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Meio Ambiente
Domingo - 15 de Abril de 2007 às 07:46

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A enchente rigorosa no Pantanal mato-grossense este ano pode causar um prejuízo de R$ 120 milhões à pecuária. Grande parte dos rios que formam o Pantanal nasce em Mato Grosso. Por aqui, eles já causaram enchentes em Poconé, Cáceres e Barão de Melgaço. Agora, a cheia começa a afetar os pecuaristas de Mato Grosso do Sul, que se vêem obrigados a transportar o gado para regiões mais elevadas.

Dezenove anos atrás, no dia 15 de abril de 1988, foi registrada a maior enchente da história do Pantanal. Naquela época cerca de 95% da planície do Pantanal foram alagados e as águas do rio Paraguai atingiram o nível de 6,64 metros. Esta semana, o rio Paraguai em Cáceres chegou a 4,40 metros, nível considerado normal. A cheia, que causou prejuízos em Mato Grosso, agora começa a preocupar os sul-mato-grossenses.

O professor Pierre Girard, do Centro de Pesquisas do Pantanal (CPP), da Universidade Federal de Mato Grosso, explica que a maior parte da área do Pantanal – aproximadamente dois terços – está em Mato Grosso do Sul. No entanto, os rios nascem em Mato Grosso, sendo que os principais formadores são o rio Cuiabá, Paraguai, Sepotuba, Cabaçal, Jauru e São Lourenço. "A maior área, o maior rebanho e maiores prejuízos econômicos podem estar em Mato Grosso do Sul, mas a maioria dos rios está em Mato Grosso", disse o professor.

De acordo com o veterinário Urbano Gomes de Abreu, pesquisador da Embrapa Pantanal, o prejuízo de R$ 120 milhões é referente apenas ao município de Corumbá (MS). Isto porque ainda não há um estudo sobre os estragos provocados pela chuva deste ano em todo o Pantanal, abrangendo os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. No entanto, levando-se em consideração toda a extensão da maior planície alagada do mundo, esses números devem atingir proporções bem maiores.

Urbano de Abreu disse que haverá necessidade de deslocamento de aproximadamente 528 mil animais, só em Corumbá, além de problemas com a infra-estrutura das propriedades. Também ficou de fora do levantamento feito pelo pesquisador da Embrapa Pantanal (unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Mapa), a mortalidade de outras categorias como novilhas de reposição e touro reprodutor.

Segundo Urbano, o rebanho bovino estimado para a região do Pantanal do município soma 1.533.114 reses, que ocupam área de 6.231.100 hectares (ha) (ou 62.311 km²). "Considerando que cerca de 15,3 mil reses permanecem na parte não-inundável do município, é estimado um total de 1.517.814 reses no Pantanal de Corumbá, sendo a taxa de lotação média de 4,1 hectares para cada rês", afirmou.

O veterinário diz ainda que, em situação de enchente rigorosa, é preciso retirar praticamente todo o gado das áreas influenciadas pelos rios Paraguai, Abobral e Nabileque. De acordo com Urbano de Abreu, a região do Abobral, em Corumbá, é uma das mais baixas do Pantanal, e uma das primeiras a receber o impacto da grande quantidade de água que desce de Mato Grosso em direção a Mato Grosso do Sul.

"O Pantanal é uma grande planície e a principal calha é o rio Paraguai. Alimentado pelos rios São Lourenço, Sepotuba, Cuiabá e outras dezenas de pequenos rios em Mato Grosso, a tendência primeira é inundar algumas regiões mato-grossenses. Em seguida essa água começa a descer, atingindo Mato Grosso do Sul. A água que já provocou enchentes em Cáceres, Poconé, Barão de Melgaço e toda a região do Pantanal em Mato Grosso no início do ano. Só agora, três meses depois, começa a chegar no Pantanal Sul-mato-grossense", disse, ao RMT Online, o pesquisador Urbano Gomes de Abreu.

Mato Grosso

O professor Pierre Girard disse ao RMT Online que é muito difícil e perigoso dividir o Pantanal entre os dois Estados. "O Pantanal é um grande ecossistema, como se fosse uma peça única. Não temos um estudo específico sobre os prejuízos provocados pelas enchentes deste ano em Mato Grosso, mas acredito que o impacto é o mesmo. A diferença é que a quantidade de gado no Pantanal é bem maior do lado do Mato Grosso do Sul. Por isso, talvez os prejuízos sejam maiores no outro Estado e não em Mato Grosso", disse o pesquisador da UFMT.

