Pensamento único Não foram poucas as inconsequências verbais do tão poderosos senhor do feudo planaltino

Não é novidade o fato de alguns governantes assumirem a postura clássica de ditadores sub-reptícios, aqueles que acreditam que se apertarem o cerco lentamente, a sociedade não irá percebe e acabará por adotar a sua forma de pensar/agir. Ou seja, tornar-se-á uma sociedade domesticada, sonho de todo déspota que deseja que todos pensem igual a ele. É a teoria do pensamento único. É dessa forma que o atual governo caminha em seus passos sinuosos em direção a um estado autoritário, onde ele e seus “príncipes”, despossuídos de princípios morais, possam inaugurar uma nova Coreia do Norte, aqui ao sul da linha do equador.

A primeira notícia desse fenômeno adredemente planejado foi a sua desfaçatez em, diante do mundo em frente à TV, assegurar ao Sergio Moro a liberdade total de escolher seus auxiliares, sem nenhum interferência dele. Todos sabemos que não cumpriu nenhuma de suas falas diante do planeta telespectador, ou seja, não é capaz de garantir de pé o que acabou de dizer sentado. Alguém já viu isso na história da humanidade?

O despudor é tanto que não se furta em ameaçar os brasileiros e suas leis e, até mesmo a Constituição Federal

Essa mesma afirmativa foi proferida à Regina Duarte, que recebeu a Secretaria de Cultura de “porteira fechada”, como afirmou ele na ocasião do convite formal à tão conhecida atriz. Pobre Regina, se tivesse observado o que havia acontecido com Sergio Moro não deveria confiar em nenhuma sílaba da fala presidencial, quanto mais em uma promessa mais fluida do que fumaça.

Não foram poucas as inconsequências verbais do tão poderosos senhor do feudo planaltino de Brasília, especialmente as agressões destemperadas contra o Ministro Mandetta, pelo simples fato de ele estar cumprindo o seu papel institucional, orientar o povo brasileiro sobre como se proteger da pandemia. Essas manifestações públicas guindaram o Ministro a uma quase unanimidade nacional em termos de satisfação e aceitação popular. Isso não pode! O suserano, dominado por sua soberba abissal, por uma inveja genética, passou a agredir o Ministro por conta de seu sucesso na defesa da vida do cidadão. Ser mais popular que do que o suserano? Jamais! Isso é algo inaceitável no reino bolsonarista.

A pandemia esfacelou de vez a sua máscara de democrata da araque ao desnudar o que havia por traz dela, o ódio contra o diferente, contra todos que não estavam sintonizados em suas nefasta emissora de inverdades, de aleivosias, de violências verbais e fáticas, algo nunca visto em nenhum presidente, mesmo durante a ditadura, pois isso era a realidade pela qual o Brasil passava. Agora não, embora o suserano queira e demonstra isso todos os dias, até mesmo quando afronta o Supremo Tribunal Federal, ao pretender transformá-lo em sua igreja com tantos ministros terrivelmente evangélicos.

O despudor é tanto que não se furta em ameaçar os brasileiros e suas leis e, até mesmo a Constituição Federal, com as reiteradas ameaças de colocar o “meu exército” na rua para “libertar” o Brasil da ditadura dos Governadores e Prefeitos.

E será que temos um exército comandado por almocreves? O exército não tem um proprietário e nunca aceitou nem aceitará que alguém tenha a mais mínima pretensão de ser seu dono, como quer o suserano embevecido em seus delírios monárquicos. É uma instituição de Estado, nunca de Governos, sejam eles quais forem.

Agora, tenta usar o seu ministro da educação (com minúsculas mesmo) para condicionar pela doutrinação coercitiva a juventude, pois é disso que se trata a fala desse tal ministro, ao afirmar em entrevista da possibilidade de analisar pessoalmente as questões do Enem para evitar "perguntas muito subjetivas e até mesmo com cunho ideológico".

Aí está! Uma claríssima tentativa de engessar o pensamento dos jovens que enfrentarão o Enem, para que conduzam suas ideias pelos escaninhos propostos pelo governo que, a cada dia, coloca de fora as suas unhas de fera esfaimada por poder.

Atenção, jovens! A liberdade é uma escolha absolutamente necessária para a conquista de seus sonhos. Não se deixem enganar por falsas ideias de uma pseudoliberdade atrelada a um cabresto ideológico definido por um sociopata convicto.

É bom lembrar Habermas em seu livro “O Futuro da Natureza Humana”.

[...] num Estado constitucional democrático, a maioria não pode prescrever às minorias a própria forma da vida cultural – na medida em que esta se distanciam da cultura política comum do país – como uma suposta cultura de referência.

Pois é esta ‘cultura de referência bolsonarista’ que o ministro pretende impor à juventude, a partir das provas do Enem, que devem obedecer a uma clausura ideológica atrasada, perversa, obscurantista e autoritária, que pretende definir qual caminho nossos jovens devem seguir.

Graças a esse modo de pensar é que chegamos a meio milhão de mortes pela Covid 19, sob o gáudio do bolsonarismo, pois eles sempre argumentam que nos governos anteriores havia corrupção, roubo e muita fraude. Para eles, se quinhentos mil morrerem, qual o problema? Agora não temos mais corrupção! Pelo menos é essa a argumentação daqueles que criticam meus textos e me acusando de petista, comunista, esquerdista e outros tantos epítetos desaconselháveis ao público.

Do alto de sua sabedoria de minhoca que acredita ser cascavel, o pretenso donatário desta capitania neoevangélica, apruma no cercadinho (lugar bem adequado) e emposta a sua voz para dizer – “não sou coveiro”, embora o seja e ele faz de tudo para não acreditar. E quer que pensemos como ele.

José Pedro Rodrigues Gonçalves é doutor em Ciência Humanas