Repórter News - www.reporternews.com.br
Ciência/Pesquisa
Terça - 15 de Outubro de 2013 às 08:37

    Imprimir


Nasa
Imagem feita pela sonda Cassini durante a sua aproximação de Saturno em 2002: planeta gigante gasoso, assim como Júpiter
Imagem feita pela sonda Cassini durante a sua aproximação de Saturno em 2002: planeta gigante gasoso, assim como Júpiter

Júpiter e Saturno, os dois planetas gigantes gasosos do Sistema Solar, podem ter tempestades de granizo feito com diamantes que poderiam ser explorados no futuro. A polêmica ideia, apresentada por uma dupla de cientistas durante reunião da Divisão de Ciências Planetárias da Sociedade Astronômica Americana na semana passada, tem como base observações de Saturno feitas pela sonda Cassini, da Nasa, recém-calculadas estimativas de pressão e temperatura no interior da atmosfera dos dois planetas e descobertas sobre o comportamento do carbono, matéria-prima dos diamantes, sob condições ambientais extremas, mas já é alvo de críticas de outros especialistas.

Segundo o cenário visualizado por Mona Delitsky, da empresa de consultoria California Specialty Engineering, e Kevin Baines, cientista planetário da Universidade de Wisconsin-Madison, ambas nos EUA, primeiro os raios que cortam as camadas mais altas das atmosferas dos dois planetas quebram as moléculas de metano (CH) nelas contidas, liberando os átomos de carbono. Estes, por sua vez, agrupam-se e formam uma espécie de fuligem, que a Cassini já teria detectado nas nuvens de tempestade de Saturno.

Ainda de acordo com a dupla, à medida que esta fuligem começa a “afundar” na atmosfera dos dois gigantes, ela passa a ser submetida a cada vez maiores pressão e temperatura, sendo transformada primeiro em pedras de grafite até que, ao atingir uma profundidade de 6 mil quilômetros, no caso de Saturno, torna-se cristais de diamante. Este granizo precioso continuaria então a “cair” por mais 30 mil quilômetros até a pressão e temperatura ficarem tão infernais que mesmo os diamantes derretem, virando uma “chuva” de carbono líquido que poderia se acumular em “oceanos” onde flutuariam “diamantebergs”.

— Sabemos a temperatura limite para o diamante permanecer sólido (cerca de 8 mil graus Celsius), acima da qual ele derrete. E agora também temos estimativas mais precisas da pressão e temperatura no interior de Júpiter e Saturno. Esses dados juntos nos mostram pela primeira vez que diamantes sólidos podem existir em grandes regiões verticais em ambos planetas — disse Baines ao site da revista “National Geographic”, calculando que só Saturno pode guardar cerca de 10 milhões de toneladas da pedra preciosa produzidas a uma taxa de mil toneladas anuais da maneira que descreveu com Delitsky, compreendendo desde diamantes com menos de um milímetro a pedaços com mais de 10 centímetros de diâmetro.

Outros cientistas, no entanto, apontam falhas graves no cenário traçado pela dupla americana. Entre eles está inclusive Nadine Nettelmann, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz e uma das autoras dos estudos usados por ambos sobre as condições ambientais no interior das atmosferas de Júpiter e Saturno, que têm muito pouco metano na sua composição, 0,2% e 0,5%, respectivamente.

— Baines e Delitsky consideraram os dados para carbono puro no lugar de uma mistura de carbono, hidrogênio e hélio — lembrou Nadine ao site da “BBC”. — Não podemos excluir o cenário proposto (de “chuvas” de diamantes em Saturno e Júpiter), mas simplesmente não temos dados sobre as misturas nos planetas. Assim, não sabemos se formação de diamantes realmente ocorre.

Opinião semelhante tem David Stevenson, cientista planetário do Instituto de Tecnologia da Califórnia. Segundo ele, a dupla não levou em conta princípios básicos da termodinâmica ao lidar com um sistema em que o carbono que formaria os diamantes está tão diluído em atmosferas compostas basicamente de hidrogênio e hélio que o elemento permaneceria misturado a eles e não se agregaria.

— É a mesma termodinâmica que explica por que uma pequena quantidade de açúcar ou sal dissolve-se em grandes quantidades de água, especialmente a altas temperaturas. Mesmo que a fuligem se formasse, ela simplesmente se dissolveria rapidamente à medida que afundasse no interior dos planetas — destacou Stevenson em entrevista ao site da revista “Nature”.





Fonte: O Globo

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://www.reporternews.com.br/noticia/6899/visualizar/