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Internacional
Sexta - 03 de Junho de 2011 às 10:06

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O jornal "Global Times", o segundo de maior tiragem da China com vendas de 1,5 milhão de exemplares, se tornou a voz mais radical do Governo chinês, mas, ao mesmo tempo, foi o único a tratar de temas polêmicos para Pequim, como o Nobel da Paz concedido a Liu Xiaobo e a detenção do artista Ai Weiwei.

Nos últimos meses, este jornal foi o único que tratou de temas considerados um "tabu" para Pequim, como Liu Xiaobo e Ai Weiwei, e, embora suas posturas tenham se aproximado das de Pequim, o fato coloca em dúvida o alcance da censura e do controle dos meios de comunicação por parte do regime comunista.

Em dezembro, quando o Nobel da Paz era entregue em Oslo a uma cadeira vazia que representava Liu Xiaobo, nem a agência "Xinhua" nem a televisão estatal, tradicionais porta-vozes do Governo chinês, ousaram mencionar o fato, diferentemente do "Global Times".

"É inimaginável que tal farsa, similar a que pode ser vista nas seitas, possa ser representada no continente civilizado da Europa", afirmou o veículo, ao ressaltar que o prêmio ignorava os sinais de mudança e o progresso social da China.

Algo similar ocorreu em abril, quando o popular artista e dissidente Ai Weiwei foi detido, apesar de a imprensa oficial quase não ter mencionado o assunto.

"Ai Weiwei escolheu um caminho diferente do resto do povo quanto à lei. No entanto, a lei não cederá perante ""dissidentes"" só pelas críticas dos meios de comunicação ocidentais", afirmou o "Global Times" na ocasião.

Estes editoriais incomuns fizeram com que muitos analistas passassem a ler este jornal na hora de buscar "vozes" que o Governo chinês não se atreve a permitir em outros veículos, embora os responsáveis pelo jornal assegurem que sua relação com o regime não é tão direta.

"Às vezes recebemos sugestões (do Governo), mas não são ordens", disse à Agência Efe o editor-chefe do jornal, Zhang Yong, que ressaltou que o jornal "se atreve a fazer reportagens ou notícias sobre temas polêmicos que outros não podem ou não têm coragem de fazer".

O jornal começou a ser publicado em 1993 e lançou uma versão em inglês em 2009, uma ideia que surgiu, segundo Zhang, para servir como uma resposta da imprensa chinesa às críticas que um ano antes o país tinha recebido por ocasião das Olimpíadas de Pequim.

"Ocorreram fatos como os ataques durante a passagem da tocha em Paris e Londres, que levaram os chineses a repensar sua relação com o mundo", disse o editor-chefe.

O "Global Times" faz parte do mesmo grupo midiático que o jornal que funciona como porta-voz do Partido Comunista da China (PCCh), e, nos primeiros anos, compartilhava repórteres, mas agora funciona de forma independente e se afasta do tom burocrático da matriz.

"Há gente que pensa que o ""Global Times"" tem uma inclinação nacionalista, mas não estou de acordo", destaca Zhang, que reconhece que os artigos de opinião do jornal em algumas ocasiões lançam críticas ao Ocidente, mas que as críticas ocidentais à China "vão muito além".

Segundo especialistas em imprensa chinesa, o jornal se movimenta em uma "área cinza" na qual os outros jornais não se atrevem a chegar e, às vezes, isto é incentivado pelo Governo.

"Publicar um editorial no veículo oficial é extremamente grave, mas no ""Global Times"" as autoridades são livres para avançar ou se retirar, mantendo flexibilidade", disse um editor de um jornal oficial citado pelo independente "South China Morning Post".





Fonte: EFE

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