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Saúde
Segunda - 24 de Março de 2008 às 09:23

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Um grupo de pesquisadores da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) conseguiu apagar a memória de ratos em um experimento que aponta para uma nova classe de medicamentos psiquiátricos. Usando roedores para simular o TEPT (transtorno do estresse pós-traumático), os cientistas conseguiram mostrar que uma droga experimental pode servir para tratar humanos.

Com a pesquisa, divulgada para a comunidade científica em fevereiro, o grupo gaúcho entra na corrida pela busca de fármacos mais adequados para atacar o problema.

O TEPT faz vítimas entre veteranos de guerra, moradores de grandes cidades submetidos à violência, seqüestrados e sobreviventes de catástrofes. Elas têm constantes pesadelos e "flashbacks" dos traumas que viveram. Ao associar esses eventos a elementos do dia-a-dia, em geral sofrem de ansiedade e não conseguem retomar sua vida normal.

Atualmente, o tratamento do problema consiste em terapia comportamental e acompanhamento psiquiátrico com medicamentos, mas as drogas usadas hoje não são muito específicas para os sintomas.

"Em geral os medicamentos que se usa [no TEPT] são aqueles para tratar outros transtornos, como os antidepressivos", diz o farmacólogo Rafael Roesler, que liderou a pesquisa.

O cientista, porém, parece ter encontrado um fármaco que ataca um alvo mais adequado: a proteína GRPR, que consolida alguns tipos de memória no cérebro. "Essa molécula parece estar especificamente relacionada quando há algo que envolva trauma, estresse e esse tipo de coisa", diz Roesler.

Usando um modelo experimental que simula traumas em ratos, Roesler conseguiu mostrar a eficácia da droga experimental RC-3095, cuja segurança já foi atestada em ensaios clínicos para o tratamento de câncer. Ela bloqueia a proteína GRPR, o que a torna séria candidata a testes contra TEPT também. "Não acho que estejam longe [de começar]."

Uma vantagem de atacar a GRPR, em relação a outras estratégias, é que ela não parece afetar a manutenção de memórias sem carga traumática. "Quando estudamos modelos animais de memória mais neutros, a GRPR não parece ter papel importante", diz Roesler.

Ratos estressados

Para simular o transtorno humano usando ratos, Roesler usou um modelo de experimento que já está difundido. Primeiro, o grupo impõe um "trauma" aos animais, aplicando choques em suas patas quando eles caminham em um determinado setor de suas gaiolas.

Após deixar um roedor fora do local algum tempo, o pesquisador o leva de volta à cena inicial e verifica se ele evita pisar no setor que estava eletrificado. Mesmo sem levar choque depois do retorno, o animal costuma evitar a área.

"Mas no nosso experimento, quando aplicamos a droga, nós conseguimos apagar temporariamente essa memória e o animal acabou voltando ao local", diz Roesler. O trabalho foi descrito em um estudo na revista científica "Current Neurovascular Research".

A publicação do artigo coloca o grupo gaúcho na cena onde hoje despontam cientistas como o americano Joseph LeDoux, da Universidade de Nova York, que anunciou o sucesso de testes para tratar traumas em animais no começo do ano passado. A droga que havia sido usada pelo americano, porém, ainda é proibida para uso em humanos.

Além de trabalhar com drogas que inibem a GRPR, Roesler mantém uma linha de pesquisa de fármacos que estimulam a produção dessa proteína no organismo. Em 2006, o grupo gaúcho --que inclui o médico Gilberto Schwartsmann, da UFRGS-- já havia mostrado que essa abordagem invertida pode ser útil na busca de drogas contra o mal de Alzheimer.

Usando uma proteína derivada de um sapo, os gaúchos conseguiram sanar, em ratos, problemas de formação de memória que caracterizam a doença.





Fonte: Folha de S.Paulo

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