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Saúde
Domingo - 30 de Abril de 2006 às 07:35

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A falta de estrutura na rede pública de saúde está provocando a redução do número de transplantes em Mato Grosso. Foram 27 em 2004 e 6 em 2005. Este ano, apenas 3, entre vivos, o que preocupa quase mil pessoas (989) que esperam na fila dos órgãos.

Não bastasse o fato do Estado realizar apenas dois tipos de transplante - rim e córnea -, ano passado viu-se obrigado a descredenciar o laboratório que realizava irregularmente exames de compatibilidade, ficando desprovido do serviço, exigido para casos de transplante com cadáver. Esta modalidade, portanto, está cortada, o que significou uma queda brusca do número já modesto de intervenções.

Junta-se a isso um clima de insegurança dos dependentes de diálise com a equipe médica credenciada. Diálises são trocas sanguíneas, vitais aos que têm rins falidos. Nestas sessões, a maioria está ali só enquanto espera por um órgão novo. O presidente da Associação das Pessoas Portadoras de Doenças Renais de Mato Grosso, Antônio Cordeiro, 45, diz que isso está gerando evasão para outros estados. É o caso do ex-representante comercial aposentado por invalidez, Andracy Aparecido Ferreira, 35. Ele está em Goiânia (GO), com o irmão mais novo, Deusmar, 30, que aceitou doar-lhe um rim.

A lista de Mato Grosso tem 649 pacientes renais crônicos à espera de transplante, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES). A vida deles é igual em ao menos um aspecto. Dependem de agressivas sessões de diálise que vão comprometendo o organismo aos poucos.

O caso dos cegos, que são 340 na fila de espera, é diferente. Não se trata de vida e morte. O que os angustia é o sonho de voltar a enxergar.

A dona-de-casa Sandra Medianeira, 39, contraiu, há 8 anos, uma síndrome que quase a matou. "Sobrevivi, mas cega". Ela esperou por 5 anos na fila da córnea. Há 1 ano, conseguiu. O transplante dela foi um sucesso. Recobrou visão perfeita. "Quanto tempo perdido!" - lamenta. "Se é um benefício tão grande, como aceitar tanta espera?", indigna-se.

O superintendente de Atenção Integral à Saúde da SES, Victor Rodrigues, admite que além de não ter o laboratório para fazer o exame de compatibilidade, faltam também especialistas dispostos a sair de grandes centros pelo preço possível de ser pago. Diz ainda que em Cuiabá havia duas equipes e dois hospitais credenciados para fazer transplantes renais, mas um deles se descredenciou do SUS, ficando uma das equipes inativas. Rodrigues admite que o sistema aqui "não funciona a contento" e afirma que os hospitais continuam não notificando à central de transplantes quando há casos de morte encefálica. Diz também que as famílias não são devidamente sensibilizadas, já que ano passado em 136 notificações de morte encefálica feitas, apenas 29 doaram. Sobre o laboratório, afirma estar tentando licitar a compra de equipamentos para montar um laboratório aqui.

Os problemas não terminam ao fim da cirurgia. Há ainda inadequações pós-transplante. Faltam na farmácia de alto custo do SUS medicamentos contra a rejeição. Sandra usa 3 colírios que estão acabando. Há 2 meses, tenta pegar novos frascos. "Neste aspecto, a angústia continua".

A inexpressiva dinâmica de realização de transplantes em Mato Grosso deixou o Estado de fora da auditoria feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU) no sistema nacional de captação e distribuição de órgãos aos pacientes que esperam em fila única. A auditoria apontou a inoperância do sistema em nível nacional e indicou falhas que fazem da lista única uma ficção.





Fonte: Gazeta Digital

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