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Opinião
Domingo - 04 de Julho de 2021 às 10:20
Por: Neila Barreto

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Além de ficar a meia légua do rio Cuiabá e entre os afluentes deste, o Coxipó Mirim e o Coxipó Açu, a vila Real do Bom Jesus do Cuiabá foi edificada seguindo o arco do córrego depois chamado Prainha, um afluente menor do rio Cuiabá, hoje centro da cidade de Cuiabá, capital do Estado de Mato Grosso, com o nome de Avenida Tenente Cel. Duarte.

Em Cuiabá, com tantas águas pelas suas redondezas, tendo o morro do ouro localizado às margens do Prainha, nas minas do Sutil, os mineradores sentiam-se desolados, pois o morro do ouro localizava-se ao lado de um córrego de dois passos de largo, no entanto, não ajudava muito o Prainha, pois não fornecia água suficiente, para a cata do desejado ouro. Em uma representação cartográfica de 1777 mostra isso claramente, acrescentando quatro afluentes ocidentais do Prainha e dois orientais, na vila propriamente dita.

A expressão Vila propriamente dita cabe aqui, para frisar a existência de dois núcleos, na configuração da vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá, o Porto, antigo terceiro distrito, na margem esquerda do rio Cuiabá e a Vila Real do Senhor Bom Jesus, no alto Prainha.

O córrego Prainha permitia a entrada de pequenas embarcações até a praça do Aracaty, atual Ipiranga

No Plano da Vila, ainda de 1777 está, ainda, claramente representado um quinto afluente ocidental do Prainha, já perto de sua foz no Cuiabá, com uma ponte sobre ele, em meio ao caminho do Porto.

Outros córregos, como o atual Barbado e Manoel Pinto, por estarem à época, ainda, mais distantes dos limites edificados da vila e do porto, não têm representação. Mas fica evidente que a localização da vila e da cidade foi privilegiada por fios d’água expressivos.

O córrego Prainha permitia a entrada de pequenas embarcações até a praça do Aracaty, atual Ipiranga. É uma das mais antigas praças de Cuiabá, construída no período colonial. Seu primeiro nome foi Largo do Mercado, pois ali estava localizado o primeiro mercado público, o qual serviu de Quartel do Batalhão de Polícia, Departamento de Imprensa Oficial e, hoje presta diversos serviços à população com o nome de “Ganha Tempo”, ladeada pelo córrego Cruz das Almas, onde às suas margens os homens vendiam os seus pescados à população.

Era nesse local que o (...) o ribeirão Prainha, caudaloso na época, até o mercado abicavam as canoas que subiam o caudal e ali chegavam transportando peixes e o produto das hortaliças cultivadas nas chácaras vicinais do rio Cuiabá para o abastecimento da cidade (..)., testemunhou, o escritor Francisco Ferreira Mendes.

Informações encontradas em relatório do presidente de Província, Augusto Leverger, afirmam que: (...). No entanto, as notícias que se tem é que Cuiabá desde o ano de 1780, parte do suprimento de água potável à população era feita através do córrego Prainha. No entanto esse pequeno veio d’água tinha seus problemas de seca no período da estiagem, o que dificultava ainda mais a falta d’água à população.

Na Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, o córrego Prainha foi protagonista de inúmeros acontecimentos: Diariamente ia com algumas escravas, atravessando o quintal todo revolvido por antigas escavações auríferas dos anos pioneiros de Cuiabá, até o Córrego Prainha, ficando a brincar entre as pedras, nas águas límpidas de lambaris, enquanto as negras lavavam as roupas da casa em longas tábuas de aroeira, dizia Mendes.

Esse pequeno córrego que nasce nas proximidades, hoje, do bairro Concil e corre rumo ao rio Cuiabá continua deslizando eternamente, no entanto, soterrado e contaminado, murmurando por entre os esgotos da cidade, perfazendo a sua caminhada na qualidade de mísero contribuinte do rio Cuiabá, que Francisco Mendes, relembra assim: Córrego Prainha! Como peregrino deixas de ser nas ferocíssimas paragens da terra (...) oásis de fartura, para constituíres relíquia desprezada, tão cheia de saudade do tempo, em que abrias o leito fértil de promessas e de anseios, de dádivas e de belezas (...) apenas um traço recordativo (...). Não piam em tuas matas as Jaós, nem as saracuras entoam duetos alegres. (...).

Mudo, segue os caminhos das misérias das impurezas, percorrendo vias escuras e fedorentas, indo contaminar o pantanal mato-grossense.

Neila Barreto é jornalista e mestre em História.



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