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Educação/Vestibular
Terça - 11 de Março de 2008 às 21:06
Por: Valdeque Matos

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A cuiabana Camila Fernandes Beckenkamp (19), embarca para Havana, Cuba, nesta terça-feira, dia 12, às 23h30, rumo à realização de um sonho: estudar medicina. Ela é uma das quatro estudantes indicadas pelo PPS para cursar, gratuitamente, o curso na 'ilha de Fidel', que agora quer se fazer notar também por formar e "exportar" médicos.

"Estou indo para Cuba realizar o sonho da medicina, o sonho que me fez lutar nos últimos três anos para buscar as condições para que se tornasse realidade. Agora vou estuda num país que tem a melhor medicina do mundo e que trabalha uma saúde humanista, uma saúde para o povo", diz a estudante, que é filiada ao PPS há dois anos e milita na JPS (Juventude Popular Socialista). "Nada me assusta – cultura e comida diferentes - e o que me deixa com o coração apertado é ter de ficar longe dos meus pais, meus dois irmãos e amigos tanto tempo", completou.

Camila ficará em Cuba seis anos e estudará na Elam (Escola Latino-Americana de Medicina). Criada em 1999 em Havana, a escola tem hoje 10 mil estudantes de 24 países. São cerca de 600 brasileiros distribuídos pelos seis anos do curso. Junto com Camila, outros 99 bolsistas desembarcam ainda esse ano na ilha. O número é o dobro de vagas oferecido pela UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso).

Determinada, a filha mais velha da cuiabana Diná Fernandes com o catarinense Paulo Beckenkamp, conta que sempre quis fazer medicina. "Ao concluir o ensino médio - há três anos - , eu tinha certeza do que queria fazer medicina, mesmo sabendo que seria muito difícil, pois na universidade pública é muito concorrido e na particular muito caro e meus pais não têm condições de pagar. Então, comecei a buscar os meios para concretizar este meu desejo", diz a ex-aluna da escola estadual Adalgiza de Barros, em Várzea Grande, onde mora atualmente.

"Ao saber que o partido (PPS) estava selecionando candidatos para ir estudar medicina em Cuba eu não pensei duas vezes: candidatei-me e, felizmente, fui uma das escolhidas", comemora Camila, que viajará com a passagem paga pelo Diretório Nacional do PPS.

Para ela, ao convidar jovens para estudar, Cuba, "que vem enfrentando um bloqueio internacional irracional, mas permanece com seu espírito de solidariedade, dá uma oportunidade a alunos, que aqui (Brasil) não teriam condições de ir para uma faculdade, em estudar, com estudantes do mundo todo, uma medicina de excelência, preventiva e de cuidados básicos", destaca.

Os jovens como Camila que estão viajando para Cuba – assim como aqueles que estão lá ou já retornaram – são militantes de partidos de esquerda ou que representam os principais grupos excluídos do país. São militantes dos Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, quilombolas, indígenas, moradores de favelas, integrantes de comunidades carentes do país inteiro, incluindo ex-meninos de rua recolhidos em abrigos.

De acordo com Camila, as bolsas são oferecidas pelo governo cubano por meio de suas representações nos diferentes países. Essas representações, por sua vez, encaminham os convites a partidos políticos, entidades e movimentos sociais, que finalmente indicam os candidatos. "Existem três fases de seleção: municipal, estadual e nacional. O PPS nacional tinha quatro vagas e eu fui uma das seleçionadas", relata.

Dérick Vasconcelos, presidente da JPS/MT, ressalta que para ser indicado pelo PPS à vaga, o candidato deve ter militância reconhecida pelo Diretório da JPS em seu estado ou filiação ao partido, não estar (nem ter estado) matriculado em entidade de ensino superior e não ter recursos econômicos para custear.

Além disso, acrescenta ele, os candidatos precisam ter o ensino médio completo – com Física, Química e Biologia em todos os anos – e passar por prova e entrevista no próprio consulado, que dá a palavra final.

Camila comenta que nos primeiros seis meses, já em Havana, os bolsistas seguem um curso "pré-médico", que tenta reduzir as diferenças entre os alunos. Segundo ela, depois, os estudantes fazem dois anos de clínica médica em Havana. Posteriormente, continuam por outros quatro anos em hospitais universitários de diferentes regiões do país. Retornam ao Brasil como clínicos gerais, mas não podem exercer a profissão enquanto não tiverem seus diplomas validados por uma universidade pública.

Acordo - Aí, no retorno, começa outra parte difícil dessa empreitada, mas que mais uma vez não desanima Camila. Por enquanto, nenhum dos cerca de 150 que já retornaram de Cuba conseguiu autorização para trabalhar. "Existe já um acordo bilateral firmado entre os dois países e que aguarda a validação do Congresso Nacional", assinala Camila, acrescentando que pela legislação brasileira, o estudante formado no exterior deve passar por um exame que revalide seu diploma para ter o direito de exercer a profissão aqui.

No acordo a qual Camila se referiu, duas opções são oferecidas. A primeira delas, que já vigora, permite que qualquer profissional formado fora do Brasil valide seu diploma por meio de um exame em universidade pública. A segunda é a complementação de matérias para aqueles que ainda estão cursando ou irão cursar – ou seja, por meio de acordos entre universidades brasileiras e a Elam, as matérias do currículo brasileiro que não constam do cubano seriam ensinadas complementarmente.





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