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Educação/Vestibular
Quarta - 22 de Dezembro de 2004 às 12:48
Por: Mara Carnevale

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Maria José Mendonça, 45 anos, nascida em Rondonópolis e criada por pais adotivos, não aprendeu a ler ou escrever quando criança, e nunca havia freqüentado uma escola. Hoje, Maria, que mora em Várzea Grande, é casada e mãe de um filho, não esconde a alegria de estar sentada em um banco da Escola Municipal Dirce Campos Leite, onde funcionam três turmas do projeto Letração, desenvolvido pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc) em parceria com o Ministério da Educação (MEC) e prefeituras municipais.

Sonhos para o futuro? “Sim, vou ser advogada. Com esta oportunidade não vou parar mais de estudar”, afirma. Ela conta que sua rotina mudou. “Hoje faço todo o serviço da casa, depois vou fazer a tarefa da escola e ainda reservo um tempo para ler”. Maria fez uma cobrança a Seduc, que para o ano que vem, tenha turmas da Educação de Jovens e Adultos (EJA). “Não quero mais parar de estudar, e só conseguirei realizar meu sonho se a Secretaria abrir turmas do EJA”, enfatizou ela.

Para o colega de classe de Maria, Sinfrônio Teixeira, 57 anos, o LetrAção é a chance de retomar o que deixou para trás há mais de 35 anos.“Perdi a pouca noção que tinha de escrever. Pela necessidade e vontade de aprender é que me inscrevi no projeto”, frisou. Natural de Minas Gerais, Sinfrônio reside em Mato Grosso há 35 anos, é casado, pai de quatro filhos, sendo que a professora é uma de suas filhas. “É com grande alegria que estou aprendendo tudo e convivendo com outros colegas, a sensação é de uma vida nova”, relata.

Eurídes Nonato da Silva, 53 anos, solteiro, natural de Mato Grosso, também freqüenta o LetrAção. Mora com uma irmã e é aposentado por invalidez. Finalmente está realizando um sonho antigo, em que as circunstâncias da vida levaram-no a adiar por mais de 40 anos. Nem mesmo as sessões de hemodiálise, três vezes por semana, o afasta das aulas. “No dia de hemodiálise, venho fraco para a aula, mas não falto. É minha grande oportunidade de aprender a ler a Bíblia”, ressalta.

A vida dessas pessoas se parece com a de milhares de mato-grossenses que hoje freqüentam as aulas do Letração. O projeto tem como meta alfabetizar os 224.760 jovens e adultos analfabetos do Estado até 2006.

Graças a projetos como esse, e a força de vontade de professores como Marlene Teixeira

Pereira, de 27 anos, que a realidade de muitas pessoas no Estado está mudando. A professora que dá aula à noite, é agente de saúde durante o dia, e também cuida dos seus dois filhos. De segunda a sexta-feira, das 18h às 20h, ela atende 25 alunos com idade acima de 20 anos. “Me sinto altamente estimulada e feliz por participar desse projeto e poder ajudar essas pessoas”, cobrou.

CIDADANIA – Cerca de 11% da população de Mato Grosso, que não sabe ler ou escrever, tem em sua maioria 25 e 59 anos. Para mudar essa realidade, o governo do Estado lançou em novembro de 2003, por meio da Seduc, o projeto Letração, que visa a erradicar o analfabetismo até 2006.

A primeira etapa do Letração foi um sucesso. A Secretaria conseguiu cadastrar 36.339 mil não alfabetizadas e 1.718 alfabetizadores em 78 municípios que apresentaram a maior concentração de pessoas não alfabetizadas de acordo com o último censo populacional. As aulas serão ministradas durante cinco meses, com duas horas por dia e 10 horas por semana. O professor do Letração ganha R$ 15 reais por aluno em sala de aula freqüente.

