Revoltado
Assessor vítima da Covid diz que Medeiros era membro de gangue e boi de piranha Em fevereiro, José Roberto Feltrin já expressava preocupação com a falta de vacinas contra Covid no país

o advogado José Roberto Feltrin, que atuava como assessor no gabinete do deputado federal José Medeiros (Podemos), e faleceu em 18 de maio, vítima de complicações decorrentes da Covid-19, deixando áudio para ser divulgado caso não resistisse à doença, no qual responsabiliza o presidente da República Jair Bolsonaro e o próprio Medeiros pela sua morte por terem sabotado na vacinação no país, já estava revoltado com a atuação do parlamentar bolsonarista desde fevereiro.

Áudios obtidos pelo comprovam que Feltrin estava indignado com a postura de Medeiros diante da falta de vacinas e da atuação no episódio da prisão do deputado federal Daniel Silveira (ex-PSL, hoje PTB-RJ), preso por divulgar um vídeo com ameaças e incitação a agressões contra os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), além de apologia ao AI-5 – principal símbolo da repressão da ditadura militar. Após a Câmara dos Deputados negar a soltura do parlamentar, Medeiros afirmou que o Congresso e comportou como “verme” e ameaçou apresentar Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para por “coleira” no STF.

“Com a pandemia, na forma que está sendo conduzida no país, só irresponsabilidade, morrendo uma média de mais de mil pessoas todos os dias. A vacina acabou, não conseguiram comprar, não conseguiram renovar os estoques, está paralisado desde ontem toda vacinação. O governo precisa encontrar alguém para chamar atenção, para distrair a população do problema principal. Aí usam os que eles têm”

Para Feltrin, Medeiros estava se comportando como “membro da gangue que deu golpe no país e tomou o poder”. Além disso, falou que seu chefe seria usado como “boi de piranha” por Bolsonaro para desviar o foco na incompetência na gestão da pandemia.

“Com a pandemia, na forma que está sendo conduzida no país, só irresponsabilidade, morrendo uma média de mais de mil pessoas todos os dias. A vacina acabou, não conseguiram comprar, não conseguiram renovar os estoques, está paralisado desde ontem toda vacinação. O governo precisa encontrar alguém para chamar atenção, para distrair a população do problema principal. Aí usam os que eles têm. O deputado Silveira, outros que eles têm, que fazem parte da quadrilha que deu o golpe no país e que tomou o poder na marra. Mas para manter o poder na marra não é fácil. Então ele vai queimando. E o Bolsonaro já sentiu que esse menino aí [Medeiros], ele é uma peça fácil de ser manobrável. Então, o próximo a ser usado é ele. Lamentavelmente, infelizmente, é uma vergonha para Mato Grosso isso aí”, desabafa Feltrin ao seu amigo, advogado Carlos Naves.

Segundo o assessor, Medeiros age com subserviência a Bolsonaro por medo do chamado “gabinete do ódio”, que seria formado por assessores que atuam nas redes sociais para destruir a reputação de desafetos do governo. Também prevê que ele será “esmagado” junto com o presidente da República.

“Achei que ia demorar um pouco mais, mas foi mais rápido. O próximo elemento da quadrilha a ser usado como boi de piranha será o seu amigo, a sua cria. Você sabe como funciona quadrilha, máfia, como funciona essas coisas. O deputado Silveira está sendo usado pela gangue do Bolsonaro para poder chamar a atenção diante desse quadro alarmante da pandemia. Bolsonaro perdendo popularidade dia a dia. Em poucos dias, ele perdeu mais de 10% de aprovação, aí usaram o Silveira. Só que eu falei, agora vão usar nosso amigo também, ele faz parte da gangue. Ele m..., c... e p... com medo do gabinete do ódio. Por que não usaram ainda? Ele é peça importante para ser usado nesse tabuleiro para ser queimado. E ta aí a resposta, não demorou muito. Vai ser esmagado. Quando você entra para uma quadrilha, é isso que acontece. Você fica refém e fica obrigado a fazer o que o chefe da quadrilha manda”, completou.

José Roberto Feltrin era irmão do ex-secretário de Receita de Rondonópolis, o economista Valdecir Feltrin. Ele deixou esposa e filhos.

Antes da divulgação do áudio o responsabilizando pela própria morte, Medeiros lamentou a perda, lembrando a amizade e a importância de José Roberto Feltrin em sua carreira como parlamentar.

“Hoje perdi um grande amigo, homem de inteligência rara, que nos ajudou tanto no Senado Federal quanto na Câmara dos Deputados. Deixo minhas homenagens à memória do sr. José Roberto Feltrin e o pedido a Deus que conforte amigos e familiares”, escreveu o deputado em 18 de maio.

Depois, Medeiros emitiu nota e lamenta uso político da situação, questionando a veracidade do áudio, que foi confirmada pela família do autor. O parlamentar bolsonarista também pediu empatia.