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Esportes
Domingo - 02 de Maio de 2010 às 10:20
Por: Lucas Andrade

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O futebol é um esporte coletivo, mas seu ápice é sempre uma realização individual. Afinal, o gol nunca é creditado a duas pessoas. Por mais que o passe tenha sido fundamental ou a jogada, ensaiada, é ao goleador que cabe a glória, pois foi quem fez da possibilidade uma certeza. Natural, portanto, que a comemoração seja marcada pela sua personalidade, seja ele solidário, impulsivo ou contido.

 

Mas acontece que na Vila Belmiro, neste ano, desponta um futebol diferente e objetivo, que lembra o próprio Santos, campeão da década de 60, com muita movimentação, dribles, tabelas e goleadas. A diferença é que, no Santos daqueles tempos, Pelé terminava sempre na artilharia absoluta, com cerca de 50 gols, mais de 50% do que todo o time fazia. Hoje os jogadores praticamente dividem a artilharia do clube. Formando o melhor ataque do Campeonato Paulista, com média de 3,18 gols por jogo, André já marcou 13 vezes, Neymar, 12 e Paulo Henrique Ganso, 11. E assim, com tanto talento individual, acabaram por coletivizar a comemoração, fazendo tanto do futebol como da festa um grande baile.

A arte de comemorar, porém, é antiga. Com certeza, os artilheiros dos Paulistas da primeira metade do século 20 - como Friedenreich, Feitiço e Servílio de Jesus - celebravam os tentos à sua maneira, mas foi com Pelé e o advento da televisão que o momento foi alçado a um patamar superior, ganhando repercussão, registro e história.

Num domingo de agosto, em 1959, o Rei estava inspirado e já havia feito dois gols no Juventus. A torcida adversária estava mordida e perturbava muito seu algoz. "Olhei para a arquibancada e fiz um gesto de "espera um pouquinho"", conta o atleta do século. Foi então que ele marcou o gol mais bonito de sua carreira e transformou rivais em súditos. "Peguei uma bola vindo da direita, cruzada acho que por Dorval, e marquei o terceiro, após dar três chapéus seguidos, sem deixar a bola cair, em três juventinos diferentes. E conclui de cabeça. As vaias viraram aplausos", lembra o grande craque.

Após a pintura, Pelé saltou com elegância e, em um gesto de desabafo e autoridade, socou vigorosamente o ar. Era o marco inicial: Pelé ensinava como se faz e celebrou um gol com toda a sua maestria.

Desde então, craques se sucedem a fazer gols belos e decisivos e a manifestar sua felicidade de forma autêntica e divertida. O jovem artilheiro Juary, a quem muitos chamaram de "o novo Pelé", foi um deles. Depois, com Dadá Maravilha, que batizava seus gols antecipadamente, indicando como iria comemorá-los, vieram o gol John Travolta, o gol Mamãe e muitos outros. Careca, na final de 1985 do Paulista, homenageou o personagem Zé das Medalhas, da novela Roque Santeiro. Neto, ainda no Guarani, fez gol de bicicleta na final contra o Corinthians e, admirado de si mesmo, batia no peito e gritava: "Sou f..., sou f...". Mas, até então, não havia comemorações polêmicas; ao menos, nada que repercutisse tanto. Foi Viola quem transgrediu essa fronteira ao imitar um porco na final de 1993 contra o Palmeiras. E pagou um preço caro por isso: perdeu de goleada no jogo de volta e ficou sem o título - fato de que Madson deveria ter se lembrado neste Paulista quando fez o mesmo contra o alviverde e perdeu de virada.

Com Viola, o ensejo fora dado e muitos o sucederam, jocosos e controvertidos. Vieram Mirandinha e Túlio Maravilha, fazendo pescaria contra o Santos. Vieram Valdívia e o chororô, Tevez e a cumbia... Um pouco de polêmica e tudo é lembrança, pois, afinal, não há ineditismo em comemorar. A novidade é fazê-lo nove vezes em um mesmo jogo, como o Santos deste ano.

Mas ainda assim, o que importa agora é aguardar a decisão deste Campeonato Estadual para saber quem irá celebrar não só o gol, mas o apito final.






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