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Agronegócios
Quinta - 05 de Abril de 2012 às 11:22

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O mogno africano promete mexer com o mercado de madeiras nobres no Brasil. Ela cresce rápido e dizem que faz móvel de qualidade. A espécie importada está ganhando espaço entre os agricultores. Houve um tempo em que mogno no Brasil era sinônimo de madeira boa e nobre. Não faz muito tempo, mogno virou caso de polícia. Em dezembro de 2002, madeireiros derrubaram centenas de milhares de árvores de mogno, que seriam vendidas por 300 milhões de reais. Com essa exploração predatória, os estoques de mogno nativo se tornaram mais raros na Floresta Amazônica e seu corte foi proibido. De uns tempos pra cá, a palavra mogno se transformou quase que em uma referência de cor. Móveis feitos de pinus, mas pintados na cor do mogno. O legítimo castanho-avermelhado que fez a fama da árvore não se encontra mais. No entanto, nem tudo está perdido, porque está ganhando força no Brasil outro tipo de mogno que, sem mexer nas nossas florestas, pode acabar com a carência dos amantes dessa madeira nobre. Na sede da Embrapa Amazônia-Oriental, em Belém, no Pará, que começa a história do mogno africano no Brasil. O agrônomo, Urano de Carvalho, conta que as árvores frondosas que ficam no jardim central da instituição foram os primeiros exemplares da espécie plantados no Brasil. As sementes foram trazidas por outro pesquisador da Embrapa em 1976. “O mogno africano é da mesma família do mogno brasileiro, da andirobeira, do cedro, da família meliaceae, porém de gêneros diferentes, com o nome de mogno africano, na verdade, no mercado internacional, são conhecidas quatro espécies”, explica o agrônomo. Dessas quatro espécies, a que anda dando o que falar, aqui no Brasil, é a Khaya ivorensis, e muito graças ao sucesso dela na Embrapa. “Da base dela até o fuste, ou seja, o primeiro galho, ela tem 13 metros de altura, agora o diâmetro também é algo fabuloso, fica até difícil de medir, ela mede 130 cm de diâmetro na altura do peito. É uma taxa de crescimento, de incremento médio anual em diâmetro de quase cinco cm. É muito mais, não resta dúvida. Eu diria que o mogno africano cresce cerca de 30% a mais”, declara. Além de crescer mais rápido, o mogno africano no Brasil não sofre com a broca das ponteiras, uma mariposa que ataca o mogno brasileiro e que, até hoje, torna inviável o seu cultivo comercial. Já existem vários plantios da espécie africana no Brasil, mas por enquanto, eles só se destinam à produção de sementes, por causa do seu alto valor comercial: o preço varia de R$ 1.200 a três mil reais o quilo. Colher os frutos que contêm as sementes do mogno africano não é coisa mais fácil do mundo. Esses frutos ficam na ponta dos galhos, na periferia da copa que pode chegar a 40 metros de altura. Na sede da Embrapa eles ainda contam com um guindaste que ajuda a fazer em um dia o trabalho que bons escaladores levariam até vinte dias pra fazer em plantios convencionais. Se não forem colhidos fechados, os frutos se abrem na árvore e as sementes voam com o vento. “Se colhe fechado e depois de três a quatro dias no sol ele começa abrir. Cada fruto tem entre 60 e 70 sementes”, explica o agrônomo. Para fazer a muda, Urano apenas deita a semente em um saquinho com oitenta por cento de solo e vinte por cento de esterco. “Cobriu com a terra meio centímetro e está pronto. É uma questão de esperar. Com cerca de 15 a 30 dias as plantinhas começam a aparecer no saquinho. Com quatro meses depois da semeadura, a muda está na condição de ser plantada”, indica. A madeira do mogno africano é semelhante à do brasileiro e por vir de fora, sua exploração não sofre restrição legal. Para conhecer suas qualidades, o Globo Rural foi até Minas Gerais. O engenheiro florestal, Antônio Lelis Pinheiro, professor da Universidade Federal de Viçosa, mantém algumas árvores no campus para fins de pesquisa, junto com