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Politica Brasil
Quinta - 27 de Abril de 2023 às 08:58

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Os advogados de defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro sustentam que ele postou um vídeo de apoio ao golpe por engano, coitado. Bolsonaro estaria, segundo os advogados, sob efeito de morfina aplicada pelos médicos norte-americanos, informa o Blog do Noblat nesta quinta-feira (27/04).

A mentira, arma de ataque preferencial usada por Bolsonaro nos quatro anos de governo, não serve como defesa. Bolsonaro já havia recebido alta do hospital quando postou o vídeo.

CONJUNTO DA OBRA GOLPISTA

Bolsonaro não pode ser julgado por uma ação pontual. O ex-presidente, líder da extrema-direita brasileira, precisa ser julgado pelo conjunto da sua obra golpista: foram quatro anos, quatro anos, reverberando sua ideia rasa de desprezo pelas instituições democráticas e de estímulo ao golpe. Ideia tornada pública em diversos momentos. A ideia golpista de Bolsonaro, comunicada, repetidamente, moveu ao fim e ao cabo os atos golpistas em Brasília pelos seus seguidores.

A responsabilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro está ligada diretamente ao seu papel de mentor da extrema direita. Ele agiu nos quatro anos de governo na comunicação direta com seus seguidores sendo um guia do extremismo. O líder que estimulou, criou e orientou ideias e ações. Até o silêncio assumido logo depois da derrota na eleição foi uma espécie de senha para a sanha golpista. A omissão, como ensina a fenomenologia social, também é uma forma de ação. A comunicação generalizada e sistemática da desinformação; o discurso de ódio e a aniquilação simbólica dos adversários fazem parte do acervo da memória desta figura pública. O presente emergente convoca um passado que não cessa de se transformar, seja no sentido de tentar negar ou reafirmar responsabilidades pessoais ou de justificar os valores que sustentam a essência e a existência do movimento da extrema direita no Brasil.

Bolsonaro é adorado pelos seguidores que acreditam na sua força de superioridade moral. A propaganda marca, repetidamente, que ele foi um homem escolhido por Deus para comandar a guerra santa contra os inimigos dos valores conservadores e salvar o Brasil do comunismo. Como seus seguidores são submissos, tomados pela fé inquebrantável na escolha de Deus, as palavras de Bolsonaro, quaisquer palavras, tem poder e são inquestionáveis. Por isso, as declarações públicas de Bolsonaro de amor à ditadura militar, à prática da tortura e morte dos adversários nunca pareceram, para os seus seguidores, contrárias ao sentimento cristão.

Completo abaixo as informações e comentários do jornalista Ricardo Noblat sobre o golpe da "morfina legal" usada pelos advogados para tentar salvar a pele do ex-presidente:

Em menos de 48 horas, eles ofereceram duas saídas bizarras para os perrengues que enfrentam o ex-presidente e a ex-primeira dama, ambos às voltas com o escândalo das joias milionárias ofertadas pela ditadura da Arábia Saudita; e no caso específico de Bolsonaro, também com a tentativa de golpe do 8 de janeiro.

As joias de Michelle, no valor de 16,5 milhões de reais, foram apreendidas pela Receita Federal. As de Bolsonaro, que entraram ilegalmente no país, apareceram dentro de um pacote entregue nas mãos de Michelle no Palácio da Alvorada. E o que seu porta-voz disse depois de ela ter dito que desconhecia as joias?

Que o pacote, cujo conteúdo Michelle ignorava, ficou fechado dois ou três dias, abandonado sobre uma pia da cozinha do palácio. Mais tarde foi aberto. Foi quando ela soube das joias presenteadas ao marido. Quanto às joias destinadas a ela, Michelle só ouviu falar por meio da imprensa. Não as pediu, nem recebeu.

A segunda explicação bizarra: foi “sem querer”, e sob efeito de morfina, que Bolsonaro, internado em um hospital americano, postou um vídeo no Facebook de estímulo tardio ao golpe que fracassara. Com a palavra, Paulo Cunha Bueno, um dos advogados que acompanhou o depoimento de Bolsonaro à Polícia Federal:

“Esse vídeo foi postado na página do presidente no Facebook, quando ele tentava transmiti-lo pro seu arquivo de WhatsApp para assistir posteriormente. […] A postagem foi feita de forma equivocada, tanto que pouco tempo depois, duas ou três horas depois, ele foi advertido e imediatamente a retirou”.

Postado em 10 de janeiro, o vídeo questionava a lisura e a confiabilidade das eleições presidenciais de 2022. Acusava Lula de não ter sido eleito de maneira legítima pela população, mas sim por um conluio entre ministros de tribunais superiores. Bolsonaro recuperava-se de uma obstrução intestinal.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) afirmou à época que a conduta de Bolsonaro poderia ser enquadrada no delito de incitação ao crime, previsto no artigo 286 do Código Penal e cometido por quem estimula a prática de infrações. E que tinha “o poder de estimular novas ações” contra os Poderes da República.

Ao incluir Bolsonaro nas investigações em torno do golpe, Alexandre de Moraes destacou um trecho da manifestação da PGR que diz que ele disseminou falsas informações “sobre as instituições judiciárias responsáveis pela organização dos pleitos, alegando que tramavam contra sua reeleição”.

Morfina não combina com obstrução intestinal, segundo médicos consultados pelo O Globo. É um medicamento usado contra diarreia e tem potencial de agravar o quadro de obstrução intestinal de Bolsonaro. Além disso, ela não provoca um quadro de confusão mental, a não ser se ministrada em doses elevadas.

Para a professora de farmacologia e ex-reitora da Universidade Federal de São Paulo, Soraya Smaili, a alegação é “estranha”:

“É uma argumentação ruim porque a morfina causa mais constipação, ao provocar uma diminuição na motilidade gastrointestinal.”

“Em relação ao sistema nervoso central, a morfina causa principalmente sonolência, uma certa depressão. Agora, confusão mental, só numa concentração muito alta”.





Fonte: PNB Online

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