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Saúde
Segunda - 26 de Março de 2007 às 09:15

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Quando o assunto é cigarro, médicos e pacientes parecem não se entender. Isso é o que revela um estudo apresentado no Congresso do Colégio Norte-Americano de Cardiologia, em Nova Orleans, EUA. Promovida pelo laboratório Pfizer, a pesquisa compara o resultado de mais de 6 mil entrevistas e aponta resultados preocupantes, como a diferença entre o número de médicos que informam seus pacientes sobre os riscos do tabaco e quantos deles se dizem realmente informados.

No estudo, realizado em 16 países, como México, Japão, EUA e Inglaterra - o Brasil não participou -, 41% dos médicos ouvidos dizem alertar sobre o cigarro em todas as consultas. O percentual de pacientes que confirmam essa afirmação, no entanto cai para 9%.

Quando a pergunta é se eles tocam no assunto esporadicamente, 83% dos médicos garantem que sim. Mais uma vez, uma grande diferença: apenas 15 % dos fumantes confirmam. "É essencial que haja um diálogo entre médico e fumante para garantir que ele esteja motivado, recebendo o apoio necessário e o conselho adequado, o medicamento correto para ajudá-lo a parar de fumar", disse Andrew Pipe, diretor médico do Instituto de Prevenção Cardíaca e Centro de Reabilitação da Universidade de Ottawa, no Canadá, um dos participantes da pesquisa.

Porém, nem sempre isso acontece. Enquanto 66% dos médicos dizem ensinar aos tabagistas várias formas para abandonar o vício do cigarro, os fumantes dizem que apenas 33% dos médicos fazem isso de fato. Um dado chama a atenção na pesquisa: 36% dos pacientes acham que o médico não tem tempo durante as consultas para ajudá-los a parar de fumar.

Para 51% dos médicos isso é verdade. "Se vamos entrar de cabeça no combate contra a principal causa evitável das mortes prematuras, precisamos mudar radicalmente a forma como o tabagismo é visto e tratado mundialmente", afirma Robert West, do Cancer Research UK, na Inglaterra, também participante da pesquisa. Inca

Para Valéria Cunha, chefe-adjunta da Divisão de Controle do Tabagismo do Instituto Nacional de Câncer (Inca), essa realidade se repete no Brasil, onde cerca de 20% da população com mais de 15 anos fuma. Apesar do tabagismo ser classificado como doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 1997, e dos males do cigarro serem de conhecidos pela grande maioria da população, o assunto ainda não é devidamente abordado por todos os médicos. "Nos cursos de Medicina, o tabagismo é estudado dentro do contexto de outras doenças, mas não como uma doença específica, e menos ainda o tratamento", afirma.

O resultado é o despreparo dos profissionais de saúde para tratar de maneira adequada os fumantes interessados em largar o cigarro. Uma das formas de corrigir esse quadro é um protocolo do Ministério da Saúde que orienta os médicos a fazerem uma abordagem mínima dos pacientes, com duração de 3 a 5 minutos, durante as consultas.

A prática visa a identificar a presença do vício e fumantes potencialmente tratáveis. "A aceitação social do tabagismo mudou nos últimos anos, mas a maioria dos profissionais desconhece como abordar e tratar o fumante", diz.

PrevFumo

Acostumado a tratar fumantes em situações extremas do vício, o pneumologista Sérgio Ricardo Santos, do PrevFumo, Núcleo de Apoio à Prevenção e Cessação do Tabagismo, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), concorda. Santos atua na outra ponta do tratamento, com pessoas que já tentaram outras formas de se livrar do cigarro, sem obter sucesso. Ali elas são acompanhadas durante dois meses pelo programa.

Talvez por isso reconheça a importância de identificar e tratar os tabagistas antes desse estágio. "Existem pesquisas que mostram que uma única abordagem pode elevar em até 30% a chance da pessoa parar de fumar", revela. "Quanto maior o tempo e o número de abordagens, melhores os resultados." Chance que o aposentado Manoel de Souza Machado Júnior, de 76 anos, não teve. Fumante durante 36 anos (até três maços por dia), Júnior divide hoje seu tempo entre o tratamento da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) - que o obriga a usar um tubo de oxigênio 24 horas por dia - e a presidência de uma associação de portadores da doença. "Naquela época, era diferente", diz. "Os próprios médicos fumavam."

O aposentado é de uma época anterior ao consenso dos males do tabaco. Mesmo sabendo que hoje o vício é considerado uma doença, não acredita nisso. Prefere creditar à força de vontade a única forma de largar o cigarro. "O médico pode falar o que quiser, mas, se o paciente não quiser, não adianta", diz.

Outros fatores, no entanto, como o acesso a medicamentos e acompanhamento correto, estão associados ao sucesso do tratamento, explica a cardiologista do Ambulatório de Tratamento de Tabagismo do Incor, Jaqueline Issa. Mas, a especialista faz um alerta. "Muitos médicos se sentem desconfortáveis em prescrever os medicamentos, pois sabem que terão de acompanhar esses pacientes e não estão preparados para isso", afirma.





Fonte: Tribuna da Imprensa

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