outras 1.800 espécies de do mundo todo. O professor conseguiu junto ao Instituto Estadual de Florestas uma autorização para cortar, transportar e serrar algumas árvores de mogno africano que estavam com aproximadamente 20 anos e nós vamos aproveitar essa ocasião pra ver a parte interna dessa madeira. “A madeira tem uma coloração castanho-avermelhada, mais tendendo a avermelhada, e aí ela vai se parecer muito com o mogno nativo. Uma outra característica interessante é que ela tem um peso, uma densidade muito boa pra fabricação de móveis, ela superou bastante as expectativas”, explica. Em Piraropa, região semi-árida, à beira do Rio São Francisco, foram plantadas as primeiras árvores de mogno africano fora da região amazônica. Antônio Serrati é produtor de uva irrigada e em 2005 resolveu diversificar. Para fazer uma árvore crescer na terra seca, ele teve que inventar. “Não tinha informação nenhuma, então comecei no escuro. Porém, eu fui o primeiro a plantar mogno irrigado”. Serrati tem mogno africano em 10 de seus 30 hectares. Para arcar com os custos de uma floresta irrigada, nos primeiros anos, consorciou o plantio das árvores com o de uva. “Quando você está jogando adubo pra uva está servindo para o mogno, você está irrigando a uva tá servindo pro mogno, você tá fazendo os tratos culturais dentro da uva, você tá observando se suas árvores têm algum problema de doença, praga e assim você vai levando. Essa floresta aqui tem três meses que eu tirei a uva daqui. Então até agora eu não gastei, ele ficou aqui intruso no meio dessa uva”, explica. O produtor espera que esse mogno mais velho agora se desenvolva sozinho. Até a irrigação ele decidiu cortar. “Seguramos a água para o sistema radicular aprofundar e viver só da água da chuva de agora pra frente”, afirma. As pragas do mogno africano, por enquanto, são as formigas e as abelhas arapuá, que atacam árvores jovens. Com relação às doenças, o que se tem no Brasil é o cancro, que causa lesões na casca do tronco. Não chega a estragar a madeira, mas com o passar dos anos, compromete muito o transporte da seiva, prejudicando a árvore. Ao menor sinal da doença, é preciso retirar a parte machucada e aplicar um fungicida a base de cobre. Serrati diz que o custo de implantação de cada hectare de mogno, aproveitando toda a estrutura da uva, girou em torno de seis mil reais. A expectativa do agricultor é começar a serrar suas árvores quando elas estiverem com doze anos. Vale lembrar que se tratando de mogno africano tudo é experimental. Não existe ainda um sistema de produção definido. No município de Piumhi, também em Minas Gerais, onde chove mais ao longo do ano, o cafeicultor Marcos Soares Rezende está conseguindo bons resultados com uma plantação de sequeiro de 25 hectares, cuidando do mogno como se ele fosse café. “Porque o café é muito exigente nos tratos culturais ao longo do ano, então nós estamos fazendo a mesma coisa”, explica Marcos. Controle do mato, quatro adubações anuais, quatro pulverizações de micronutrientes, calcário, são muitos os cuidados. Todos os anos, o cafeicultor contrata uma equipe da Universidade Federal de Lavras para medir suas árvores, que estão com quatro anos. O crescimento do mogno aqui já é equivalente ao de plantios irrigados e bem superior ao de cultivos mais antigos existentes em outros países. “Quando eles mostram que o nosso trabalho está acima do que a literatura científica tem publicado, não precisa nem falar que realmente tem dado certo”, diz o agricultor. Outra técnica para melhor o desempenho do plantio é aplicação de uma super dosagem de gesso. Quando as árvores estavam com aproximadamente quatro meses, eles colocaram três quilos de gesso por planta. “Como nós vimos que no café deu muito certo, na nossa região o uso é consolidado, e nós estávamos começando uma plantação de mogno de sequeiro sem irrigação eu resolvi que teria que usar a mesma técnica que usa no café”, conta Marcos. “O objetivo é acelerar o aprofundamento