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Opinião
Segunda - 17 de Janeiro de 2022 às 09:36
Por: Rosana Leite Antunes de Barros

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Para a discriminação, a falta de senso e cometimento de crime, por vezes, algumas ‘desculpas’ são produzidas. O que mais se ouve dizer é que determinada pessoa é de outra geração, e, assim, não consegue se adaptar à ‘modernidade’.

Quantas vezes ouvimos que é preciso paciência, porquanto, algumas pessoas foram criadas e educadas de maneira machista e sem a noção do que é viver sem discriminação.

Fica muito latente a fala de que os jovens pensam diferente dos mais velhos, por viverem em outra época. Sim, é real que tudo muda, tudo passa, e o mundo tende a se tornar cada vez melhor. Se pensarmos que já vivemos a escravidão real, aquela em que nossos irmãos e irmãs viviam acorrentados e acorrentadas como propriedade e hoje não mais, iremos perceber que mudanças aconteceram.

Não que a escravização tenha acabado como gostaríamos, mas tem se buscado cada vez mais um mundo melhor.

E o machismo? Esse já foi muito mais emblemático do que nos dias atuais. O que era aceito com naturalidade em outras eras, hoje há possibilidade de questionamento e não aceitação. As brincadeiras e a forma de tratamento das mulheres na atualidade é vigiada de ‘mamando a caducando’. Olhares de reprovação são disparados, quando situações de violência e constrangimento às mulheres acontecem.

O que mais se ouve dizer é que determinada pessoa é de outra geração

Todavia, ainda existe muita escusa nessas atitudes, principalmente quando ‘disparadas’ por pessoas mais velhas. “É muito difícil entender o mundo atual, na época dele ou dela era normal”. “Não é maldade, é outra geração”. “Ah, mas na época dele ou dela podia”.

De fato, o mundo se transformou. Oxalá! Mudou e vem mudando para melhor. No caminho ainda existem muitos ‘espinhos’ que precisam ser retirados. Porém, abertamente não é possível aceitar determinadas falas e atitudes preconceituosas. A reflexão quanto à novel forma de viver, na verdade, quanto à realidade, é premissa a ser perseguida.

E se pararmos para analisar, as pessoas de outra geração muito bem se adaptaram à outras modernidades com bastante facilidade, mas se negam a entender outras situações? Cartão de crédito e débito, sem a necessidade de portar dinheiro ou o quase extinto talão de cheques. Internet. Revistas e rede virtual. Telefone celular.

Nossa, quanta mudança desde a década de 90! E essas mesmas pessoas que se escondem atrás de ‘outra geração’ para cometimento de delitos se adaptaram. Que coisa! Ri, demasiadamente, de uma amiga relatando que o seu avô se adaptou rapidamente a revistas virtuais de pornografia. Olha só!

Seria cômico, se não fosse trágico e, friso, criminoso! O mundo muda e as pessoas devem se adequar o mais rápido possível. O que não estava positivado em leis em décadas atrás agora está, justamente, com as necessidades da sociedade pelos fatos que surgem. E pessoas ainda teimam em se esconder no véu da idade?

O Brasil deve se lembrar de determinado ator que cometeu assédio sexual em uma conhecida emissora de TV nacional, contra uma camareira. Quando questionado afirmou que foi criado e educado para assediar mulheres por ser ‘macho’.

É premente que as gerações se respeitem com as respectivas características de cada qual, para que não ocorram os choques que tornam incompatíveis e impossíveis a convivência.

Como afirmou Angela Davis: “Nós não precisamos de homogeneidade nem de mesmice. Não precisamos forçar todas as pessoas a concordar com uma determinada forma de pensar. Isso significa que precisamos aprender a respeitar as diferenças de cada pensar, usando todas as diferenças como uma fagulha criativa, o que nos auxiliaria a criar pontes de comunicação com pessoas de outros campos”.

As siglas precisam ser decifradas, assim como as palavras bem delineadas, como a compreender o que cada qual necessita para ter dignidade e boa coexistência. Ascendência e descendência, ancestralidade e porvindouros podem e devem produzir o bem. Enquanto desculpas for motivo de cometimento de discriminações e crimes, será difícil construir uma sociedade livre, de fato.

Seja qual for a geração, Tradicional ou Silenciosa, Baby Boomers, Geração X, Geração Y ou Geração Z, é sempre possível a convivência saudável e sem preconceito ou discriminação. Viver o real, o atual, é ter a certeza de que em qualquer lugar e tempo viver sem violência é o esperado.

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.



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