A pílula rosa ajuda pouco as mulheres e tem riscos inaceitáveis, segundo conselheiros do governo americano.

A reunião dos especialistas, na sexta-feira, foi mais um revés na busca por um remédio que aumente a libido feminina.

A fabricante da pílula, a farmacêutica alemã Boehringer Ingelheim, não convenceu os conselheiros de que a pílula deva receber a aprovação.

"A eficácia não foi robusta o suficiente para justificar os riscos", disse Julia Johnson, líder do conselho e chefe de ginecologia e obstetrícia da Escola de Medicina da Universidade de Massachusetts.

Mulheres afirmaram sentir depressão, tontura, fadiga e outros problemas em pesquisas sobre a droga, conhecida como flibanserina.

As farmacêuticas têm procurado uma droga para melhorar a vida sexual das mulheres desde que o Viagra foi lançado, há 12 anos. O mercado para o Viagra feminino poderia render bilhões de dólares.

Mas alguns médicos acham que as empresas estão se aproveitando das inseguranças femininas para convencê-las de que precisam de um remédio para melhorar a vida sexual.

"Desejo sexual baixo não é doença", disse Leonore Tiefer, professora de psiquiatria da Universidade de Nova York, enquanto lia uma petição para os conselheiros do governo americano para que não aprovassem a flibanserina.

A Food and Drug Administration (agência reguladora de remédios e alimentos nos EUA) ainda vai tomar a decisão final sobre a aprovação da pílula e costuma seguir as recomendações do painel de especialistas.

A farmacêutica alemã Boehringer quer que sua droga seja receitada para mulheres que não atingiram a menopausa e que tenham uma falta de desejo persistente e inexplicável.

"As mulheres merecem ter uma opção farmacológica segura e eficaz para esse problema perturbador", disse Anita Clayton, consultora da Boehringer e professora de psiquiatria na Universidade da Virginia.

A droga, desenvolvida originalmente como antidepressiva, promete agir nas substâncias químicas do cérebro envolvidas com o desejo sexual, diz a empresa.

Mas o comitê de especialistas, composto por sete mulheres e quatro homens, votou unanimemente que os riscos e os benefícios da droga eram inaceitáveis. Dez dos conselheiros votaram que os dados sobre a eficácia do remédio eram falhos.

Funcionários do FDA disseram diante do comitê que a flibanserina não aumentou o desejo sexual das mulheres, conforme ficou registrado nos diários de voluntárias que participaram das pesquisas feitas pela fabricante do remédio.

A Boehringer diz que outra análise, baseada em uma pesquisa sobre as respostas das mulheres, mostrou um aumento do desejo com o uso da droga.

As mulheres também disseram que as experiências sexuais foram mais satisfatórias --uma média de 4,5 por mês, comparada à média de 2,8 por mês, antes do remédio. Quem tomou placebo teve 3,7 boas experiências por mês durante o estudo, que durou seis meses.

Quase 15% das mulheres pararam de tomar a flibanserina antes do fim do estudo por causa de efeitos colaterais. A Boehringer disse que a maioria dos problemas era leve.

Os membros do comitê, no entanto, disseram que estavam preocupados com o fato de as mulheres terem que tomar o remédio por meses ou anos, com riscos desconhecidos.

"O uso a longo prazo precisa ser mais bem avaliado", disse Kathleen Hoeger, membro do comitê e professor da Universidade de Rochester

O nome fantasia do remédio é Girosa e ele ainda não tem aprovação em nenhum país.

"Estamos desapontados com as recomendações do comitê de conselheiros e vamos trabalhar junto à FDA para responder às questões levantadas", disse Christopher Corsico, diretor médico da Boehringer dos Estados Unidos, em nota.

Ainda que o comitê tenha votado contra a droga, seus membros encorajaram a Boehringer e outras empresas a continuarem a tentar remédios para melhorar a vida sexual das mulheres.

"Realmente há uma necessidade significativa das mulheres e achar um remédio que as beneficie é muito importante", disse Johnson.

As farmacêuticas já testaram vários jeitos de aumentar a libido feminina, mas a vida sexual das mulheres tem sido um alvo difícil para os remédios.

Drogas que combatem a impotência, como o Viagra, aumentam os vasos sanguíneos para aumentar o fluxo de sangue necessário para a ereção. A Pfizer desistiu dos testes do Viagra com mulheres em 2004, depois que os estudos mostraram que ele não as ajudava.

No mesmo ano, um comitê da FDA votou contra a aprovação para um adesivo de testosterona da Procter & Gamble, por falta de provas de segurança. O adesivo foi aprovado na Europa e foi vendido para a Warner Chilcott.

Outra farmacêutica americana, a BioSante, está desenvolvendo um gel de testosterona para tratar o declínio da libido em mulheres na menopausa. A empresa estima que o mercado da disfunção sexual feminina, só nos EUA, deve render US$ 2 bilhões ao ano.