deste sistema radicular. A planta quando no início, ela tem sistema radicular raso, então a gente tem que fazer com que ela busque água em profundidade pra tá explorando um volume maior de solo. Ele melhora também a estrutura física do solo”, explica Joyce Cristina Costa, agrônoma do café. Agora, Marcos faz planos para se tornar um grande produtor de madeira nobre, até já preparou a terra. “Tenho planos de plantar nessa fazenda em torno de 400 hectares de mogno”, afirma. Em Pirapora, os sócios Ricardo Tavares e Edmundo Coutinho já atingiram essa meta sonhada pelo Marcos. “Em princípio, eu falei: ‘o sujeito vai mexer com um negócio que vai ter retorno daqui a não sei quantos anos’. Mas fomos conversando, viajando, pesquisando, olhando, Definimos que a gente ia plantar 50 hectares. Aí conversa vai, conversa vem, vamos passar pra 250. Depois que nós fomos para o Pará, que andamos na Embrapa, aí na viagem de volta nós resolvemos dobrar de 250 pra 500 hectares. Ontem ele já estava arrependido de não passar pra 800 hectares”, conta Coutinho. A fazenda já tem uma das maiores áreas plantadas com mogno africano do país. Algumas árvores estão com dois anos e meio e o primeiro corte está previsto para 2019. Para cumprir esse prazo, o tratamento é cuidadoso. Depois de muito pesquisar, o pessoal optou pelo espaçamento seis por seis. Por enquanto, nada de pragas ou doenças. Cada planta recebe quarenta litros de água a cada quatro dias, por gotejamento. O agrônomo da fazenda João Emílio Duarte explica que, junto com a água de irrigação, vem também o adubo. “Áreas irrigadas produzem mais, e aqui a gente tem um diferencial que é o tamanho de dia e períodos quentes do ano, então a gente tem calor, água e a adubação em dia, essa planta aqui ela tem mais potencial, pelo fato de ser irrigada, de produzir mais madeira”, explica o agrônomo. As técnicas de cultivo vão se aprimorando, mas para aumentar a área, a fazenda esbarrou em uma limitação fundamental. Como todo mundo que quer produzir mogno africano hoje, o pessoal da fazenda também tem dificuldade para conseguir sementes da espécie. Eles resolveram o problema criando um jardim clonal, que possibilita a produção de mudas a partir das melhores árvores da propriedade. A muda clonada resolve o problema da falta de semente e também garante plantios uniformes, com melhor rendimento. O negócio é tão interessante que Ricardo e Edmundo já estão trabalhando para aumentar a produção do viveiro. “Hoje talvez a gente produza cinco mil mudas por mês, e a gente vai ampliar bem esse volume, talvez 20 mil mudas por mês, que vai conseguir atender à nossa necessidade e depois disso começar a gerar excedente pra ser comercializado”, diz Coutinho. “Nós pretendemos cortar, por hectare, 320 metros cúbicos de madeira. No 11º ano nós vamos cortar metade da lavoura, no 16º ano vamos cortar os outros 50% da lavoura. Calculamos que nós vamos receber por hectare cerca de R$ 700 mil líquido”, declara Tavares. Esse rendimento, equivalente a 45 mil reais por hectare/ano, é uma estimativa baseada no preço atual do metro cúbico serrado de madeira nobre. Mas não há como saber se esse mercado ficará assim daqui a 12, 15anos. Por isso, os interessados precisam ter muita cautela: o investimento é alto e de longo prazo. A aposta dos produtores pioneiros do mogno africano é que, no futuro, quase toda a madeira consumida pelo homem deve vir de áreas cultivadas, e que as florestas nativas serão cada vez mais protegidas. “A partir de que mais produtores, mais regiões, mais pessoa vão plantando, num futuro próximo vai ter uma oferta significativa de madeira, então, isso é bom pro mercado e é bom pra floresta nativa que vão parar de ser tão explorada e tão judiada com estão sendo hoje”, declara Coutinho. Estima-se que hoje existam um milhão de árvores de mogno africano plantadas no Brasil e pelo menos 400 produtores investindo na cultura.






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