Pesquisa em MT estuda componentes anticâncer no leite materno Avanço da pesquisa pode auxiliar no desenvolvimento de novos tratamentos contra a doença
O leite materno é considerado o alimento mais completo para os recém-nascidos. Além de prevenir doenças respiratórias, problemas renais e doenças cognitivas em crianças, pesquisadores de Mato Grosso exploram os benefícios do aleitamento materno na prevenção de tumores cancerígenos em pessoas que amamentam.
Segundo a biomédica e professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Adenilda Cristina Honório França, coordenadora do projeto de pesquisa que analisa os imunobiológicos derivados do leite humano, o líquido materno possui inúmeros componentes que podem proteger a mama e levar a benefícios a médio e a longo prazo.
Ao passar pela mama da mulher que amamenta, protege a mama e leva aos possíveis benefícios
Dentre os benefícios ocasionados pelo ato da amamentação está a prevenção do desenvolvimento de nódulos cancerígenos na mama. Segundo a pesquisadora, isto é resultado da forte presença de células, proteínas e anticorpos no líquido.
“O leite materno é rico, tem vários componentes imunológicos que, ao passar pela mama da mulher que amamenta, protege a mama e leva aos possíveis benefícios”, diz a pesquisadora.
A relação entre o câncer de mama e a amamentação sempre esteve em discussão entre os pesquisadores. Segundo os dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o ato de amamentar pode reduzir em até 10% as chances de desenvolvimento de câncer ao longo de toda a vida da mulher.
Segundo o último levantamento realizado pelo INCA no ano de 2022, a cada 100 mil mulheres no Brasil, 42 apresentam incidência de câncer de mama. Em Mato Grosso, o número chega a 47,51 para cada 100 mil.
A pesquisa
Pesquisa desenvolvida com leite materno
Há mais de três décadas pesquisando o aleitamento materno, Adenilda França explica que a pesquisa, realizada em parceria com a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Cnpq), tem o objetivo de analisar a relação entre a prevenção do câncer de mama com as inúmeras células e imunobiológicos presentes no líquido materno.
Com base em análises preliminares realizadas em células cancerígenas in vitro, os pesquisadores apontam que os possíveis responsáveis pela diminuição nas incidências de tumores mamários durante a amamentação são os hormônios melatonina e o anticorpo IGA.
“A gente tem uns trabalhos in vitros ainda em avanço. Eles mostram o efeito tanto do anticorpo, que chama de IGA, como da melatonina”
“E o que a gente percebeu no trabalho que fizemos é que a IGA está em alta concentração no leite durante o período diurno, enquanto a melatonina é um hormônio noturno. É como se um trabalhasse durante o dia e o outro trabalhasse a noite”, acrescenta.
Tanto a proteína Imunoglobulina A (IGA), quanto à melatonina são encontradas no corpo humano. Enquanto a IGA é um anticorpo responsável pela proteção do organismo, atuando contra agentes infecciosos, o hormônio melatonina auxilia na indução do sono.
A descoberta produzida pelos pesquisadores é que as altas concentrações dos elementos presentes no líquido materno apresentam atividades antitumorais contra células do câncer de mama.
Tratamento
A ideia é que no futuro a gente consiga mostrar toda essa eficácia e quem sabe ter uma alternativa de tratamento
Segundo a especialista, as pesquisas reforçam a importância do aleitamento tanto para o desenvolvimento das crianças quanto para a saúde das pessoas que amamentam.
Em fase inicial, os estudos são positivos e podem ser a base para a criação de medicamentos de combate a tumores cancerígenos, por meio da aplicação da nanomedicina.
Segmento que busca aplicar doses menores e com o efeito prolongado de medicamentos, essa atuação busca minimizar os efeitos colaterais dos fármacos no organismo.
“A gente tem uma longa jornada de pesquisa, mas estamos avançando. A ideia é que no futuro a gente consiga mostrar toda essa eficácia e quem sabe ter uma alternativa de tratamento. A gente sabe que os tratamentos atuais são bastante agressivos”.
“Então, a gente está na linha [de pesquisa] da hormonoterapia e imunoterapia, que tem avançado muito na questão dos tratamentos dos tumores”, finaliza a pesquisadora.
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