Em MT, mulheres e negros ganham menos e enfrentam mais desemprego Pretos e pardos têm desemprego maior e renda 30% inferior à dos brancos; mulheres ganham 25,6% a menos que os homens no estado.
A nova Síntese de Indicadores Sociais (SIS 2025) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que Mato Grosso encerrou 2024 com uma das menores taxas de desocupação do país, crescimento expressivo na renda domiciliar e melhora em indicadores educacionais. Ao mesmo tempo, mantém desigualdades salariais significativas, que seguem acima da média nacional.
O estado registrou taxa de 2,7% de desocupação, redução de 0,7 ponto percentual em relação a 2023, uma das menores do país. A queda foi puxada pela expansão do trabalho formal, que alcançou 64,2% dos ocupados, alta de 1,2 pontos se comparado ao ano anterior.
A população preta ou parda em Mato Grosso enfrenta taxa de desocupação de 2,9%, acima dos 2,1% registrados entre a população branca. A desigualdade também aparece com força na renda: enquanto pessoas brancas têm rendimento médio de R$ 4.297, pretos e pardos recebem, em média, R$ 3.006, uma diferença de 30,1% a menos, mesmo em um cenário de crescimento econômico e mercado de trabalho aquecido.
Desigualdade na desocupação por gênero e raça
Mesmo com um mercado aquecido, parte da população continua enfrentando barreiras maiores para conseguir trabalho.
HOMENSTaxa de desocupação
1,9%
Os homens registram a menor taxa entre os grupos analisados.
MULHERESTaxa de desocupação
3,7%
As mulheres enfrentam uma taxa quase duas vezes maior que a dos homens.
BRANCOSTaxa de desocupação
2,1%
A taxa entre brancos segue abaixo da média geral do estado.
PRETOS E PARDOSTaxa de desocupação
2,9%
A população preta ou parda enfrenta a desocupação mais elevada entre os grupos raciais.
Dados: IBGE – Síntese de Indicadores Sociais 2025 (desocupação em MT, 2024).Renda cresce mais que a média nacional
Mato Grosso registrou rendimento domiciliar per capita de R$ 2.245 em 2024, crescimento de 9,9%, mais que o dobro do avanço brasileiro de 4,9%. O rendimento médio do trabalho no estado ficou em R$ 3.405, enquanto em Cuiabá chegou a R$ 3.800.
Disparidades salariais em Mato Grosso
A Síntese de Indicadores Sociais mostra diferenças marcantes de renda entre raça e gênero, mesmo com o mercado de trabalho aquecido.
RAÇA/CORRenda média por raça
Pessoas brancasR$ 4.297Pretos e pardosR$ 3.006
A renda média de pessoas pretas ou pardas é 30,1% menor do que a de pessoas brancas, revelando desigualdade racial persistente.
GÊNERORenda média dos homens
HomensR$ 3.823
Entre os homens, a renda média do trabalho é superior à média geral do estado, concentrando os maiores salários.
GÊNERORenda média das mulheres
MulheresR$ 2.843
As mulheres recebem, em média, 25,6% a menos que os homens, evidenciando uma diferença de gênero significativa nos salários.
Fonte: IBGE – Síntese de Indicadores Sociais 2025 (rendimento médio do trabalho em Mato Grosso, 2024).
Educação melhora
Em 2024, a frequência de crianças de 0 a 3 anos foi de 35,6%, enquanto no grupo de 4 a 5 anos chegou a 94,2%, maior proporção entre os estados do Centro-Oeste. Em seguida, aparecem o Distrito Federal (92,7%), Mato Grosso do Sul (91,1%) e Goiás (90,1%). Entre crianças de 6 a 10 anos, a taxa foi de 99,7%, e no grupo de 11 a 14 anos alcançou 99,5%.
Os indicadores educacionais mostram outros avanços importantes:
- 94,6% dos jovens de 17 a 19 anos concluíram o ensino fundamental.
- 71,1% dos jovens de 20 a 22 anos têm ensino médio completo.
