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Internacional
Quarta - 02 de Novembro de 2011 às 06:48

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Em declarações na noite desta terça-feira, o primeiro-ministro da Grécia, George Papandreu, indicou que o país deve questionar a população sobre sua permanência na zona do euro no polêmico referendo popular que será realizado em janeiro de 2012.

"O referendo será um mandato claro e uma mensagem clara dentro e fora da Grécia sobre nossa trajetória europeia e nossa participação no euro. Ninguém poderá ter dúvidas sobre nosso caminho dentro [da zona] do euro", disse o premiê de acordo com um comunicado divulgado pelo gabinete.

A agência de notícias Bloomberg informou em seu site que, de acordo com fontes do governo grego, o referendo deve incluir uma questão sobre a permanência do país na zona do euro.

Papandreu disse ainda que os parceiros da Grécia devem apoiar as políticas do país e exortou a reunião do G20 nesta semana em Cannes, no sul da França, a "garantir que a democracia esteja acima dos apetites do mercado".

O anúncio do premiê, de que vai submeter o pacote de resgate a um referendo popular, tornado público nesta segunda-feira (31), ameaçou intensificar a crise da zona do euro, gerou críticas de líderes europeus, derrubou as principais bolsas e levou a oposição pedir a saída de Papandreu nesta terça-feira.

Os líderes da zona do euro concordaram na semana passada em conceder a Atenas um segundo pacote, de € 130 bilhões de euros, e um corte de 50% em sua dívida. Em contrapartida, a Grécia deve se comprometer em continuar com uma política de cortes de gastos como privatizações, redução de empregos públicos e cortes salariais.

Papandreou disse que precisava de maior apoio político para as medidas fiscais e as reformas estruturais exigidas pelos credores internacionais. "A vontade do povo grego será imposta", disse o premiê ante o grupo de parlamentares socialistas, ao anunciar que submeteria o pacote a um referendo popular.

O ministro do Interior grego, Haris Kastanidis, indicou que o plebiscito ocorreria na segunda semana de janeiro.

Segundo uma pesquisa feita no sábado pela empresa Kappa em Atenas, 60% dos entrevistados é contra o acordo fechado em Bruxelas com os parceiros europeus da Grécia.

A decisão grega provoca novos temores de divisão na União Europeia com uma eventual saída de Atenas do bloco, caso seus habitantes rejeitem a solução proposta por Bruxelas. Os bancos seriam as primeiras vítimas.

A incerteza gerada pelo anúncio do referendo fez com que as bolsas de valores europeias anulassem boa parte dos ganhos de outubro nesta terça-feira, no pior dia em mais de um mês.

Uma fonte do governo grego afirmou à Reuters nesta terça que George Papandreou não informou seu ministro das Finanças, Evangelos Venizelos, antes de anunciar o referendo.

"Venizelos não sabia nada sobre o referendo", afirmou a fonte, em condição de anonimato. "Ele disse a Papandreou que ele deveria informar os colegas estrangeiros, e uma carta foi elaborada no começo da manhã."

Venizelos, que lidera as negociações com a União Europeia, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e os bancos sobre o resgate do país e acordos de troca de dívida, falou por telefone com altas autoridades nesta terça-feira, um dia após o anúncio do referendo, disse uma autoridade do Ministério das Finanças.

REPERCUSSÃO

O anúncio sobre o plebiscito despertou críticas de chefes de Estado europeus, especialmente da Alemanha, que acredita que Atenas esteja tentando se esquivar do acordo.

Um líder da coalizão da chanceler alemã, Angela Merkel, disse nesta terça estar "irritado" com o anúncio de Papandreou. "Isso soa como alguém que está tentando se esquivar do que foi acordado --uma coisa estranha a se fazer", disse Rainer Bruederle, líder parlamentar do Partido Liberal Democrata FDP).

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, convocou para esta tarde uma reunião interministerial sobre a decisão do governo grego de condicionar a um referendo a aplicação do plano de resgate.

Em seguida, Sarkozy teve uma conversa telefônica com a chanceler alemã, Angela Merkel. Após o telefonema, eles divulgaram uma nota em que afirmam que a aplicação do acordo alcançado na última cúpula da zona do euro com relação ao resgate financeiro da Grécia "é mais necessário do que nunca".

"França e Alemanha estão convencidos de que o plano vai permitir à Grécia readquirir um crescimento sustentável", indicaram os dois governantes ao se referirem ao mencionado plano estipulado pela zona do euro para a Grécia.

O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, criticou nesta terça o referendo anunciado por Atenas e afirmou que se a iniciativa for recusada, será um caos.

"Se for aprovado (o acordo), poderá ser um sinal positivo para as pessoas. Se fracassar (e a iniciativa for rejeitada), será um caos", disse.

Alguns líderes, entretanto, pediram precaução, já que a decisão sobre a consulta popular ainda é incerta.

A Comissão Europeia afirmou que ainda não havia sido formalmente notificada sobre a decisão do governo grego. "O que está nos contendo é que os gregos não nos informaram formalmente (sobre o referendo)", disse uma porta-voz da comissão.

"Até nós termos, por exemplo, uma carta ou algo parecido do primeiro-ministro grego, eu não esperaria que nós reagíssemos", acrescentou.

Os presidentes da União Europeia, Herman Van Rompuy, e da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, afirmaram que têm "total confiança" de que a Grécia cumprirá os compromissos com a zona do euro, apesar do anúncio sobre o referendo.

"Estamos a par da intenção das autoridades gregas de realizar um referendo. Estamos convencidos de que este acordo é o melhor para a Grécia. Estamos totalmente confiantes no fato de que a Grécia cumprirá seus compromissos com a zona do euro e a comunidade internacional", afirmam em um comunicado.

OPOSIÇÃO

Na segunda-feira, o premiê grego também anunciou que submeterá a gestão de seu governo a um voto de confiança do Parlamento. Para ser aprovado, ele precisa do apoio de 151 dos 300 deputados.

Nesta terça, a maioria do governo socialista caiu de 153 para 152 representantes, após a deserção da deputada Milena Apostolaki em protesto contra o anunciado referendo, o qual disse se tratar de um "procedimento que cria divisão" na Grécia.

Apostolaki, que também é ex-secretária de Estado para o Desenvolvimento, já havia anunciado que abandonaria a bancada socialista, mas que manteria o mandato.

O líder da oposição na Grécia, o conservador Antonis Samaras, da Nova Democracia (ND), pediu nesta terça a convocação de eleições legislativas antecipadas, após decisão do governo socialista de realizar um referendo sobre o acordo de resgate do país.

"Não se trata apenas de um pedido de eleições antecipadas, mas de uma necessidade nacional, e cada pessoa deve assumir suas responsabilidades", disse a jornalistas o líder da oposição depois de uma reunião com o presidente Karolos Papoulias.

As próximas eleições estão previstas para outubro de 2013.






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