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Nacional
Sexta - 18 de Novembro de 2005 às 00:30
Por: Luciana Nunes Leal e Rosa Cost

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Brasília - Terminou no início da madrugada desta sexta-feira o depoimento do empresário Sérgio Gomes da Silva, conhecido como Sombra, na CPI dos Bingos.

Depois de tentar sem sucesso um habeas-corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) que o livrasse de comparecer na CPI, Sombra prestou um depoimento cheio de imprecisões e contradições e não conseguiu se defender das duas acusações que pesam sobre ele: de ser o mandante do assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel e de participar de um esquema de cobrança de propina de empresas de transportes na cidade.

Sombra foi acusado pela família Gabrilli, proprietária da empresa de transporte Expresso Guarará, de participar do esquema de extorsão em troca da garantia das concessões de linhas de ônibus. Uma das provas apresentadas pela família foram quatro depósitos de Luiz Alberto Gabrilli na conta de Sombra do Banespa, entre setembro e outubro de 1997, somando pouco mais de R$ 40 mil. Os recibos foram mostrados ao empresário durante o depoimento.

Depósitos - "Acho que ele (Gabrilli) se enganou, pode ter feito um pagamento cruzado, por engano", disse Sombra, que declarou só ter tomado conhecimento dos depósitos recentemente, quando surgiram as denúncias sobre o pagamento de propina. "Eu tinha vários depósitos para receber por serviços de segurança que prestei. Esse dinheiro só fiquei sabendo agora que havia sido depositado por ele em minha conta. Não sei como foi parar na minha conta", afirmou o empresário. No entanto, declarou ter emitido notas fiscais referentes aos depósitos, mas em nome de outro empresário, Ronan Pinto, seu amigo e também suspeito de envolvimento no esquema de corrupção.

Sombra disse ainda que sua empresa de segurança não tinha pessoa jurídica e que recebia os pagamentos em sua conta pessoal. Reconheceu que seu único cliente eram as empresas de Ronan Pinto, que atuava na área de transportes e construção. Outro ponto não explicado por Sombra foram depósitos feitos para ele para amigos do empresário e do prefeito e para funcionários da prefeitura de Santo André. Uma das beneficiárias foi a mulher de Celso Daniel, Ivone de Santana. Sombra disse não se lembrar. "Poderiam, ser empréstimos, é muito comum emprestar dinheiro para amigos", disse, por fim.

Descrédito - Durante todo o depoimento, os senadores deixaram claro que não estavam acreditando em Sérgio Sombra. O empresário, por sua vez, manteve uma atitude firme e muitas vezes rude em relação aos senadores. "Se o senhor está desmentindo cheques que recebeu, imagine o resto", protestou o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).

O senador Magno Malta (PL-ES) disse que poderia pedir a prisão de Sombra, por causa da série de "mentiras". Decidiu, antes disso, pedir uma acareação entre Sombra, Ronan e o ex-secretário de Serviços Municipais de Santo André Klinger de Oliveira Souza, terceiro suspeito de participar da corrupção na cidade. Sombra rejeitou todas as acusações que pesam contra ele e negou até mesmo que este seja seu apelido. "Isso apareceu depois do meu primeiro depoimento (sobre o crime). Nunca fui chamado de Sombra antes", protestou.

Celso Daniel - Também no caso do seqüestro e assassinato de Celso Daniel o empresário foi contraditório e impreciso. O prefeito foi levado do carro de Sombra, um Pajero blindado, quando passavam pela Rua Antônio Bezerra, conhecida como Rua dos Três Tombos, na zona sul de São Paulo. Eles saíam de um jantar na Capital e voltariam a Santo André.

Um dos pontos que intrigam os investigadores é o fato de apenas Celso Daniel ter sido levado. Outro é como as travas das portas foram abertas, já que só poderiam ser destravadas pelo motorista, no caso, Sombra. Há ainda dúvidas sobre por que o carro não foi levado, se de fato de tratava de crime comum e não de assassinato por encomenda, como acusam os irmãos de Celso Daniel, Bruno e João Francisco. Ele sustentam que o prefeito morreu porque atrapalhou o suposto esquema de corrupção.

"Porta abriu de repente" - Sombra reclamou que nunca teve direito de se defender. Insistiu na versão que não sabia como a porta se abriu e se disse "vítima" no episódio. "A porta abriu de repente, do lado do Celso, não sei como", afirmou Sombra. Disse também não ter tido condição de descrever os criminosos, que estavam com os rostos à mostra. "Meu melhor amigo tinha acabado de ser seqüestrado. Imaginem como eu estava. Eu gritava para as pessoas ligaram para o 190. Só depois voltei ao carro e peguei meu celular", disse o empresário.

Sombra disse que ligou primeiro para o 190, serviço de atendimento da polícia, e depois para dois amigos, identificados como Fernando e Tião. Depois, disse não saber mais para quem ligou. E sequer lembrou o número de seu telefone celular na época.

O depoente ficou irritado quando o senador Magno Malta (PL-ES) perguntou se ele se sentiu "aliviado, feliz" ao final do seqüestro por ter sido poupado. "Eu fui vítima, sim senhor. Eu sou vítima", assegurou Sérgio Sombra. Para explicar sua falta de reação quando do seqüestro, disse que estava "nervoso, apavorado", tentando ligar para o 190 para pedir socorro.

Sérgio Sombra ficou preso de dezembro de 2003 a junho do ano passado. Ganhou a liberdade graças a liminar concedida pelo presidente do STF, Nelson Jobim. O empresário tentou obter outra liminar do STF, desta vez para não atender à convocação da CPI, mas o ministro Marco Aurélio Mello negou o pedido, autorizando-o apenas recorrer aos conselhos de advogados durante o depoimento.

Entre as testemunhas contra Sérgio Sombra figura a filha de Gabrilli, Rosângela, que já foi convocada mas ainda não depôs na CPI. Cinco dias depois do assassinato de Celso Daniel, ela formalizou no Ministério Público a denúncia de que os donos de empresas de ônibus de Santo André eram obrigados a contribuir mensalmente para o caixa 2 do PT.

Rosângela disse que o valor do mensalão era proporcional à quantidade de ônibus, sendo cobrado R$ 550 reais por veículo e que sua empresa era extorquida em R$ 40 mil todos os meses. A empresária apontou como responsáveis pelo esquema, além de Sérgio Sombra e Ronan, o então secretário Klinger Luiz de Oliveira.





Fonte: Agência Estado

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