- Apenas 4,6% dos adultos (25+) concluíram o ensino superior, e 6,5% não têm instrução.
Indicadores educacionais — Mato Grosso
O estado registra avanços na conclusão das etapas de ensino, mas gaps permanecem entre adultos.
FUNDAMENTALConclusão do ensino fundamental
Jovens de 17 a 19 anos94,6%A taxa de conclusão do fundamental beira a universalização entre jovens, mostrando forte avanço na base educacional.
ENSINO MÉDIOConclusão do ensino médio
Jovens de 20 a 22 anos71,1%
Mais de 7 em cada 10 jovens completaram o ensino médio — condição chave para acesso ao trabalho e ensino superior.
ADULTOSEscolaridade entre adultos
Superior completo (25+)4,6%
Apenas 4,6% dos adultos concluíram o ensino superior, enquanto 6,5% ainda não possuem instrução — indicando desigualdade acumulada.
Fonte: IBGE – Síntese de Indicadores Sociais 2025 (dados de 2024).A distribuição dos estudantes entre as redes pública e privada revela contrastes importantes no acesso à educação em Mato Grosso. Na educação infantil, 89,5% das crianças estão matriculadas na rede pública, participação que se mantém elevada no ensino fundamental (88,7%) e cresce ainda mais no ensino médio (92,6%).
Já no ensino superior, ocorre o movimento inverso: a rede privada concentra 66,3% dos estudantes, mostrando maior dependência do setor particular nessa etapa.
Os indicadores de aprendizagem também apresentam avanços. A taxa de analfabetismo entre pessoas de 15 anos ou mais caiu para 3,8% em 2024, uma redução de 0,7 ponto percentual em relação a 2023. Entre jovens de 18 a 29 anos, 73,2% já têm pelo menos 12 anos de estudo, proporção significativamente maior que os 62,5% registrados em 2016, evidenciando ganhos consistentes na trajetória escolar da população.
Concentração de renda cai, mas ainda é alta na capital
O estado registrou Índice de Gini de 0,442, caindo em relação aos 0,453 de 2023, um dos menores do país. No entanto, em Cuiabá o índice chega a 0,510, evidenciando maior desigualdade na capital.
O Índice de Palma, que compara a renda dos 10% mais ricos com a dos 40% mais pobres, também preocupa:
- MT: 2,34
- Cuiabá: 3,28
Pobreza atinge 13,1% da população
Segundo o IBGE, 1,6% vive em extrema pobreza (US$ 2,15/dia) e 13,1% está abaixo da linha de US$ 6,85/dia. Na região metropolitana de Cuiabá, os índices sobem para 1,9% e 14,4%, respectivamente. O que explica o “paradoxo” do estado, segundo o IBGE.
Três movimentos que explicam o cenário de Mato Grosso
Os indicadores mostram que o estado avança em emprego e renda, mas ainda enfrenta desigualdades estruturais profundas.
1ECONOMIACrescimento e formalização
Emprego e renda sobem com o avanço de setores-chave.
O agronegócio, a indústria e os serviços puxam a geração de postos formais e aumentam os rendimentos. Esse dinamismo ajuda a reduzir a desocupação e elevar a renda média das famílias mato-grossenses.
2EDUCAÇÃO E ACESSOMelhora educacional com desigualdades
Mais estudo não garante igualdade de oportunidades.
A educação avança, mas mulheres e pessoas pretas ou pardas seguem concentradas em ocupações com remuneração mais baixa. A escolarização cresce, porém não se converte, na mesma proporção, em acesso a cargos melhor pagos para todos os grupos sociais.
3ESTRUTURA SOCIALDesigualdade que resiste
Renda em alta, mas concentração ainda forte.
A desigualdade permanece porque não depende apenas da renda média, e sim da estrutura social. Mesmo com ganhos econômicos, a distribuição segue concentrada, sobretudo nos centros urbanos, onde grupos de maior renda se beneficiam mais do ciclo de crescimento.
Leitura baseada na Síntese de Indicadores Sociais, que analisa emprego, renda, educação e desigualdades em Mato Grosso.

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