Publicidade
Repórter News - www.reporternews.com.br
Nacional
Quinta - 18 de Maio de 2006 às 23:10
Por: Marcos de Moura e Souza

    Imprimir


Duas mulheres de detentos que integram o PCC (Primeiro Comando da Capital), facção criminosa que comanda a maior parte das prisões do Estado de São Paulo, disseram à Reuters que os contatos por telefone com seus companheiros sempre foram fáceis e constantes. Somente nos últimos dias a comunicação está suspensa.

"Geralmente, eles ligam, aparece o número e a gente já sabe que é de lá de dentro", disse uma mulher de 32 anos, que aceitou falar pessoalmente com a Reuters sob a condição de não ser identificada. Seu marido, um dos integrantes do PCC, está preso há 12 anos cumprindo pena por roubo e latrocínio.

A segunda, de 18 anos, que falou sob as mesmas condições, mantém a foto do marido na tela colorida de seu celular. Ambas visitam toda semana seus companheiros.

"A frequência com que falo com ele? Todos os dias. Todos dias as pessoas se falam. Todas as cadeias comuns têm celular", disse a jovem. Na verdade, não só nas comuns. Seu marido está em uma das penitenciárias de segurança máxima do interior e, mesmo de lá, as conversas com a companheira são constantes.

Entre as muitas regras que o PCC impõe nas prisões em que comanda, uma diz respeito à área das comunicações. Quem tem celular jamais pode cobrar pelo uso do aparelho.

A primeira mulher lembra, no entanto, que celulares não são primazia do "Partido do Crime", forma como os mais íntimos se referem ao PCC. "Não é só o Partido que tem telefone, todos têm", diz, referindo-se a facções menores que agem nas prisões.

Nesta semana, o secretário de Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, reconheceu que o Estado tem grande dificuldade em barrar o acesso dos presos a celulares. Segundo ele, os aparelhos entram com os milhares de visitantes, escondidos em caminhões que realizam serviços nos presídios ou com a ajuda de funcionários corruptos.

Na quarta-feira, a Justiça determinou um prazo de 48 horas para que as operadoras cortem os sinais de telefonia móvel em seis das prisões no Estado de São Paulo.

O celular, claro, não é a única benesse dos presos. As TVs também são um conforto bastante difundido. Mas as duas mulheres disseram desconhecer se algumas celas de líderes do PCC são ornadas com TVs de plasma ou mesmo modelos novos, como a imprensa vem publicando.

Segundo levantamento citado por Helena Maria de Silva, advogada da Pastoral Carcerária —local onde a entrevista com as duas mulheres ligadas ao PCC foi realizada, na noite de quarta-feira—, o PCC comanda quase todas as mais de 140 prisões de São Paulo.

São poucas onde não há integrantes da facção, como as de Andradina, Bauru 1 e Guarulhos 1. "São pouquíssimas as prisões onde eles não comandam, essa é a verdade", afirmou a advogada.

FILANTROPIA

A exemplo de outras organizações criminosas, o PCC parece tentar manter um olho voltado para famílias carentes conhecidas dos integrantes, familiares ou simpatizantes do grupo.

"(Para) as pessoas que estão precisando de remédio, eles dão remédio. (...) Eu fiquei sabendo de uma pessoa que precisava fazer endoscopia, o governo não queria pagar, tinha da fazer em um médico particular, e eles fizeram. Muitas coisas que precisam ser feitas e que o governo não faz, eles fazem. Pagam até velórios", contou a mulher mais jovem, cujo companheiro cumpre pena há 13 anos por latrocínio.

"O PCC ajuda as pessoas que precisam, dá cesta básica, ajuda nos ônibus (que levam os familiares às prisões) dando dinheiro", completou ela.

E de onde vem o dinheiro para tanta filantropia? As duas se entreolham e levam alguns segundos para responder.

"Ué, eu trabalho, ela trabalha, às vezes vem da família ou se o preso tem algum bem. Esse negócio de dinheiro de tráfico não tem nada a ver", disse a mulher mais velha.

As duas têm também uma visão diferente sobre o organograma da facção daquela divulgada pela polícia. Dizem que Marcos Camacho, o Marcola, não é o líder máximo, como é descrito geralmente. O comando é mais diluído, afirmaram.

Elas concordam com a noção geral de que o PCC deu ordens para os ataques e houve, sim, acordo com o governo. Mas discordam da descrição feita pela polícia sobre a facção à qual estão ligadas através de seus companheiros. O objetivo não seria organizar crimes de dentro da cadeia.

"Acho que o partido quer fazer a melhora da cadeia. Não quer piorar, não quer algazarra, acabar com o mundo. Querem organizar as cadeias, que tenha respeito", aposta a jovem.





Fonte: Reuters

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://www.reporternews.com.br/noticia/300279/visualizar/