Repórter News - www.reporternews.com.br
Saúde
Sábado - 03 de Março de 2007 às 10:32

    Imprimir


O caso de Connor McCreaddie, o menino inglês de 8 anos que pesa quase 90 quilos, trouxe à tona nesta semana o debate sobre a dieta de crianças, baseada freqüentemente, como no caso dele, em batatas fritas, refrigerantes, hambúrgueres e doces.

O serviço social da Inglaterra ameaçou retirar a guarda de Connor de sua mãe, o que foi descartado depois. No Brasil, não há registro de casos desse tipo. De acordo com o advogado Ricardo Cabezon, presidente da Comissão dos Direitos das Crianças e Adolescentes da OAB-SP, para que a guarda fosse retirada “seria necessário provar que a mãe age de má-fé”.

Na Inglaterra, um em cada três menores de 10 anos sofre de excesso de peso ou é obeso como Connor. No Brasil, os números são semelhantes. Segundo a Associação Brasileira de Estudos Sobre a Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), 30% das crianças e adolescentes são obesos.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2005, o país tinha 66,5 milhões de habitantes com até 19 anos. Ou seja, em todo o país, atualmente, cerca de 20 milhões de pessoas nessa faixa etária estão muito acima do peso.

Os estados das regiões Sul e Sudeste concentram o maior número de casos de obesidade infantil. “Nos últimos 20 anos, houve uma inversão nutricional. Antes, a preocupação era com a desnutrição. Agora, é com o sobrepeso”, diz Lílian Gonçalves Zaboto, pediatra da Abeso.

A obesidade pode causar nas crianças doenças consideradas de adultos. “Já temos crianças e adolescentes com diabetes tipo 2”, diz Lilian . "Além dos problemas estéticos e circulatórios, a obesidade pode provocar danos ortopédicos (como dores na coluna) e dermatológicos (estrias, celulites e micoses)".

Mudança de hábito

A coordenadora de vendas Christiane Alonso Valente, de 41 anos, sabe que essa “luta” não é fácil. Sua filha Victória, de 8 anos, faz tratamento contra a obesidade. Aos 7 anos, tinha 1,24 metro de altura e pesava 39,4 kg. O índice de gordura era de 36% e o Índice de Massa Corporal (IMC), 25,7. “Para uma criança, esses números são altos”, diz a pediatra Lilian.

Em maio do ano passado, Victória começou a regular a alimentação e a praticar mais exercícios físicos. Em sete meses, perdeu cerca de meio quilo, mas cresceu cinco centímetros, reduziu o índice de gordura em 6 pontos percentuais e o IMC está aproximadamente dois pontos mais baixo.

“Fizemos uma mudança radical. Deixei de comprar salgadinhos industrializados e bolachas recheadas e ela aprendeu a andar de bicicleta sem rodinhas”, afirma Christiane. “Todo mundo percebe a diferença e ela está mais feliz.”

A obesidade também tem uma "questão genética". Filhos de pais gordinhos têm 80% de chances de ter sobrepeso, segundo a pediatra Lilian. Christiane diz que ela e seu marido têm parentes obesos. "Nós sempre nos cuidamos e, agora, a Victória também está se conscientizando."

Participação da família

Os médicos consultados são categóricos ao afirmar que a participação dos pais é fundamental no controle da obesidade infantil.

O pediatra Ary Lopes Cardoso, chefe da Unidade de Nutrologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, diz que entrevista os pais antes de iniciar o tratamento das crianças no sistema público. Ele pede para que os responsáveis assinem um documento se comprometendo a não engordar em um período que varia de um mês e meio a dois meses. “São os pais que compram os alimentos e decidem as atividades de lazer dos filhos. Por isso, é importante o comprometimento deles”, afirma.

Os especialistas dizem que não há uma “idade correta” para o início do tratamento. “Quando os pais perceberem que a criança está acima do peso e faz queixas de que está sofrendo discriminação ou algum outro problema por causa disso, devem procurar um médico”, diz Cardoso. "Já recebi bebê de um ano no consultório com sobrepeso."

No consultório, os médicos fazem o diagnóstico clínico. Eles verificam gráficos que relacionam a idade, a altura, o peso e o sexo das crianças. Os especialistas também calculam o índice de gordura no corpo e o IMC (para saber o seu IMC, basta dividir o peso pela altura ao quadrado). A análise de todos esses números vai determinar a dieta ideal para o pequeno paciente.

O adulto que tem IMC acima de 30 está obeso. Para as crianças, os números são diferentes e variam de acordo com a idade. Aos 10 anos, podem ser considerados obesos os meninos com IMC acima de 24 e as meninas com IMC acima de 24,1.

A obesidade na infância pode ser provocada pelo sedentarismo, por erros alimentares e por distúrbios metabólicos e psicológicos. Todos esses problemas devem ser resolvidos para que a pessoa tenha uma vida saudável. Por isso, é preciso o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar: além do pediatra, a criança é “cuidada” por nutricionistas, psicólogos e educadores físicos.





Fonte: G1

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://www.reporternews.com.br/noticia/238949/visualizar/