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Educação/Vestibular
Quarta - 05 de Maio de 2010 às 08:05
Por: Luciana Alvarez

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A expansão das universidades públicas promovida pelo governo federal aprofundou um antigo problema das instituições: a dificuldade de se contratar professores com doutorado. A carência é maior nas Regiões Norte e Centro-Oeste. Apenas neste ano, as federais de Rondônia (Unir), Pará (UFPA) e Amazonas (Ufam) tiveram de reabrir concursos públicos para docentes por falta de inscritos qualificados.

 

Não há dados nacionais sobre o tamanho do déficit de doutores e mestres, mas, para suprir a demanda, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) lançou em dezembro de 2008 um plano de estímulo a novos programas de pós-graduação. Uma comissão com representantes dos Ministérios da Educação, do Desenvolvimento e da Ciência e Tecnologia foi formada em julho de 2009 para implantar o Programa de Apoio à Pós-Graduação (PAPG), mas, até agora, poucas ações concretas foram tomadas.

"Por causa do Reuni (programa do governo federal de expansão das universidades, lançado em 2003) foram abertas entre 10 mil e 12 mil vagas para professores. E nós queremos que todos sejam doutores", afirmou Ana Deyse Dorea, vice-presidente da Andifes. "O País não estava preparado e, em especial, os câmpus localizados no interior têm enfrentado dificuldades para preencher todas as vagas com doutores."

De acordo com a Andifes, o PAPG vai começar pelas Regiões Norte e Centro-Oeste, áreas mapeadas como as de maior carência de docentes com títulos. "Eles precisam formar seus próprios quadros, porque lá também é mais difícil fixar os profissionais", diz Ana Deyse. Um dos principais objetivos da iniciativa é diminuir as diferenças regionais nos programas de pós-graduação.

A entidade informou que o programa deve ser iniciado ainda este ano, em parte com recursos do MEC. Mas a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC) afirma que o programa ainda não existe efetivamente; que é uma proposta em construção. A única iniciativa de suporte ao PAPG foi a liberação de recursos no projeto Pró-Equipamentos, em agosto de 2009, para montagem de laboratórios.

Concorrência. Para universidades da Região Norte, a dificuldade na contratação de doutores piorou com a grande oferta de vagas em outras partes do País. "A gente enfrenta uma concorrência desleal. Como as condições trabalhistas (como salário) são iguais no Brasil inteiro e não existe uma política que dê um diferencial mais sedutor ao Norte, aqui nunca é a primeira opção", afirmou o pró-reitor de gestão da Ufam, Albertino Carvalho,

O maior desafio, diz Carvalho, é preencher as vagas nos câmpus mais afastados da capital. Com o Reuni, a Ufam abriu cinco novos câmpus - o mais próximo da sede fica a 720 km de Manaus. "Temos um polo em Benjamin Constant, cidade de 20 mil habitantes na fronteira com Colômbia e Peru, com pouca infraestrutura e sem acesso aéreo. É difícil um doutor querer morar numa cidade assim."

O pró-reitor de pesquisa e extensão da UFPA, Emmanuel Tourinho, ressalta que atrair doutores é crucial para melhorar a qualidade da graduação, mas também para avançar nos cursos de pós-graduação e fazer desenvolver o País.

"Para melhorar nosso atrativo precisamos de recursos extras e de uma política de médio e longo prazo", diz. "Isso depende de uma decisão política: o País quer ou não criar condições para termos doutores capazes de aproveitar o potencial da região amazônica?", questiona.

A falta de doutores também é uma realidade das novas universidades federais, como a Rural do Semiárido (Ufersa/RN), criada em 2005, onde alguns editais tiveram de ser reabertos até duas vezes. "Na área de matemática foi difícil preencher as vagas", disse o pró-reitor de graduação, José Arimatéa de Matos.


Para lembrar

Vagas dobram, mas ainda falta infraestrutura
O governo Lula criou em cinco anos 15 instituições federais e mais de cem câmpus no interior do País por meio do programa Reuni, do MEC. O objetivo de elevar a oferta de vagas foi cumprido: elas passaram de 121 mil em 2003 para 169 mil em 2008. Mas, na velocidade em que foi feita, a expansão transformou municípios em canteiros de obras, com aulas em prédios improvisados e sem infraestrutura, conforme mostrou o Estado em fevereiro.






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