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Internacional
Quinta - 07 de Julho de 2011 às 09:09

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A primeira entrevista de um presidente americano na internet, na quarta-feira em Washington, foi planejada há 18 anos. Quem conta foi um dos executores do plano de internetizar o país, Reed Hundt.

Ele foi chefe da FCC, a Comissão Federal de Comunicações, de 93 a 97, a agência federal responsável por tudo que acontece no ar e no éter: rádio, televisão, telefonia, internet, etc... Se é mídia e não é impressa, a FCC incentiva, fiscaliza e regulamenta.

Passei a manhã com ele e comecei a conversa com minha dificuldade em entender o que faz a FCC com seus US$ 350 milhões anuais e 1,8 mil empregados. Esta turma passa o tempo todo ouvindo rádio e assistindo TV em busca de obscenidades e pornografia?

"Quando assumi a chefia, também não sabia o que aquele pessoal todo fazia. É possível explicar a FCC, mas é impossível entender", foi a resposta dele. Poucos temas são tão chatos com esta combinação de tecnologia de internet, televisão, rádio, legalidades e os bilhões de dólares envolvidos.

Prometo não chatear vocês com as explicações. Reed Hundt estava no escritório dele quando recebeu uma chamada do vice-presidente Al Gore, na Casa Branca: "Dê um pulo aqui, agora".

Quando chegou, mostraram a ele imagens do Louvre e Reed achou que fosse uma destas imagens que cobrem computadores.

"São imagens do Louvre, ao vivo."

A partir daquele momento, ele estava envolvido na vitoriosa campanha para transformar a internet no novo meio de comunicação de massa. Foi um plano de governo que, inteligente, viu e entendeu as possibilidades da internet.

Foi também um decreto de quase-morte da TV aberta, até então a mídia mais popular do país e ainda a mais usada pelo presidente para se comunicar com a população.

A internet iria revolucionar não só a mídia como a economia, com a maior criação de empregos e geração de dólares numa década na história americana.

Reed Hundt foi colega de Al Gore no curso secundário, e de Bill Clinton e George W. Bush nas faculdades.
Advogado saído de Yale com um currículo brilhante, trabalhou em Washington na Suprema Corte e numa das melhores firmas de advocacia do país.

Comandou a Intel e foi um dos principais consultores da Anatel durante a revolução da telefonia brasileira, que ele considera um modelo para países emergentes.

Minha entrevista com ele vai sair um dias desses no Observatório da Imprensa, mas aqui vou contar duas histórias que provavelmente não irão ao ar, porque não estão relacionadas com a FCC.

Quando dirigia a agência, uma amiga pediu a ele que recebesse Gabriel Garcia Márquez, o que Reed fez com o maior prazer. Era amigo de um, leitor e admirador do outro.

O escritor queria um encontro privado com o presidente Bill Clinton e, três meses depois, os dois e o casal Clinton jantaram em Martha"s Vineyard, onde o presidente passava ferias.

"Clinton sabia de cor várias passagens do livro, mas o objetivo não era literário. Garcia Márquez trazia uma proposta de Fidel Castro para fazer as pazes com os Estados Unidos. Ele serviria como embaixador secreto. Clinton se interessou, mas em 94 veio o massacre republicano no Congresso e o plano foi enterrado.

A maior amizade de Reed é com Al Gore e estava com ele na Eco 92, no Rio. Eu também estava lá e um dia vi o senador sentado só e abandonado na sala de imprensa. Ninguém se interessava por ele e Al Gore reagiu com boa vontade quando sentei do seu lado para uma entrevista.

Na época, trabalhava na TV Record. No dia seguinte, num calor brutal, o senador, banhado de suor, debaixo de uma barraca, fez um discurso em defesa da Amazônia para um público que incluía um grupo de índios Yanomamis.

O roteiro da viagem era longo, mas no dia seguinte, Al Gore recebeu um telefonema de Bill Clinton com o convite para ser vice na chapa presidencial. Bye, bye, Brasil.






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