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Polícia Brasil
Quarta - 16 de Março de 2011 às 11:41
Por: Bruno Garcia

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Delegado Arnaldo Agostinho Sottani, que nega ter ligações com o tráfico de drogas em MT
Delegado Arnaldo Agostinho Sottani, que nega ter ligações com o tráfico de drogas em MT

O delegado Arnaldo Agostinho Sottani, preso em Catalão (GO), no dia 25 de outubro de 2010, por suspeita de envolvimento com tráfico de drogas, em entrevista ao MidiaNews, afirmou ser inocente das acusações. Ele disse que sofreu tortura física e psicológica na delegacia da cidade goiana. "Me deram socos na boca", contou.

Por telefone, na tarde de terça-feira (15), Arnaldo Sottani afirmou ter sido preso "ilegal e arbitrariamente". Ele ainda afirmou que as gravações de seu depoimento, feitas pela polícia goiana, são ilegais; contou sua versão dos fatos e revelou que pretende acionar o Estado de Goiás, em função da supostas irregularidades em sua prisão.

Como o site informou, com exclusividade, Sottani ficou preso por 4 meses e foi solto recentemente. Veja aqui.

Abordagem

O delegado contou que, no dia da prisão, estava retornando de Minas Gerais - de São João Del Rey -, onde passou um longo período, acompanhando seu pai, que, na época, estava doente, e veio a falecer no dia 7 de outubro de 2010. "Desci em Catalão, que fazia parte de minha rota, pois tinha como destino, a principio, Caldas Novas, e fui obrigado a pousar em Catalão, por causa do mau tempo", lembrou.

Ele disse que desceu no aeroporto por volta das 14 horas, e almoçou. Voltou ao avião para pegar sua mochila, uma vez que o tempo não havia melhorado para vôo e decidiu permanecer em Catalão. Na ida à cidade, de carona, foi abordado pela Polícia Militar.

"Eu peguei uma carona e fui até a cidade. Com a abordagem da Polícia Militar, uns rapazes que estavam no carro [uma caminhonete Hilux, preta, segundo ele] se assustaram e fugiram", afirmou.

Arnaldo Sottani sugeriu uma motivação para a fuga dos jovens: eles teriam participado de uma festa, ingerido muita bebida alcoólica e estariam com "medo". Ele disse que se identificou aos jovens, durante a conversa, como delegado da Polícia Civil e, ao notarem que ela era detido, resolveram fugir. "Isso fez com que a Polícia Militar me conduzisse até a delegacia", declarou.

O delegado informou que os rapazes, após o episódio, se apresentaram à Polícia Civil de Catalão e deram esclarecimentos.

Revista

Sottani contou que, após a detenção, os policiais o levaram até o avião, que foi revistado. Ele também foi revistado. "Revistaram as minhas coisas. Não existia entorpecente, não existia nada", afirmou.

O delegado garantiu que não havia nenhuma investigação, escuta telefônica ou denúncia. Ele afirmou que os policiais suspeitaram dele a partir do momento em que as investigações apontavam que o avião em que ele viajava seria "camuflado" e teria partido da Bolívia.

"Não estava vindo da Bolívia, estava vindo de Minas. Falaram que eu levei droga para Minas para, depois, trazer para Goiás. Só esqueceram que Goiás está no meio", declarou.

Quanto ao avião, Arnaldo Sottani disse que a aeronave é de propriedade de "um amigo", de Minas Gerais, e que foi alugado por ele. O delegado disse que estava pilotando para contar hora/voo. Ele afirmou que é um modelo experimental, avaliado em R$ 100 mil.

"Esse avião, eu aluguei para que pudesse completar minhas horas de voo, para mudar de categoria, para piloto comercial e ingressar no grupamento aéreo da Polícia. Para ingressar no grupamento, eu precisaria ser piloto comercial", explicou.

Tortura

Na entrevista, Arnaldo Sottani disse que ficou detido por mais de 10 horas, na delegacia de Catalão, sem nenhum mandado de prisão contra ele. E afirmou que foi submetido a tortura física e psicológica.

"Eles [policiais civis] não acreditavam que eu era delegado de Polícia. Eles me deram socos na boca, quebrando meu aparelho ortodôntico. Eles não deixaram me comunicar com o ambiente exterior, beber água, comer... Não me deixaram falar com o meu advogado", relatou.

Após as 10 horas, segundo o delegado, os policiais de Catalão teriam chegado à conclusão de que não havia provas contra ele e o liberaram. "Chegaram de me liberar e fui para um hotel. Isso, às 5 horas da manhã. Aí, no outro dia, já sabendo que eu era delegado e com medo de qualquer tipo de ação, eles conseguiram uma prisão temporária contra mim", disse.

Prisão

O delegado contou que ficou, em Catalão, em um presídio comum, misturado com outros presos e, segundo ele, correndo risco de vida. "Só então, eu consegui, através da guarda do presídio, falar com o presidente da OAB de Catalão. Foi ele quem conseguiu minha transferência para Goiânia", observou.

Em Goiânia, ele ficou preso na Delegacia de Homicídios. "A partir de então, tive acesso a advogado e à alimentação. Eu fiquei na Delegacia de Homicídios, num lugar preparado na carceragem, um alojamento, ao lado do carcereiro. Então, entrei com habeas corpus", declarou.

Gravação

A respeito da confissão informal que ele fez aos delegados de Catalão e teria confessado uma suposta ligação com o tráfico de drogas, Arnaldo Sottani avaliou que qualquer gravação clandestina é ilegal. Por este motivo, disse, sua prisão caiu. "Se tivesse confessado para eles, eles teriam que lavrar o auto de interrogatório, mesmo que não tivesse falado nada. O delegado não me interrogou formalmente", destacou.

Sottani revelou que a gravação feita foi "uma conversa de policial para policial". Isso, segundo ele, após ele ter sido liberado pela primeira vez, quando teria passado informações de como agiam os traficantes na região da fronteira de Mato Groso com a Bolívia e como funcionaria o tráfico de drogas.

"Como delegado e por trabalhar na fronteira, dei informações sobre o fato de os traficantes virem ao Brasil, descarregar a droga ou jogar [de avião], e o transporte de drogas para Goiás, Minas Gerais, São Paulo. Isso eu falava para eles, na condição de policial para policial", contou.

Com a gravação da conversa informal, Arnaldo Sottani disse que os delegados de Catalão levaram o conteúdo à Justiça e afirmaram que ele teria conhecimento do funcionamento do tráfico de drogas internacional, ligações com os traficantes e pediram sua prisão.

"Me submeteram a uma sessão de tortura, em situações ilegais, e, depois, para se resguardarem, tiveram que me prender. Inclusive, me prenderam no período eleitoral, outra ilegalidade. A minha defesa alegou isso, mas o juiz se acovardou e não quis assumir: falou que essa lei não existe mais hoje. Um absurdo", declarou.

O Tribunal de Justiça do Estado de Goiás concedeu, no dia 22 de fevereiro, a liberdade ao delegado. Ele, inclusive, já se encontra na ativa e atuando na cidade de Comodoro (644 km a Oeste de Cuiabá).






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