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Terça - 21 de Maio de 2024 às 09:49
Por: Renato Machado e Ricardo Della Coletta/DA FOLHAPRESS

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Vista panorâmica do resort Malai Manso, que fica localizado em Chapada dos Guimarães
Vista panorâmica do resort Malai Manso, que fica localizado em Chapada dos Guimarães

A organização do G20 no Brasil decidiu transferir a reunião de ministros da Agricultura, que inicialmente seria em Cuiabá, para um resort de luxo no interior do estado de Mato Grosso ligado ao ex-senador e ex-ministro Blairo Maggi.

Por fim, o local escolhido facilita a logística, pois é capaz de acomodar todas as delegações, eliminando a necessidade de transporte dos participantes entre hospedagem e evento

O complexo Malai Manso, localizado na Chapada dos Guimarães, tem entre seus sócios André Souza Maggi, filho de Blairo - que também foi governador de Mato Grosso (2003-2010).

Magnata do agronegócio, Blairo foi ministro da Agricultura do governo Michel Temer (MDB), mas voltou a se aproximar de Lula. Ele foi um dos responsáveis por endossar a indicação do atual ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD).

Como ministro da área, coube a Fávaro escolher a cidade que receberá os encontros do G20 do grupo de trabalho da Agricultura. Ele é aliado de Maggi e recebeu apoio do megaempresário na sua campanha para o Senado em 2020.


O Malai Manso deve receber o encontro de ministros da Agricultura previsto para os dias 12 e 13 de setembro.

Serão convidados para a agenda os ministros da Agricultura (ou equivalentes) de todos os países do G20, além da União Europeia e União Africana.

Organizações internacionais e um seleto grupo de países não membros do G20 também têm participado das reuniões.

Fávaro é senador da República licenciado e tem sua base política em Mato Grosso.

De acordo com interlocutores, uma primeira opção pensada pelo Ministério da Agricultura foi realizar os encontros da área em Brasília. Fávaro, no entanto, quis levar a reunião para seu estado sob o argumento de Mato Grosso ser o polo central da produção do agronegócio no país.

No estado, o plano era organizar o evento em Cuiabá, mas houve o diagnóstico de que a capital de Mato Grosso não oferecia as condições logísticas necessárias para receber um evento dessa magnitude.

Procurado pela Folha de S.Paulo, o Ministério da Agricultura afirmou que a mudança para o resort Malai Manso se deu após a constatação de que Cuiabá não teria como receber o evento.

A pasta afirmou que, "após busca minuciosa realizada em toda a cidade, não foi identificado local com estrutura suficiente que atendesse a todas as condições essenciais para um evento deste porte". De acordo com a Agricultura, a decisão ocorreu após avaliação conjunta com outros ministérios.

Mesmo o resort da família Maggi é visto como um desafio, uma vez que o aeroporto mais próximo fica em Cuiabá, a cerca de 90 km. Além do acesso terrestre, o empreendimento conta com heliponto e pista de pouso com condições de receber jatos executivos, segundo o site do hotel.

"Foram levados em consideração alguns requisitos fundamentais para eventos deste porte, sendo um dos principais a segurança, imprescindível em uma ocasião em que estarão reunidos participantes de alto nível de governos diversos", informou o ministério, em nota.

O ministério comandado por Fávaro disse ainda que pesou para a decisão a estrutura do centro de eventos, considerando a quantidade de agendas que vão acontecer à margem das reuniões previstas no calendário do G20, como encontros bilaterais entre os ministros.

"Por fim, o local escolhido facilita a logística, pois é capaz de acomodar todas as delegações, eliminando a necessidade de transporte dos participantes entre hospedagem e evento. O governo federal se encarregará do transporte e escolta das comitivas entre o aeroporto e o local do evento", completou a pasta.

De acordo com o site do Malai Manso, o resort conta com duas alas de apartamentos, bangalôs e casas boutiques. Nos portais de reserva, há anúncios de suítes com diárias a partir de R$ 1.600.

Cada delegação internacional custeará a hospedagem dos seus representantes, disseram à Folha pessoas com conhecimento do assunto.

Procurado, o resort não respondeu a questionamentos feitos pela Folha até a conclusão desta reportagem.

Como a Folha mostrou, ministros do governo Lula estão aproveitando a presidência brasileira no G20 para levar os eventos do bloco para as suas bases eleitorais. Dez membros do primeiro escalão —entre eles Fávaro— vão recepcionar delegações de outros países em seus estados, para reuniões técnicas e ministeriais.

Além de Fávaro, estão na lista os ministros Celso Sabino (Turismo), Alexandre Silveira (Minas e Energia), Camilo Santana (Educação), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), Nísia Trindade (Saúde), Margareth Menezes (Cultura), Juscelino Filho (Comunicações), Fernando Haddad (Fazenda) e Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social).

O Brasil assumiu em dezembro do ano passado a presidência rotativa do G20. O principal evento do fórum será a cúpula de chefes de Estado, em novembro, no Rio de Janeiro. Antes disso, há mais de cem reuniões técnicas e de alto nível realizadas em 15 cidades do país.

O governo Lula vem buscando desde a posse, em janeiro de 2023, uma aproximação com o agronegócio, setor que esteve muito associado com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Alguns empresários de estados mais ligados à atividade agropecuária foram acusados de financiar os atos golpistas de 8 de janeiro daquele ano.

Em um dos momentos de maior tensão, a tradicional feira agropecuária Agrishow, em Ribeirão Preto (SP), chegou a desconvidar Fávaro para a sua abertura porque Bolsonaro já era presença confirmada.

O governo então buscou se aproximar do setor, com medidas de crédito, em particular com o maior Plano Safra da história, que prevê R$ 364 bilhões em crédito.





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