Copa América: a última vez que o Chile recebeu uma Copa América foi em 1991 e o presidente agora comemora a volta da competição. "A Copa América é um sonho. Desde 1991, vários presidentes tentaram trazer o torneio de volta. Para nós, bastou participar de uma negociação bem rápida, a partir de uma debilidade de infraestrutura que o Brasil demonstrou. Conversamos com eles e obtivemos a Copa para o nosso país", explicou Jadue, para a Revista Capital. O Chile também vai receber o Mundial sub-17.

O Brasil abriu mão de sediar a Copa América pela grande concentração de eventos esportivos em um curto período: Copa das Confederações, Copa do Mundo e Olimpíadas. A última vez que a competição foi realizada no país foi em 1989.

7) Novos projetos: com suas metas já alcançadas, o presidente da federação chilena quer agora começar a tocar outras ideias. Uma agência de viagens, um novo complexo desportivo, aplicativos para celulares e até mesmo abrir um hotel para o público estão em seus planos. "A ideia é que os serviços que terceirizamos nós possamos fazer aqui dentro, de forma direta. Há gente que muito perto da entidade que nos ajudou, trazendo muito dinheiro. Por que não nós mesmos?" questionou, na entrevista à publicação. Um museu está sendo construído, onde, inclusive, vai parar a bola do jogo contra a Espanha, autografada por Vargas e Aranguiz, os heróis do duelo.

A CBF inaugurou antes do início da Copa do Mundo sua nova sede, no Rio de Janeiro, onde também haverá um museu. A entidade também fez reformas na Granja Comary para receber a seleção na preparação para o Mundial. Um investimento total de mais de R$ 100 milhões.

8) Conmebol: o presidente chileno foi eleito vice-presidente da Conmebol, no meio do ano passado. Ele ficará no comando até 2015, quando se renovará toda a direção . A novidade foi muito bem vista na imprensa do país: o Chile voltou a fazer parte da entidade depois de 30 anos sem nenhum representante.

A CBF tem tentado estreitas os lanços com o órgão sulamericano, mas os clubes ainda enxergam uma distância muito grande, o que acaba provocando críticas aos campeonatos organizados, especialmente em relação aos prêmios concedidos.

9) Código de Ética: depois de diversas confusões entre dirigentes de clubes nos últimos anos por causa de assédio sobre jogadores, Jadue decidiu instalar um Código de Ética, aprovado por unanimidade em uma assembleia da federação. De acordo como regulamento, não é permitido começar negociações durante os campeonatos e está proibído o contato direto entre o clube e o atleta. Se houver interesse, os times têm de se falar diretamente. Se as novas regras não forem cumpridas, as sanções variam entre suspensão e expulsão de dirigentes.

Recentemente, o São Paulo atravessou a negociação de Alan Kardec com o Palmeiras e levou o jogador. As conversas foram feitas entre clube e atleta, pegando o presidente Paulo Nobre de surpresa, resultando no rompimento das relações.





Fonte: ESPN

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