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Educação/Vestibular
Quinta - 07 de Abril de 2005 às 08:30
Por: Ciro Brigham

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Com os salários atrasados, os trabalhadores deram início à greve

Com salário, férias, vale-transporte e tíquete-alimentação atrasados há vários meses, funcionários de empresas terceirizadas em escolas municipais de Salvador resolveram cruzar os braços. E sem os serviços de manutenção, que dão suporte à estrutura física e às atividades administrativas, algumas escolas até suspenderam as aulas. Em outras, muitos alunos sequer apareceram. A situação é tão difícil que até os professores estavam ajudando a pagar as passagens de ônibus dos trabalhadores, que, sem a renda mensal, vêm fazendo milagre para manter as contas em dia e botar comida na mesa.

No Instituto Municipal de Educação Professor José Arapiraca (Imeja), que fica no bairro da Boca do Rio, baldes, vassouras e panos de chão ganharam folga. Os corredores estão sujos e molhados, e os bebedouros, sem manutenção. Os banheiros, sem higienização, encontram-se trancados. E alguns serviços de secretaria vão ter que esperar. Dezoito auxiliares de limpeza, dois auxiliares de merenda, três secretárias e uma auxiliar pedagógica não aceitam voltar ao trabalho enquanto as firmas Degrau e SGP não pagarem os atrasados, ou pelo menos informarem com precisão a data que pretendem fazê-lo.

"A empresa diz que a prefeitura não tem repassado a verba, e a prefeitura diz que já repassou. A gente quer saber o que está acontecendo", diz o auxiliar de limpeza Maurício dos Santos Oliveira, contratado pela SGP. A Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Semec) informou, através de sua assessoria, que "os repasses de verbas para pagamento de funcionários de empresasa terceirizadas é uma atribuição da Secretaria Municipal da Administração".

Paradas desde segunda-feira, as funcionárias terceirizadas pela Degrau que trabalham na secretaria estão desde dezembro de 2004 sem receber salários e benefícios. "A gente vem trabalhar todo o dia sem ganhar nada, tirando do próprio bolso, pedindo emprestado a parente, a vizinho, e ninguém dá uma posição", relata uma delas, que prefere não revelar o nome, completando: "Tivemos uma reunião com o secretário de Administração, e ele pediu pra que a gente continuasse a trabalhar, aguardando mais uma ou duas semanas. Mas não tem data certa". Mesmo com a falta de manutenção nos serviços básicos, e a baixa freqüência dos alunos (cujos pais aderiram à causa dos trabalhadores), as aulas no Imeja não foram suspensas. O secretário da Administração Luís Café não foi ouvido pela reportagem.

Na Escola Amélia Rodrigues, no Tororó, os servidores terceirizados pela SGP pararam nesta quarta-feira. Os alunos foram liberados às 10h20 por falta de merenda, porque as merendeiras também são terceirizadas. Os cinco auxiliares de limpeza, duas merendeiras, mensageiro e auxiliar de secretaria contam com a solidariedade e o apoio de professores e alunos. "Os alunos fizeram um abaixo-assinado em apoio ao movimento dos servidores, e nós professores também fizemos um documento", afirma Vivianne Almeida, que leciona história e cultura baiana.

A diretoria encontrou na conscientização dos 559 estudantes um jeito de amenizar os problemas causados com a falta dos profissionais. "Fomos de sala em sala pedir aos alunos que tivessem uma atitude cidadã e mantivessem a escola limpa. Eles ajudaram e deu certo", garante o diretor João Fernando Gouveia, que avisa: "Mas se continuar a greve, seremos forçados a suspender as aulas".

A merendeira Paulina Maria Valente, 41 anos, trabalha há sete anos na Escola Municipal Amélia Rodrigues, os dois últimos sob a chancela da SGP. Ontem, ela ficou em casa, preocupada. Hipertensa, diabética, com o marido desempregado e responsável por quatro filhos, Paulina já não sabe o que fazer para dar conta das obrigações domésticas. "Estou sem gás, com contas de água e luz atrasadas, e devo dois meses de aluguel. E a dona da casa não acredita que eu não recebi os meses de fevereiro, março e abril", diz. Como os outros oito terceirizados da escola, ela tem contado com a ajuda dos professores, que desde dezembro de 2004 têm feito "vaquinhas" e garantido os vales-transporte.

A reportagem do Correio da Bahia telefonou para o escritório da SGP em Lauro de Freitas (a empresa é de Recife-Pe), e além de informar que não há previsão para o pagamento dos funcionários, a telefonista disse que nenhum dos responsáveis pela empresa estava trabalhando na sede, no momento. Na Degrau, um funcionário de prenome Cléber informou que a resposta sobre o pagamento dos vencimentos deve sair até o próximo dia 11 de abril, quando termina o contrato com a prefeitura. Ele disse que os salários não foram pagos porque o repasse ainda não foi feito pela prefeitura.

Os secretários municipais de Educação, Maria Olívia Santana, e de Administração, Luis Carlos Café da Silva, ficaram de se reunir ontem à noite, para decidir como resolver o impasse. A assessoria de imprensa da Semec informou que as escolas estão sendo orientadas a não interromper as aulas.





Fonte: Correio da Bahia

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