Para que o projeto saísse do papel e chegasse até os bancos escolares, a Seduc propiciou a formação dos técnicos dos Centros de Formação dos Profissionais (Cefapros), assessores pedagógicos e técnicos da Secretaria e do Conselho Estadual de Educação (CEE), por meio de um convênio com as Universidades Federal de Mato Grosso (UFMT); do Estado de Mato Grosso (Unemat); e de Cuiabá (UNIC); juntamente com a equipe do EJA.

No mês de setembro, esses formadores capacitaram 429 professores de Cuiabá e baixada cuiabana. Na segunda etapa, que ocorreu em outubro, 930 alfabetizadores do restante do Estado foram capacitados. As aulas começaram no dia 18 de outubro.

Para os professores participantes, a capacitação é o passo inicial para um Estado que possui muitas pessoas que não alfabetizadas. “Erradicar o analfabetismo é uma ansiedade de qualquer educador e nós estamos aqui para dar a muitos jovens e adultos o direito de exercer sua cidadania”, comentou a professora alfabetizadora, Maria Auxiliadora da Silva Garção, de Várzea Grande.

A superintendente-adjunta de Ensino e Currículo da Seduc, Evanildes Bordalho, afirmou que a meta de cadastramento de não alfabetizados e professores, da primeira etapa, foi alcançada. Ela adiantou que o MEC abriu o cadastramento para novos alfabetizadores e alfabetizandos em todo o Estado.

Para se cadastrar no Letração, a pessoa deve ter mais de 15 anos e morar em um dos municípios contemplados. Podem se cadastrar como professores-alfabetizadores profissionais que tenham no mínimo o Magistério, e não tenham vínculo empregatício com a rede pública de ensino. A inscrição deve ser feita nas Assessorias Pedagógicas ou nas Secretarias Municipais de Educação (SMES).

A secretária de Estado de Educação, Ana Carla Muniz, mostrou-se satisfeita com a concretização do projeto. “É com grande alegria que o Letração está fazendo parte da vida dessas pessoas, que para exercer efetivamente sua cidadania precisam saber ler e escrever”, frisou ela.

Além de garantir o aprendizado, dessas pessoas, o grande desafio do professor é garantir a permanência do aluno até o final do curso. Já o próximo passo da Seduc é encaminhar os futuros alunos alfabetizados às escolas de Educação de Jovens e Adultos para continuarem seus estudos.

Portanto, a previsão é de que em março de 2005, a quantidade de alunos matriculados no Ensino Fundamental da EJA suba dos atuais 12.276 mil para, aproximadamente 30 mil. Ana Carla adianta que a Seduc, juntamente com os consultores já está trabalhando para atender esta demanda.

NÚMEROS – Atualmente, o país conta com 35 milhões de analfabetos funcionais (são aqueles que já passaram pelo sistema de ensino) jovens e adultos, e cerca de 16 milhões de analfabetos absolutos acima de 15 anos, representando 13,6% da população brasileira.

A meta do Plano Nacional da Educação (PNE) é oferecer a Educação de Jovens e Adultos de 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental para 50% da população de 15 anos ou mais que não possui esta escolarização, em cinco anos. Em dez anos, está prevista a oferta da EJA de 5ª a 8ª série do Ensino Fundamental para todos aqueles que já concluíram a 4ª série. No Brasil, existem 30,6 milhões de pessoas de 15 anos ou mais, fora da escola, que têm menos que quatro anos de estudo.

De acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), o Ensino Fundamental para a faixa etária de 7 a 14 anos é o único nível de ensino no qual haverá queda do número de estudantes. Dos atuais 31,5 milhões de alunos no setor público, o número tende a diminuir para 24,7 milhões, em 2011. A queda na matrícula, já verificada nos últimos anos, está acontecendo em função da melhoria do fluxo escolar, aliada à taxa de atendimento de 97%.

Segundo o INEP, o desafio para este tipo de ensino será melhorar a qualidade da educação. Também deverão ser asseguradas às escolas, de acordo com o PNE, padrões mínimos de funcionamento, a ampliação para nove anos do Ensino Fundamental e a ampliação da jornada escolar.




Fonte: Secom - MT

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