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Saúde
Quarta - 12 de Março de 2008 às 15:25

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A sigla SATB1 tem boas chances de se tornar conhecida -- e temida -- entre todas as mulheres com suspeita de câncer de mama. Se um novo estudo estiver correto, o gene designado pela sigla é um dos fatores mais importantes para a agressividade e a capacidade invasiva desse tipo de tumor, aumentando muito as chances de que o câncer se espalhe para outras regiões do corpo. E, se for possível desativar o SATB1, também surgirá a oportunidade de impedir esse ataque e trazer as células mamárias de volta ao normal.

O papel do gene SATB1 como um "poderoso chefão" do câncer de mama está sendo elucidado por uma equipe de pesquisadores da Universidade da Califórnia em Berkeley e do Centro do Câncer Fox Chase, ambos nos Estados Unidos. Em experimentos com células humanas e camundongos, publicados na edição desta semana da revista científica "Nature", eles mostraram a influência do SATB1 por uma imensa rede de DNA. São quase mil genes cuja ação é alterada pelo "poderoso chefão", e o resultado final é um aumento impressionante da agressividade do câncer de mama.

"É como uma chave que abre a porta para muitos processos biológicos -- nesse caso, os processos relacionados com o comportamento mais agressivo do tumor", compara o médico argentino naturalizado americano José Russo, um dos autores do estudo.

O trabalho foi coordenado por um casal de japoneses, formado pela pesquisadora Terumi Kohwi-Shigematsu e seu marido Yoshinori Kohwi, ambos trabalhando na Califórnia. Para Kohwi-Shigematsu, a melhor maneira de definir o SATB1 é considerá-lo um organizador do genoma. "Ele é um regulador-mestre, sintonizando os padrões de funcionamento dos genes ligados ao surgimento de metástase e induzindo o crescimento dos tumores", explica ela. A metástase é o espalhamento do câncer para regiões distantes do local onde ele apareceu inicialmente -- um evento muito temido, porque fica bem mais difícil controlar a doença quando ela avança pelo corpo.

O SATB1 parece manipular seus companheiros porque a proteína codificada por ele cria estruturas em forma de "gaiola" em volta dos demais genes, de forma que alguns trechos de DNA são "ligados" e outros são "desligados" em massa, de uma vez só. Os pesquisadores conseguiram discernir alguns dos efeitos desse processo: as células de câncer de mama cujo SATB1 está ativo se multiplicam mais rápido. Além disso, têm imensa facilidade em cair na corrente sangüínea e atingir outros órgãos, causando metástases. "É definitivamente o gene mais importante para metástases entre os estudados até hoje", diz a pesquisadora japonesa.

Isso significa que a ativação do gene vai realizar o mesmo truque maligno em outros tecidos? Não necessariamente. "Sabemos que ele é o vilão no câncer de mama. Nas células T [células de defesa do organismo], ele ativa as citocinas [substâncias importâncias para a reação do corpo a um invasor]. E temos observações preliminares que indicam sua ação nos tumores de pulmão e cólon", afirma Kohwi-Shigematsu.

Para a pesquisadora, o gene pode se tornar um alvo importantíssimo para novos medicamentos contra o câncer de mama. "Por enquanto, porém, o uso mais direto dele vai ser como uma ferramenta de prognóstico, para saber qual paciente vai precisar de um tratamento mais agressivo", explica a japonesa. É uma tendência importante nos estudos genéticos contra o câncer. Sabendo quais genes devem gerar metástase, os médicos podem estimar com antecedência qual paciente terá mais dificuldades no tratamento e, portanto, dar atenção especial a ela.





Fonte: G1

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