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Saúde
Terça - 14 de Abril de 2009 às 10:53

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A luta centenária contra a doença de Chagas, e o Trypanosoma cruzi, pode ter novos capítulos, apesar de tardios, nos próximos meses. As duas drogas usadas atualmente contra a moléstia têm mais de 30 anos e não conseguem uma eficiência de cura maior que 70%. Não existe, por exemplo, um tratamento específico para crianças. Nas Américas, 14 mil pessoas morrem com a doença por ano. No Brasil, como há grávidas que não sabem da infecção, 5.000 crianças nascem doentes todo ano, em média.

"O Trypanosoma é difícil, ele fica encastoado. O chagásico não tem como pagar consulta. A população que tem a doença depende do Estado para diagnóstico, remédio e atendimento", diz João Carlos Dias, médico e pesquisador da Fiocruz.

Uma das limitações no tratamento de mal de Chagas, porém, poderá ser sanada em 2010. A ONG DNDI (Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas, sigla em inglês) desenvolve com o Lafepe (Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco) uma versão infantil do medicamento benzonidazol.

Usado há três décadas em adultos chagásicos, o comprimido da droga, hoje, precisa ser dividido em pedaços para ser dado a crianças, maneira insegura de controlar a dosagem.

Outra opção que pode virar realidade é o uso de células-tronco adultas para reparar o coração, órgão atacado pelo mal de Chagas. O principal estudo feito hoje no país com a técnica está acompanhando 300 doentes, que saberão dos resultados em meados do ano.

A prevalência de Chagas no Brasil não é a mais dramática da América Latina, porque a transmissão da doença pelo inseto barbeiro está sob controle. Novos casos estão limitados a infecção por consumo de alimentos contaminados, mas ninguém aqui pode "deitar sobre os louros", afirma Dias. "A vigilância terá que continuar por décadas", diz. Em compensação, em outras regiões das Américas há muito a ser feito ainda, afirma o pesquisador.

"Alguns países estão com o combate um pouco atrasado. A Bolívia é o exemplo maior. Em seguida vem o Paraguai e alguns países da América Central, principalmente Honduras e Guatemala", diz Dias. Segundo o cientista, até a Argentina, "que é tão pioneira quanto o Brasil em inovação tecnológica", tem províncias onde o mal de Chagas se espalha.

Dados oficiais do governo argentino mostram que a situação é crítica em sete províncias nacionais, onde os barbeiros estão infestando mais de 5% das casas. As zonas mais pobres, como Formosa, Chaco e Santiago Del Estero, no norte do país, estão nessa lista.

Negligência

Ao todo, segundo levantamento da DNDI, 41.200 novos casos, transmitidos diretamente pelo barbeiro, são registrados em países da América Central e do Sul por ano. A pior situação está na Bolívia, com 10.300 registros inéditos.

"A Doença de Chagas é negligenciada sobre vários aspectos [não apenas pelo tratamento]", diz a farmacêutica Gabriela Chaves, da ONG Médicos Sem Fronteiras. Na Bolívia, onde a ONG atua em parceria com o Estado, a atenção primária de saúde aliada a um diagnóstico precoce para que o início do tratamento seja rápido é o caminho mais eficaz para melhorar a qualidade de vida dos doentes, diz Chaves.

Essa tática teve certo sucesso em cidades como Cochabamba. Na zona periférica, com 13 mil pessoas contaminadas, o tratamento já vem sendo oferecido.

Uma abordagem semelhante pode ser adotada em algumas regiões do Brasil, diz Chaves. "Na Amazônia existem novas áreas onde a doença pode estar se instalando", afirma.





Fonte: Folha de S.Paulo

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