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Saúde
Domingo - 03 de Fevereiro de 2013 às 09:19

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Chegaram, hoje, ao Brasil, 140 kits de um antídoto que será usado no tratamento dos sobreviventes da tragédia.

Médico especializado em atendimentos de urgência, Sergio Baldisserotto é o responsável pela UTI do Hospital Universitário de Santa Maria, para onde foram levados mais de cem feridos.

“A função do médico é, acima de tudo, aliviar o sofrimento, mas tanto sofrimento, junto, ao mesmo tempo, eu nunca tinha visto”, declara Sergio Baldisserotto, médico intensivista.

Foi o doutor Sérgio quem levantou a primeira suspeita de que as vitimas do incêndio da boate Kiss tivessem se intoxicado com cianeto, um elemento químico altamente tóxico e que é considerado um dos venenos mais potentes.

O cianeto está presente no tipo de espuma que revestia a boate. Quando inalado, ele ataca e inibe a ação de uma das enzimas responsáveis pela produção da energia de que as células humanas precisam para viver. O cianeto pode atacar o cérebro e provocar tremores, delírios e alucinações. Também pode provocar parada cardíaca. A vítima desse tipo de envenenamento pode morrer por asfixia ou por falência múltipla de órgãos.

O doutor Sérgio explica que o cianeto está presente no corpo humano. Especialmente, em fumantes. Mas que exames feitos dias depois da tragédia indicaram que as vítimas foram intoxicadas com níveis altíssimos da substância. Segundo o médico, os primeiros exames para detectar o cianeto no organismo foram feitos muito tarde. “As análises elas foram coletadas, isso é importante que se diga, 80 horas depois do evento traumático que a gente considera que é a hora que o incêndio começou na boate. Então, mesmo essas amostras, já tardias, vieram com níveis elevados de cianeto. Desses pacientes que vieram a falecer, essas pessoas que faleceram nessa catástrofe, provavelmente, os níveis de cianeto nessas vítimas deveria estar muito elevado”.

Assim que receberam a confirmação de que as vitimas fatais tinham alta concentração de cianeto no sangue, os médicos correram atrás do medicamento capaz de inibir a ação do veneno pra ajudar os sobreviventes. Eles descobriram que a hidroxicobalamina, que é uma vitamina B-12 injetável, só existe no Brasil em antiinflamatórios - em quantidades muito pequenas. E para neutralizar a ação do cianeto, é necessária uma concentração bem maior. E, isso, o Brasil não produz.

A saída foi recorrer ao governo americano, que fez a doação. E hoje, no sétimo dia após a tragédia, 140 kits do antídoto chegaram ao Rio Grande do Sul. O doutor Sérgio diz que o melhor seria que este medicamento já estivesse disponível, no Brasil, no momento da tragédia, para as vítimas que inalaram uma quantidade altíssima do cianeto.

“Qualquer pessoa minimamente inteligente sabe que se houvesse antídoto na hora talvez alguns pacientes que morreram ali perto, na boate, na zona de resgate, se esse fosse o mecanismo central, teriam uma chance melhor de sobreviver, obviamente teriam sobrevivido, não há como negar isso”, diz o médico.

Os kits, segundo o médico, poderiam ajudar a salvar muitas vidas, e não só em tragédias com a de Santa Maria.

“Ninguém espera uma situação como essa, ninguém planeja isso, mas a gente acredita que seja uma droga útil, que deve ter, que os serviços de bombeiros devem ter eles disponíveis nos carros de bombeiros esse tipo de kit, não pra atender uma catástrofe, as pra atender a vítima individual, que é resgatada num incêndio domiciliar”, diz o médico.

O médico diz que, agora, entre os pacientes em estado grave, cada caso deve ser acompanhado individualmente, e que não há como prever se um ou outro ferido terá mais ou menos chances de se recuperar.

Ele diz que, obviamente, as chances são maiores entre os que não estão em estado grave. Segundo o doutor Sérgio, cada recuperação de um ferido na tragédia é comemorada com orgulho e emoção pela equipe médica.

“Os pacientes menos graves, provavelmente, mesmo os que foram entubados, que tinham queimaduras de via aérea, tem tudo pra se recuperar e essa é a expectativa da gente, cada paciente que a gente consegue tirar a ventilação mecânica e trazer de volta é um motivo de festa pra nós”, diz.

Cento e quatorze feridos permanecem internados. Nenhum representante do Ministério da Saúde foi encontrado para informar por que o antídoto não estava disponível no Brasil. Numa nota divulgada ontem, o Ministério declarou que a versão mais concentrada do medicamento não é permitida no país - e que há uma discussão, dentro do governo, sobre a aprovação do uso desse produto.






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