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Saúde
Sábado - 03 de Outubro de 2009 às 11:56

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Toda vez que um bom time perde uma partida, algum comentarista de TV recorre ao lugar-comum de que "o futebol é uma caixinha de surpresas" para explicar o resultado. Só agora, porém, um estudo foi capaz de provar matematicamente que essa condição é verdadeira, dando um número à probabilidade de um torneio de futebol acabar com um resultado "justo": 28%. Os 72% restantes são a caixinha de surpresas.

O número saiu de um trabalho do astrofísico inglês Gerald Skinner, do Centro Goddard de Voos Espaciais, em Washington (EUA). Ele e seu cunhado Geoff Freeman, um estatístico da Universidade de Warwick (Reino Unido), publicaram um estudo sobre o tema na edição deste mês do periódico "Journal of Applied Statistics".

Para chegar ao número, a dupla de cientistas aplicou uma ideia engenhosa a uma base de dados simples -os resultados dos 64 jogos realizados na Copa da Alemanha, em 2006.

Basicamente, o que Skinner e Freeman fizeram foi analisar o número de resultados inesperados --as "zebras"-- que ocorreram no torneio, para calcular o risco de o melhor time acabar eliminado antes de levar a taça.

A fórmula da "zebra"

Para definir matematicamente um placar "irrealista", porém, os cientistas tinham de contornar um paradoxo: como saber de antemão qual time é o melhor da Copa se o torneio serve justamente para isso?

Para contornar essa condição inexorável em que cada jogo "só termina quando acaba", os cientistas lançaram mão de uma ideia criativa. Agruparam todos os jogos do torneio em grupos de três partidas para achar triângulos em que um time A enfrentasse B, B enfrentasse C e C enfrentasse A. Se A ganha de B, B ganha de C e C ganha de A, temos aí uma "zebra", definida em uma fórmula.

Skinner contou 335 triângulos na Copa de 2006, sendo que 17% deles tinham "zebra". Aplicando o número à estrutura do torneio, conclui-se que mesmo a melhor equipe corre 72% de risco de ser eliminada.

Quer dizer então que o esporte mais popular do mundo tem seus campeonatos lançados à mercê da sorte? Segundo Skinner, para adquirir um grau de confiabilidade maior, o futebol teria de ser um esporte com uma média maior de pontuação por jogo, como o basquete.

"Mas, para isso, as regras teriam de mudar tanto que, na verdade, já não teríamos mais o mesmo jogo", disse o astrofísico à Folha. "Muitas pessoas dizem que um certo grau de incerteza é parte da graça do futebol, mas é algo que me incomoda ver tantos jogos acontecerem, e tudo ir abaixo por conta dum único resultado."

Um formato de torneio como o Campeonato Brasileiro, em que todos os times se enfrentam e o resultado é a soma dos pontos corridos, certamente diminuiria esse risco, mas provavelmente não reduziria o número total de zebras. Além disso, esse tipo de estrutura requer uma quantidade de jogos inviável para uma Copa.

O futebol, então, está condenado à caixinha de surpresas?

Um pesquisador da USP que leu o estudo de Skinner a pedido da Folha diz que o trabalho é um exercício intrigante, mas questiona aquilo que os cientistas adotam como definição de o "melhor" time. Tiago Tranjan, especialista em filosofia da matemática, diz que o Brasileirão mede a "regularidade" de um time, enquanto a Copa mede sua "capacidade de decisão" em momentos cruciais. São qualidades distintas.

Além disso, tríades são ruins para avaliar se um resultado é justo, diz. "Esses triângulos com "zebra" existem até em torneios de xadrez, um jogo onde em tese não existe sorte", diz.

Tranjan diz que um estudo levando tudo isso em conta indicaria que o futebol não é mais "injusto" que o basquete. Nenhum cientista qualificado, porém, dispôs-se a fazê-lo ainda.





Fonte: Folha de S.Paulo

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