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Saúde
Domingo - 05 de Dezembro de 2004 às 12:29

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Entre os meses de abril e setembro deste ano, uma equipe da unidade do Programa de Saúde da Família (PSF) do bairro Jardim Florianópolis, em Cuiabá, realizou um extenso trabalho naquele bairro para detectar novos casos da hanseníase. Até o final de março, apenas quatro casos estavam registrados naquela unidade que atende um universo de 4.200 moradores. Passados seis meses, 24 novos foram detectados. Baseado nesse estudo e nos indicadores divulgados pelo Estado, o médico Adeildo Martins de Lucena Filho acha improvável que o Estado e até mesmo a capital atinja a meta estipulada pelo Ministério da Saúde de reduzir a prevalência da hanseníase para menos de um caso por grupo de 10 mil habitantes até 2005. Para efeitos comparativos, o coeficiente de detecção (24 casos novos) representou no Jardim Florianópolis 56,47 casos por 10 mil habitantes.

Considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma das seis grandes endemias do mundo, a hanseníase preocupa as autoridades no Brasil, pois a doença representa um grave problema de saúde pública. Em números absolutos, o Brasil, que apresenta prevalência de 4,4 casos por grupo de 10 mil habitantes, só é superado pela Índia. Em outubro passado, o Ministério da Saúde revelou dados indicando que Mato Grosso apresentou a mais alta taxa de prevalência (casos novos mais os antigos) entre os estados. Os números de 2003 atualizadas até 31 de março deste ano apontam 4.798 casos, o que dá uma taxa de 22,11 pacientes da doença para cada grupo de 10 mil habitantes. Em se tratando de detecção (3.601 novas notificações), o coeficiente cai para 16 pacientes a cada 10 mil habitantes.

“Em menos de dez anos será difícil alcançar a meta projetada pelo governo, mesmo trabalhando com seriedade. A forma de hanseníase contagiosa (se não for tratada) teoricamente pode atingir até quatro pessoas e pode demorar de um a cinco anos para se manifestar de forma clínica. É uma doença que evolui lentamente”, disse o médico, que coordenou o trabalho realizado no bairro. O estudo resultou na monografia intitulada “Rastreio de casos de Hanseníase em uma unidade do Programa Saúde da Família”, que foi entregue à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), como exigência do Curso de Residência Multiprofissional em Saúde de Família. A monografia foi apresentada na sexta-feira juntamente com mais cinco trabalhos que tiveram o apoio do Estado e do município para serem realizados. Cópias da monografia serão enviadas para as secretárias de Saúde tanto do Estado como do município, para a UFMT e outras entidades.

“Existem casos relatados que a doença se manifestou dez anos depois do contato. O problema é que não existem métodos de diagnóstico laboratorial para rastreio das formas subclínicas. O diagnóstico é basicamente clínico [exame físico e a história epidemiológica]”, explicou Adeildo. Segundo ele, apesar das várias medidas adotadas pela Secretaria Municipal de Saúde no combate à hanseníase, como a reorganização da rede básica, a descentralização do Programa de Controle de Hanseníase, a capacitação de profissionais, campanhas educativas e de ações para identificar casos novos, a meta assumida pelo Brasil perante a Organização Mundial da Saúde (OMS) está longe da realidade de Cuiabá. A capital ainda carece de melhorias na rede básica de saúde e de condições econômicas e sociais que dêem uma melhor qualidade de vida à população.

Segundo o médico, a hanseníase está ligada a condições precárias, em situação de pobreza. O contagio é favorecido pela proximidade das pessoas, que vivem “apertadas” em casas sem muito espaço e em bairros onde o saneamento básico também é deficiente. “É por isso que no Sul do país os índices são baixíssimos. Ali as condições de vida são melhores”, constata. Por isso, ele acredita que se o trabalho de detecção for bem feito, assim como ocorreu no Jardim Florianópolis, é certo que aumentarão as taxas de prevalência (casos novos somados aos antigos). E caso o trabalho realizado no jardim Florianópolis e no bairro vizinho, o Jardim Vitória, fosse estendido para outros bairros da capital, levaria pelo menos dois anos para se diminuir os casos de prevalência. “Um trabalho mais efetivo vai depender muito dos esforços dos gestores municipais, uma vez que a ação é de responsabilidade dos municípios”, avalia.




Fonte: Diário de Cuiabá

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