O delator do suposto esquema de corrupção no Ministério do Esporte, o policial militar João Dias Ferreira, entregou nesta quarta-feira à Superintendência da Polícia Federal (PF) em Brasília parte do que ele alega serem provas que apontariam a participação do chefe da pasta, Orlando Silva (PCdoB), e de outros integrantes da cúpula do ministério nos desvios. De acordo com o PM, o áudio entregue hoje à PF levará a "nocaute" o ministro, que tem negado com veemência as acusações e se referido a Ferreira com adjetivos como "bandido", "criminoso" e "vil".
Em sete horas de depoimento, Ferreira, que milita pelo partido de Silva, disse ter confirmado as acusações feitas à reportagem da revista Veja e também ter apresentado novas informações, que estão em segredo de Justiça.
Na próxima segunda-feira, o PM volta a prestar depoimento na PF com novos áudios, incluindo um que apontaria a participação no esquema do secretário executivo da pasta em 2008, Watson Ribeiro, acusado de ter coordenado uma reunião às escondidas no ministério para tratar das irregularidades.
Segundo relatou Ferreira, na próxima semana serão convocados para falar cerca de 15 pessoas, ligadas a três entidades. Essas pessoas seriam testemunhas que poderiam comprovar o esquema apresentado pelo policial. Indagados sobre o teor do depoimento, os delegados da Polícia Federal Jackson Rosales e Fernando Souza Oliveira preferiram não se pronunciar e alegaram segredo de justiça.
No depoimento, Ferreira também teria apresentado evidências de que é inocente em relação às denúncias a que ele responde no inquérito que surgiu com a operação Shaolin. Ele lideraria um grupo que desviou cerca de R$ 3 milhões de verbas da pasta por meio de entidades sociais conveniadas com o Programa Segundo Tempo.
Ferreira aproveitou a ida à Polícia Federal para formalizar o pedido de proteção especial, anunciado ontem a líderes da oposição. O PM nega, no entanto, que esteja disposto a participar de um programa de delação premiada. "Não tem acordo de delação nem agora, nem nunca", disse.
Defesa
João Dias Ferreira disse que apresentou hoje documentos que apontam processos de prestação de contas em aberto e outros papéis que apontam fraudes na contratação de ONGs durante o programa Segundo Tempo. Em entrevista coletiva, o policial apresentou dois áudios que não correm em segredo de justiça. Curiosamente, essas provas nada tem a ver com o ministério ou com Orlando Silva. Tirados do contexto, ambos teriam sido gravados em 2008 e mostram Michael Vieira da Silva, ex-funcionário do Instituto Novo Horizonte, sendo ameaçado e, segundo Ferreira, coagido a testemunhar contra ele durante a Operação Shaolin.
Não é a primeira vez que Vieira aparece em denúncias contra o programa Segundo Tempo. No ano passado, durante campanha eleitoral da candidata Weslian Roriz (que assumiu a corrida eleitoral após seu marido, Joaquim Roriz, ser barrado pela lei da Ficha Limpa), Michael Vieira havia apontato do PCdoB como operador de um esquema de corrupção no programa esportivo, na época comandado pelo então ministro Agnelo Queiroz. Weslian era a principal candidata de Agnelo na disputa pelo governo do Distrito Federal.
As acusações contra Orlando Silva
Reportagem da revista Veja de outubro afirmou que o ministro do Esporte, Orlando Silva (PCdoB), lideraria um esquema de corrupção na pasta que pode ter desviado mais de R$ 40 milhões em oito anos. Segundo o delator, o policial militar e militante do partido João Dias Ferreira, organizações não-governamentais (ONGs) recebiam verbas mediante o pagamento de uma taxa que podia chegar a 20% do valor dos convênios. Orlando teria recebido, dentro da garagem do ministério, uma caixa de papelão cheia de cédulas de R$ 50 e R$ 100 provenientes dos desvios que envolveriam o programa Segundo Tempo - iniciativa de promoção de práticas esportivas voltada a jovens expostos a riscos sociais.
João Dias Ferreira foi um dos cinco presos no ano passado pela polícia de Brasília sob acusação de participar dos desvios. Investigações passadas apontavam diversos membros do PCdoB como protagonistas das irregularidades, na época da Operação Shaolin, mas é a primeira vez que o nome do ministro é mencionado por um dos suspeitos. Ferreira, por meio da Associação João Dias de Kung Fu e da Federação Brasiliense de Kung Fu, firmou dois convênios, em 2005 e 2006, com o Ministério do Esporte.
O ministro nega as acusações e afirmou não haver provas contra ele, atribuindo as denúncias a um processo que corre na Justiça. Segundo ele, o ministério exige judicialmente a devolução do dinheiro repassado aos convênios firmados com Ferreira. Ainda conforme Orlando, os convênios vigentes vão expirar em 2012 e não serão renovados.

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