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Saúde
Terça - 04 de Novembro de 2008 às 10:02

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Depois de diminuir por quatro décadas, a incidência de artrite reumatóide está subindo entre mulheres nos EUA. A descoberta foi apresentada por pesquisadores da Clínica Mayo no último encontro anual do Colégio Americano de Reumatologia, que ocorreu de 24 a 29 de outubro, em São Francisco.

Comparado à década anterior, quando aproximadamente 36 em cada 100 mil mulheres desenvolviam artrite reumatóide a cada ano, de 1995 a 2005 esse índice passou para 54 em cada 100 mil. A incidência entre os homens continuou de 29 para cada 100 mil --mulheres são mais suscetíveis, ainda não se sabe por quê. A porcentagem da população com a doença foi de 0,85% para 0,95%.

Os cientistas não sabem os motivos para o crescimento, mas apostam em fatores ambientais. O fumo, por exemplo, aumenta o risco da doença. Também se pesquisam se agentes infecciosos poderiam ter relação.

"Infecções podem estimular o sistema imune, e a artrite tem a ver com uma desordem desse sistema. Mas não há um agente específico tido como desencadeador", diz José Carlos Szajubok, presidente da Sociedade Paulista de Reumatologia. Trata-se de uma doença auto-imune --quando as células de defesa agem contra o próprio organismo.

Para ele, outro fator ambiental que pode ajudar a explicar os dados é o estresse --tido como possível gatilho para o problema, de causa desconhecida.

Segundo os cientistas da Mayo, são necessários mais estudos para entender o fenômeno --assim como as causas e os tratamentos dessa doença "devastadora". O problema pode levar à inflamação das articulações, rigidez, dor, lesões irreversíveis nos ossos e deformidades. Diagnóstico precoce e tratamento correto reduzem danos, mas não há cura.

A melhora no diagnóstico é, aliás, outra provável explicação para os números da pesquisa, diz Szajubok. O que haveria, portanto, é uma maior detecção da doença, e não um aumento. "Hoje temos um novo exame, o anti-CCP, que detecta sinais da doença precocemente." Sílvio Figueira Antonio, reumatologista do Hospital do Servidor Público Estadual, cita também exames de imagem como a ressonância magnética de extremidades, que identifica inflamações articulares e alterações ósseas antes do raio-X.

Gustavo Costa, reumatologista do Hospital de Base de Brasília, acredita que é preciso cautela ao extrapolar os dados para o Brasil, pois um estudo mostrou que há diferenças nas características da artrite reumatóide na América Latina em relação aos países ricos. "Não sabemos o porquê, mas, enquanto se diz que a doença afeta de três a quatro mulheres para cada homem, na nossa população afeta oito. E parece que, se o pico da doença ocorre entre os 40 e os 50 anos nos EUA, aqui ocorre entre os 30 e os 40."

Novo tratamento

Segundo Geraldo Castelar Pinheiro, professor de reumatologia da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), uma questão que dificulta o diagnóstico precoce é que muita gente acaba tomando remédios apenas para aliviar os sintomas e não busca um médico a tempo. "A pessoa acha que toda 'dor nas juntas' é reumatismo e fica se tratando com o antiinflamatório indicado pelo vizinho. Na verdade, reumatismo não é uma doença específica. A artrite reumatóide é só um dos mais de 120 tipos de reumatismo."

Hoje, o tratamento mais novo é com os remédios biológicos --tido como um grande avanço, mas com a desvantagem do custo, que chega a R$ 10 mil mensais. Há três classes desses medicamentos no Brasil, mas, também no encontro do ACR, foi apresentado o primeiro de uma quarta classe, o tocilizumab, da Roche. Ele atua inibindo a interleucina 6, substância produzida em excesso por pessoas com artrite.

Segundo Szajubok, pode ser uma boa opção para quem não responde aos tratamentos atuais. A Roche acredita que ele seja aprovado no país em 2009.





Fonte: Folha de S.Paulo

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