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Ciência/Pesquisa
Sábado - 29 de Junho de 2024 às 11:54
Por: Por Amábile Monteiro, g1 MT

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Ilustração que mostra o Pycnonemosaurus nevesi, dinossauro Chapadense carnívoro, se alimentando de um Sauropode — Foto: Rodolfo Nogueira

Ilustração que mostra o Pycnonemosaurus nevesi, dinossauro Chapadense carnívoro, se alimentando de um Sauropode — Foto: Rodolfo Nogueira

Uma pesquisa realizada pelo Museu de Ciências da Terra, em parceria com o Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), revelou que a única espécie de dinossauro que existiu no Centro-Oeste era de Chapada dos Guimarães, a 65 km de Cuiabá. O Pycnonemosaurus Nevesi, como é chamado, é um dos maiores dinossauros que já existiram no Planeta Terra e viveu durante o período Cretáceo, há cerca de 70 milhões de anos.

Segundo a pesquisa, as principais características da espécie eram:

  • 📏Altura: Com cerca de nove metros de comprimento, ele era maior que um prédio de três andares, já que foi medido da ponta da cauda até o focinho;
  • ⚖️Peso: Quase duas toneladas;
  • 🦷Predador: Possuía crânio robusto, mandíbula forte e dentes afiados e adaptados para cortar carne
  • 🦕Alimentação: Era canibal, comia outros dinossauros.

Segundo o Atlas Virtual da Pré-História, como o animal era canibal, provavelmente, se alimentava de dinossauros muito maiores que ele, como o Maxakalisaurus topai, que media, mais ou menos, 12 metros e habitava em outras regiões do país, que hoje correspondem aos estados do Paraná, Minas Gerais e São Paulo.

“Seus restos fósseis eram compostos apenas por fragmentos, incluindo cinco dentes isolados, partes de sete vértebras caudais, a parte distal de um púbis direito, uma tíbia direita e a articulação distal da fíbula direita. A grande dimensão das vértebras sugere que este é um dos maiores dinossauros que viveu”, diz trecho da pesquisa.

De acordo com o diretor do Museu Nacional do Rio de Janeiro, Alexander Kellner, originalmente, os fósseis foram descobertos por lavradores de uma antiga fazenda do estado que, ao verem que os ossos não eram de gado, entraram em contato com o Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM) na época.

“Um paleontólogo chamado Llewellyn Ivor Price, já falecido, e um dos principais paleontólogos em pesquisas sobre répteis e fósseis, coletou esse material e o deixou no DNPM. Eu, na época, era recém-doutorado e muito curioso. Com a ajuda do meu colega que liderava o setor de paleontologia do DNPM, que estava em transição para o Museu de Ciências da Terra na Urca, conseguimos descrever esse material”, disse.

Ainda segundo o diretor, a descoberta dos fósseis foi de extrema importância para o entendimento da distribuição geográfica dos dinossauros no mundo.

“A descoberta mostrou que, durante o Cretáceo, havia uma fauna de dinossauros carnívoros comum entre Brasil e Argentina. Isso reforça a teoria da deriva continental, que sugere que os continentes estavam unidos em algum momento”, completou.

Importância para a geologia

O professor de geologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Caiubi Kuhn, explicou que há quatro tipos de fósseis invertebrados marinhos do período Devoniano (359 a 416 milhões de anos) existentes em Chapada, sendo:

  • 🐚Braquiópodes: Animais marinhos invertebrados que possuem uma concha dupla;
  • 🦐Trilobitas: Artrópodes extintos que viveram nos oceanos durante a Era Paleozoica;
  • 🦴Tentaculites: Grupo de fósseis com organismos que possuíam conchas cônicas ou tubulares;
  • 🦪Bivalves: Grupo de moluscos com organismos conhecidos como ostras, mexilhões, vieiras e amêijoas.

Ao g1, ele disse que esses fósseis são extremamente importantes para a geologia não só em um contexto nacional, como também mundial, já que são esses fragmentos fossilizados que explicam e comprovam o quanto a vida na Terra evoluiu.

“Fósseis de trilobitas indicam que estamos na era Paleozóica, por exemplo, pois eles viveram nessa era. Já fósseis de dinossauros indicam a era Mesozóica. Esses fósseis ajudam a contar a evolução da vida e a determinar a idade das rochas. O Pycnonemosaurus nevesi é o único material encontrado que representou uma nova espécie no Centro-Oeste brasileiro”, contou.


