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Politica Brasil
Quinta - 31 de Março de 2005 às 07:20

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Uma das vítimas de perseguição e repressão imposta pela ditadura militar, a historiadora Maria do Socorro de Sousa Araújo, professora da Unemat, afirma que os militares se adaptaram ao aprendizado civil. Ela conta que vários deles estão buscando a integração de militares, principalmente do Exército, à vida civil universitária na própria Unemat, em Cáceres, onde é docente há 11 anos.

Considerada até 1985 área de segurança nacional, Cáceres, na fronteira com a Bolívia, foi um dos municípios mato-grossenses que mais sofreram com o endurecimento do regime militar. Líderes de esquerda, como Leonel Brizola, Luiz Carlos Prestes e José Genoino, chegaram a ser fichados, conforme revelou A Gazeta na série "os anos de chumbo", publicada em fevereiro.

A Delegacia Regional de Polícia cedeu ao Núcleo de Documentação de História Escrita e Oral (Nudheo) cerca de 2,5 mil fichas oficiais. Nelas estão registros de pessoas consideradas subversivas feitas sob as ordens do extinto Departamento de Ordem Política e Social (Dops) e das Forças Armadas. Além de Brizola, do ex-capitão Prestes, líder do movimento comunista, e do ex-guerrilheiro Genoino, aparecem nas fichas o intelectual Paulo Schilling, o ex-prefeito de Goiânia, Pedro Wilson (PT), o senador João Capibaribe (AP) e o ex-deputado Francisco Julião (PE), um dos maiores ativistas pela reforma agrária. Com atuação no Estado, constam nomes do padre José Augusto Passos, de estudantes, advogados, lavradores e centenas de mulheres, fichadas como "prostitutas".

Vários presos e perseguidos políticos da região Oeste não figuram no lote de fichas. Entre as vítimas estão o fotógrafo e ex-dono de gráfica, Cipriano Santiago, a militante do Movimento de Libertação Popular (Molipo) e da Aliança Libertadora Nacional, Jane Vanini, executada no Chile em 74, o jornalista Fernando Mello, o advogado José Maurício Jorge da Cunha, o professor Haroldo Vidal de Pinho, o Tutilineo, e o sargento da Marinha, Gentil Pires Dantas, punido, aos 32 anos com deslocamento para a reserva compulsória.

Ligada ao MDB (hoje PMDB), Socorro foi demitida da Escola Estadual de 1º e 2º Graus 11 de Março, fundada em 1940, sob acusação de integrar um grupo de opositores ao regime militar e de incentivar alunos a ingressar na militância político-partidária.

A escola era considerada pelos militares como a principal instituição que, mesmo em silêncio, formava líderes de esquerda que se opunham ao regime. Socorro chegou a ser vetada na escola pela antiga Delegacia de Ensino, em 83, no governo Júlio Campos.

Hoje, a professora Socorro diz perceber que alguns militares demonstram preocupação com a necessidade de um aprimoramento profissional e em ter opções de trabalho após encerrarem a vida militar. Também buscam a contribuição para formação complementar com vistas a melhorar o trabalho das Forças Armadas. (RD)




Fonte: A Gazeta

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