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Cultura
Segunda - 05 de Março de 2007 às 20:17

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A sabedoria popular fez de dona Domingas Leonor uma personagem peculiar no contexto cultural cuiabano. Peculiaridade essa que permeia muitas figuras femininas da comunidade São Gonçalo Beira-Rio. São mulheres que possuem intuição e sensibilidade aguçadas. Aprenderam no convívio familiar a manusear ervas, o barro, a se movimentar diante das toadas do cururu. Elas criaram seus filhos ensinando a importância da tradição, dos antepassados, o respeito pela natureza.

Nascida na beira do Rio Cuiabá, dona Domingas, 53 anos, esbanja alegria e força. Idealizadora do grupo folclórico Flor Ribeirinha, é empenhada na luta pela conservação das manifestações genuínas. Suas habilidades artísticas se revelam na cerâmica, no siriri, cururu. "Eu toco, danço, ensino, faço cerâmica", conta ela, que aprendeu todas essas artes a partir dos ensinamentos de sua avó Tola (Maria Antonia), índia coxiponé, e da mãe Joana. “Minha avó me ensinou a benzer, fazer simpatias. São riquezas que ninguém me tira", afirma. Ela conta que certa vez, uma médica levou a filha para que ela benzesse e a criança melhorou. "A fé, a oração têm muita força", explica.

Siriri - Mãe de três filhos e avó de duas crianças, dona Domingas comenta orgulhosa que todos eles são apaixonados pelo siriri, e atuam ao seu lado pela divulgação da dança, manifestação folclórica que reflete a alma da cuiabania. Antes de criar o Flor Ribeirinha, que acumula 12 anos em atividade, dona Domingas integrou o primeiro grupo de siriri, Nova Esperança. "Participamos até da novela Ana Raio e Zé Trovão. Os membros do grupo Nova Esperança foram morrendo e hoje seus filhos e netos fazem parte do Flor Ribeirinha", disse.

Um dos folguedos mais representativos da cultura popular mato-grossense, o siriri é dançado em Cuiabá há mais de 200 anos. A dança se manifesta em várias coreografias e canções diferentes que tem sempre a vida ribeirinha e as tradições religiosas como tema. Como todo folguedo popular de roda, o siriri tem um ritmo alegre e movimentado que é contagiante. "O siriri é um folguedo dançado e cantado por homens, mulheres e crianças em roda formada de pares", diz o secretário da Cultura de Cuiabá, Mario Olimpio. Ele lembra que o siriri está na tradição de Cuiabá e reflete o caldeamento das raízes indígenas, africanas, portuguesas e espanholas.

Uma das preocupações de dona Domingas é quanto ao cururu. "O siriri e o cururu andam juntos, e não há muito interesse dos jovens pelo cururu, em ser tocador", explica ela, acrescentando que é preciso incentivar a formação de mais tocadores. Neste ano, a sexta edição do Festival de Siriri dará atenção especial ao cururu, no sentido de fortalecer a arte. O Festival vai ocorrer em agosto e já no dia 17 de março tem reunião com os grupos para planejar o evento, que agrega também a realização de seminário. "Este ano, o Festival mais uma vez será um espetáculo lindo", destacou Domingas.

Mas não são somente nos palcos mato-grossenses que o Flor Ribeirinha conquistou admiradores. O grupo tem rompido as fronteiras do Estado, se apresentando em outras terras, como Belo Horizonte e Ceará. Dona Domingas conta que no Festival de Cultura de Montes Claros, em Minas Gerais, o sucesso foi tanto que rendeu convites para nova apresentação este ano. "O siriri é lindo, o figurino, o canto, a dança. Tenho muito orgulho do que eu faço", ressaltou ela, uma cuiabana que traz na essência a paixão pela sabedoria popular.





Fonte: AMM

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