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Internacional
Domingo - 19 de Abril de 2009 às 19:09

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Está marcado para amanhã o enforcamento da pintora iraniana Delara Darabi. Ela tem 23 anos e está presa no cárcere da cidade de Rasht (norte do Irã) desde 2003, quando contava com 17 anos de idade.

Ela é nascida na cidade de Rasht, localizada próxima ao Mar Cáspio. Os quadros pintados por Delara na prisão foram exibidos no exterior graças a ativista de direitos humanos Lily Mazahery.

Em 2007, Delara tentou o suicídio ao cortar as veias dos braços.

O seu genitor, em lágrimas, recorda ter sido na noite de 28 de dezembro de 2003 informado do assassinato da sobrinha Mahin, de 58 anos de idade. Como Delara havia dito-lhe que apunhalara a prima, entendeu em encaminhá-la à polícia: “Pensei em fazer isso no interesse da Justiça”, declara o desesperado pai.

Hoje, o genitor de Delara não deixa de se culpar por aquele ato de entrega da filha à polícia. Entende ter se precipitado. Isto porque não tem nenhuma dúvida sobre a inocência da filha: laudo pericial oficial demonstrou ter sido um destro o autor da punhalada, quando Delara é canhota: seu namorado é destro, informaram os peritos.

Delara se retratou da confissão na Justiça. Declarou que apenas havia confessado a autoria do homicídio para poupar o namorado Amir Hossain, de 19 anos de idade e, caso fosse culpado, sujeito à pena de morte. E ela motivou sua retratação: imaginava Delara, como contou no Tribunal, que por ser menor de idade estaria livre de uma condenação à pena de morte. Mais, pouparia o namorado que amava.

Puro engano de Delara pois, pelas leis iranianas, ela já era considerada responsável criminalmente: confira na retrospectiva abaixo sobre menoridade penal no Irã.

Como a decisão condenatória à pena capital já transitou em julgado, o pai de Delara tenta desesperadamente obter o perdão da família da vítima. Essa é uma saída legal para evitar o enforcamento. A outra seria um decreto de clemência do governo teocrático do Irã.

Hoje, a imprensa de Teerã e a européia publicam uma carta-aberta do pai de Delara endereçada a Haeedeh Amir Eftekhari, o único dos cinco filhos da vítima do crime que se recusa a aceitar o perdão de Delara: confira na retrospectiva abaixo o perdão segundo a lei iraniana.

Na carta-aberta, o pai de Delara usa de habilidade e recebeu instruções do advogado Abdolsamad Khorramshahi, o mesmo que defendeu Roxana Saberi, nascida nos EUA :pai iraniano e mãe japonesa. Os jornais de hoje (incluída matéria da Folha de S.Paulo e nota do Estado de S.Paulo) noticiam a condenação a 8 anos de prisão por espionagem.

A habilidade do pai de Delara consistiu, na carta-aberta, em admitir que a filha cometeu um grave erro. Só depois de frisar e repisar sobre o erro da filha é que ele toca na sua inocência.

PANO RÁPIDO. No mês de junho próximo haverá eleições para a presidência do Irã.

O atual presidente Mahmoud Ahmadinejad concorre com o opositor Mir Hossein Mousani. E é atacado por algumas trapalhadas em face da sua política externa de confronto com os EUA, ONU e União Européia em face do programa nuclear iraniano.

Ontem, durante a parada de aniversário das forças armadas iranianas, Ahmadinejad proferiu um surpreendente discurso moderado, visto como uma resposta às mãos que foram estendidas pelo presidente Barack Obama: o Irã rompeu com os EUA quando da revolução islâmica de 1979.

Ahmadinejad destacou estar a República islâmica “ pronta para contribuir com a estabilidade e a paz”.

O atual problema político de Ahmadinejad diz respeito às suas posturas anteriores. O país, internamente, é mal conduzido e atravessa grave crise econômica, muito sentida pela população. Ahmadinejad, para desviar o foco, procura desviar a atenção dos iranianos para a questão internacional e se apresentar como o principal líder internacional de resistência aos EUA.

Com a eleição de Barack Obama e a mudança de cenário, o presidente Ahmadinejad precisou mudar políticas e comportamentos ensaiados. Aí, esbarra com problemas. Por exemplo, as condenações de Roxana Saberi e de Delara.

A primeira das supracitadas condenações, tem viés político-provocatório. Fora de oportunidade, pois que Bush já foi para casa.

A segunda condenação encontra resistência das organizações internacionais de proteção a direitos humanos, quando o Irã de Ahmadinejad é o segundo país que mais impõe penas capitais: perde para a China.

Fora isso, existe o misterioso assassinato, em 2003 e dentro da prisão, da jornalista canadense Zahra Kazemi.

A condenação por espionagem de Roxana Saberi, de 31 anos de idade, foi política e lançada pela Corte Revolucionária Iraniana, competente para questões consideradas de segurança nacional. Ela foi miss Dakota do Norte.

Por ser filha de iraniano radicado nos EUA recebeu permissão para residência temporária como correspondente da agência Feature Story News, em 2002. Não conseguiu a renovação do visto de permanência e passou a atuar, ilegalmente, como jornalista independente, a vender matérias sobre o Irã. Deu-se mal e acabou enquadrada como espiã norte-americana, em decisão que beira o ridículo. A simples permanência ilegal em solo iraniano conduziu à conclusão de espionagem.

Esse quadro era ideal para Ahmadinejad à época de Bush. Agora, está fora de propósito e pode complicar a pretensão de reeeleição do atual presidente.

Com efeito, no campo geopolítico, a clemência ou o perdão a Delara poderá surgir (até por pressão ao resistente filho da vítima) e , em sede de apelo, Roxana poderá alcançar absolvição e ser expulsa para os EUA.





Fonte: Terra

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