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Nacional
Sexta - 12 de Junho de 2015 às 15:21

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Foto: (Foto: Reprodução / GloboNews)

Polícia tenta negociar rendição de Sandro Barbosa

Polícia tenta negociar rendição de Sandro Barbosa

A atuação desastrada da Polícia Militar do Rio na noite de 12 de junho de 2000 precipitou duas mortes: a de um homem fadado à tragédia e a de uma de suas vítimas. Sandro Barbosa do Nascimento, que já fora testemunha ocular do assassinato da mãe e de "irmãos", morreu por asfixia em um carro da PM, horas depois de sequestrar um ônibus da linha 174, na Zona Sul da cidade. A refém Geísa Gonçalves perdeu a vida pouco antes, pelas mãos dele. Foi o capítulo final de uma história que durou 4 horas e 30 minutos, onde um sobrevivente da Chacina da Candelária manteve 10 passageiros sob a mira de uma arma.

Ao final da negociação, atacado por PMs que erraram a mira, ele reagiu: apertou o gatilho e provocou a morte da refém Geísa, que estava grávida. Horas antes, quando agentes tentavam convencer a rendição aos gritos, ele berrava de volta na janela do coletivo: "chama a Tia Yvonne". Ela, porém, não foi encontrada.

Até hoje, a ativista e artista plástica Yvonne Bezerra de Mello acredita que poderia ter evitado as duas mortes. Mas, sobretudo, acredita que – junto do poder público – poderia ter mudado o destino de Sandro.

Antes mesmo da tragédia da Candelária, em 1993, quando oito pessoas – entre elas seis menores – morreram, ela ia ao encontro de Sandro e de outros 70 jovens para distribuir comida e tentar apresentar a eles um outro universo. Por atos como este, Yvonne levanta polêmica e divide opiniões. Para seus críticos, é a "mulher que ajuda bandidos" e, por eles, já chegou a ser ameaçada de morte.

Yvonne era uma das poucas pessoas com quem Sandro se abria. Revelara a ela o momento em que viu, ainda criança, a mãe ser assassinada. Anos depois, assistiria à morte de amigos em sua nova "casa": a calçada da igreja da Candelária, no Centro do Rio. Chamava-os "irmãozinhos". No episódio, PMs deram fim a moradores de rua suspeitos de praticar delitos. A ativista social o conheceu ali.

Índices de violência cada vez mais alarmantes, que aumentam a sensação de insegurança, levam Yvonne a não descartar o aparecimento de "novos grupos de extermínio". Ela teme pela reprodução de tragédias semelhantes, como a da Candelária e do sequestro do 174.

A solução para evitá-las, segundo ela, seriam políticas sociais mais complexas e justas. "Você não pode criar crianças em uma área bélica, é impossível. Gente morta todos os dias faz com que, na cabeça delas, isso seja normal. Existem mil novos Sandros por aí, já estão nas ruas", ela diz.

No início de 2014, um dos "Sandros" foi parar amarrado nu em um poste da Zona Sul do Rio. "Justiceiros" usaram uma tranca de bicicleta para prender um suspeito de um assalto na rua. Foi Yvonne quem fotografou e divulgou a história, voltando a ser muito criticada em redes sociais. Seus detratores diziam que ela acolhia "marginais".

"Hoje tem meninos em todo o lugar. Segurança pública é depois: quando a pessoa está roubando. Antes de chegar na rua roubando, é um problema social", afirma. Na ocasião, uma amiga revelou ao G1 que ela fora ameaçada.

'Cenário parecido', diz consultor
Ex-capitão do Bope e produtor do documentário "Ônibus 174", o consultor de segurança Rodrigo Pimentel diz que o sequestro foi um marco para a mudança do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Ele não descarta que considerações políticas tenham se sobreposto a considerações técnicas durante a ação policial, mediada pelo batalhão. Como mostra o documentário, um dos policiais que participava da negociação estava ao telefone com o então governador do Rio, Anthony Garotinho.

Apesar das falhas, ou justamente por causa delas, ele vê uma enorme evolução. "Depois do sequestro ao 174, o Bope não perdeu mais reféns no Rio. Já são 15 anos", celebra.

A insegurança, no entanto, persiste. "Temos a menor taxa de homicídio dos últimos 24 anos, mas para o carioca vivemos um cenário muito parecido. Segurança pública não é número, é mais percepção. Atribuo isso a pouca ostensividade da polícia", diz o ex-capitão.





Fonte: G1

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