Os estudos deste ano mostraram um deslocamento de área das grandes precipitações pluviométricas. "Em 2006, os grandes temporais caíram no planalto, sobre os rios e córregos que deságuam no Pantanal. Nesse caso a reação é diferente. A enchente só chega ao Pantanal alguns dias depois das chuvas. Funciona como um efeito retardado e a principal calha do Pantanal, o rio Paraguai, vai subindo com o passar das horas. Mas em 2007 os grandes temporais mudaram de rota e caíram diretamente sobre o Pantanal, provocando um alagamento rápido. Áreas que estão concentradas dentro da grande planície alagada e comunidades ribeirinhas sofrem uma inundação instantânea", disse o pesquisador Pierre Girard ao RMT Online.

Contabilidade do prejuízo

As enchentes de janeiro e fevereiro em Mato Grosso começam a refletir agora em Mato Grosso do Sul. A previsão é de que o ápice das inundações em Corumbá e outras regiões de Mato Grosso do Sul será no mês de maio. O deslocamento de animais já começou. Os principais prejuízos são acarretados pela retirada do gado, morte de grande parte do rebanho, perda de peso e produtividade. Os efeitos das enchentes se prolongarão pelos próximos dois anos.

Esse cenário tem como conseqüência a diminuição de 45% das áreas para criação de bovinos. "É por isso que o excedente tem que ser retirado do Pantanal de Corumbá", afirma Urbano. O rebanho do Pantanal tem a característica de realizar o ciclo produtivo da cria. Permanecerão no Pantanal corumbaense 445.366 vacas de cria, principal unidade produtiva do sistema de produção pecuário.

"Em enchentes fortes, estima-se que ocorra a morte de 5% das vacas, especialmente das mais velhas. Isso diminuirá o número de matrizes na região para 423.098 animais, fato que resulta em um prejuízo direto para a atividade pecuária da região estimado em R$ 8,9 milhões". Nesta situação, outra perda financeira direta para a atividade é a redução do peso das vacas e sua conseqüente queda na produtividade futura. Urbano diz que em janeiro as vacas criadas no Pantanal geralmente estão em bom estado de condição corporal (ECC), média de cinco (em escala que varia de um a nove), com peso calculado de 390 quilos.

Com queda estimada de dois pontos no ECC, em uma situação de grande cheia, as matrizes perderiam, em média, 4,2 arrobas. Considerando o rebanho total da região, estima-se a perda média em todo rebanho de 1.790.550 arrobas. Com o preço da arroba atual de R$ 49 para vaca não rastreada - condição mais comum no Pantanal - contabiliza-se prejuízo de R$ 87.736.940. Outro ponto de perda importante para a atividade é a diminuição da taxa de natalidade na época de nascimento subseqüente. "Avalia-se que essa taxa cai em até 10 pontos percentuais", afirma o pesquisador. Como no Pantanal, em média, a natalidade está em torno de 56%, a taxa diminuiria para 46%. Esse percentual reduziria o nascimento em 42.310 bezerros, com prejuízo estimado em R$ 14.385.325, que os produtores locais vão deixar de receber devido à baixa produtividade após ano de enchente rigorosa.

O último ponto a ser considerado é a morte dos bezerros nascidos no período de grande enchente devido à falta de condição das vacas, especialmente as mais novas. Elas seriam incapazes de fornecer ambiente materno que possibilite ao bezerro crescer em boas condições. "Ou seja, há perda na produção de bezerros que é calculada em 10%, o que perfaz um prejuízo direto de R$ 8.055.781", conclui Urbano.

Enchente

A última grande cheia no Pantanal foi em 1995, quando o rio Paraguai atingiu o pico de 6,56 metros. Esse índice ficou seis centímetros abaixo da maior enchente, registrada em abril de 1988, quando o rio Paraguai alcançou 6,64 metros.

A cheia que causou mais prejuízos para a pecuária, no entanto, foi a de 1974. Naquele ano, milhares de cabeças de gado morreram. Apesar do nível máximo dessa cheia ter sido inferior a seis metros (5,46m), o fato dela ter ocorrido após o mais longo período de seca do Pantanal pegou os pecuaristas de surpresa. Durante o período de 1964 a 1973, que antecedeu a essa cheia, o nível máximo registrado na régua de Ladário (MS), havia sido de apenas 2,74 metros.





Fonte: RMT-Online

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