Réplica dos fósseis do Pycnonemosaurus Nevesi que é exposto no Museu de História Natural de Mato Grosso — Foto: Thiago "Zina" Crepaldi/Acervo MHNMT

Réplica dos fósseis do Pycnonemosaurus Nevesi que é exposto no Museu de História Natural de Mato Grosso — Foto: Thiago "Zina" Crepaldi/Acervo MHNMT

Como os fósseis originais foram coletados pela equipe do Museu de Ciências da Terra, as relíquias geológicas foram encaminhadas até o Rio de Janeiro. No entanto, em Mato Grosso, uma réplica do esqueleto , que possui 2,20 metros de altura e 7 metros de comprimento, foi colocada no Museu de História Natural do estado (MHNMT), localizado em Chapada dos Guimarães.

A réplica, conforme a assessoria de imprensa do museu, faz parte da exposição permanente do MHNMT, que funciona de quarta-feira a domingo, das 8h às 18h. O valor da entrada inteira é R$ 12, enquanto a meia é R$ 6, tendo gratuidade aos domingos e feriados. Para realizar a visitação no local em grupos acima de 10 pessoas é necessário entrar em contato com o museu e fazer um agendamento.


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Vértebra da cauda do dinossauro ao lado de uma vértebra de um jacaré de 3 cm de comprimento

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Vértebra da cauda do dinossauro ao lado de uma vértebra de um jacaré de 3 cm de comprimento — Foto: Museu de Ciências da TerraDente do dinossauro

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Dente do dinossauro — Foto: Museu de Ciências da Terra

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As partes em vermelhos são os fósseis que estão preservados — Foto: Museu de Ciências da Terra

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Foto que retrara uma reconstrução da cabeça do animal — Foto: Maurilio Oliveira

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Pycnonemosaurus caçando em bando — Foto: Museu de Ciências da Terra

🌏Reconhecimento internacional

Além do reconhecimento nacional, os fósseis descobertos em Mato Grosso são objetos de pesquisa para professores e estudantes do mundo todo. Para Caiubi, o impacto de descobertas como a do Pycnonemosaurus nevesi fazem o planeta voltar os olhos para Mato Grosso.

“Os fósseis de Chapada têm sido pesquisados desde o século XIX. As descobertas sempre chamaram a atenção, mas, nos últimos anos, outras regiões do Brasil ganharam mais destaque. Entretanto, trabalhos recentes têm colocado Chapada e outras áreas do Mato Grosso novamente em destaque”, ressaltou.

Mapa com as principais placas tectônicas da Terra — Foto: Reprodução

Mapa com as principais placas tectônicas da Terra — Foto: Reprodução


Ainda segundo ele, a descoberta dos fósseis comprovou que havia uma espécie importante no centro da América do Sul durante o final do período Cretáceo.

“Isso destaca a bacia sedimentar de Chapada e demonstra a diversidade de dinossauros na região. No futuro, novas espécies podem ser descobertas com pesquisas e escavações mais detalhadas”, concluiu.

🦖O ambiente e os dinossauros

Segundo o professor Caiubi, durante a Era Mesozóica, Chapada dos Guimarães era um grande deserto, com uma região formada rochas que hoje são localizadas no Portão do Inferno e na Cidade de Pedra.

Conforme a pesquisa do especialista, na época em que os dinossauros viviam em Mato Grosso o ambiente era semiárido e, por isso, conviviam com pouca disponibilidade de água.

Reconstrução paleoambiental da coexistência de saurópodes e terópodes onde hoje é Chapada dos Guimarães — Foto: Rodolfo Nogueira

Reconstrução paleoambiental da coexistência de saurópodes e terópodes onde hoje é Chapada dos Guimarães — Foto: Rodolfo Nogueira


“Os dinossauros habitavam áreas onde se formavam vales e riachos, conhecidos na geologia como leques aluviais. Esses ambientes eram semelhantes a vales onde rios distribuíam sedimentos, alternando entre deposição de material de um lado para o outro”, contextualizou.

A pesquisa ainda ressaltou que os dinossauros viviam entre tartarugas e crocodilos, mesmo com o ambiente sendo bastante seco. Com isso, as espécies tinham que viver com pouco fluxo de água e tempestades intensas.

“A descoberta desses fósseis permite entender melhor o ambiente em que os dinossauros viviam, incluindo a quantidade de água e as condições climáticas. Juntar as informações das rochas com as dos fósseis ajuda a compreender a ecologia daquele local”, relatou Caiubi.





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