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Opinião
Domingo - 27 de Abril de 2025 às 00:49
Por: Gabriel Novis Neves

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Ontem era Natal, Ano-Novo, Carnaval, Quaresma.

Tudo passou como num suspiro, e já estamos no Domingo de Ramos.

Entramos na Semana Santa, a caminho do Domingo de Páscoa.

Quantas recordações a Semana Santa nos traz!


Sou do tempo da tristeza que envolvia a cidade até o momento da crucificação

Cuiabá foi, em outros tempos, uma cidade profundamente religiosa.

Sua população vivia intensamente os ritos que marcavam a última semana de vida de Jesus entre nós.

Naqueles dias predominavam, de forma quase absoluta, a fé católica; eram poucos os protestantes.

Com a proliferação das igrejas evangélicas, especialmente nos bairros mais afastados e nas regiões periféricas, o número de fiéis da igreja de Pedro diminuiu, e a cidade deixou de se envolver com os rituais da Paixão, Morte e Ressurreição do Filho de Deus.

Sou do tempo da tristeza que envolvia a cidade até o momento da crucificação.

Era um sofrimento sem fim.

Como nasci no Centro Histórico de Cuiabá, na rua de Baixo, lembro-me da Procissão do Encontro, que acontecia no sábado anterior ao Domingo de Ramos.

Era uma das mais comoventes manifestações de fé cristã. Solene, fúnebre, concorrida — e passava pela porta da minha casa.

A imagem encoberta do Senhor dos Passos, de joelhos, carregando uma enorme cruz aos ombros, saia da igreja do Senhor dos Passos na sexta-feira anterior ao Domingo de Ramos. Era emocionante.

Fiéis com velas acessas nas mãos acompanhavam o cortejo até o santuário de Nossa Senhora da Dores, ao som compassado da matraca.

A Procissão do Encontro saia da igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho, no Domingo de Ramos para encontrar-se com a imagem de Nossa Senhora das Dores em frente à Catedral Metropolitana de Cuiabá, na Praça da República.

Acreditava-se no poder milagroso das vestes do santo, e em tudo que o cercava.

As cerimonias religiosas na Catedral eram conduzidas por Dom Aquino Corrêa, cujos sermões, de rara eloquência, atraiam fiéis até das partes mais distantes da cidade.

A Sexta-feira Santa —também chamada de Sexta-feira Maior — era vivida com silêncio absoluto, jejum e recolhimento.

Tomar banho ou limpar a casa não era permitido.

Sair de casa, só para ir à igreja.

Hoje, tudo mudou. A Semana Santa foi transformada em uma semana comum.

Gabriel Novis Neves é médico e ex-reitor da UFMT



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