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Saúde
Quarta - 08 de Outubro de 2014 às 13:31

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A prevenção é, por enquanto, a principal maneira de controlar os surtos da mosca-dos-estábulos (Stomoxys calcitrans), praga que tem atingindo alguns polos de pecuária em Mato Grosso do Sul, causando prejuízos aos produtores. A avaliação foi feita pelo pesquisador da Embrapa Gado de Corte, o médico veterinário Antonio Thadeu Medeiros de Barros, durante reunião realizada em Costa Rica, a 384 quilômetros de Campo Grande, na tarde desta terça-feira (7).

Na reunião, convocada pela comissão criada no município especialmente para discutir alternativas para o controle do inseto e que reúne representantes da prefeitura, da Câmara de Vereadores, dos produtores rurais, do Ministério Público Estadual e da usina sucroenergética instalada no município, entre outros, o pesquisador inicialmente fez uma apresentação do que é o inseto e dos estragos que ele pode causar.

Barros disse que a mosca-dos-estábulos é um inseto hematófago, ou seja, que se alimenta do sangue de outros animais e que é encontrada em todo o continente americano. Para se reproduzir precisa de um local que tenha matéria vegetal em decomposição e possui um ciclo biológico de três a quatro semanas, entre a postagem dos ovos até se tornar adulta e uma vez adulta tem um período de vida de até um mês.

Cada mosca, conforme o pesquisador pode botar pelo menos 500 ovos ou mais e pode voar até 20 quilômetros. Costuma atacar vários tipos de animais, como bovinos, eqüinos, aves e cães, entre outros, e até o ser humano para se alimentar. É encontrada em maior quantidade próxima aos locais de reprodução e quando não está picando os animais fica em árvores, troncos ou qualquer lugar que ofereça abrigo ao calor, como postes, cercas e cochos.

Nos ataques a bovinos, podem provocar, de acordo com Barros, prejuízos de até 20% para os animais de corte e de 20% a 50% para os de leite. Esse prejuízo, explica ele, ocorre principalmente porque, incomodados com as picadas do inseto, os bovinos começam a se deslocar pela pastagem, deixando de se alimentar.

Nas situações de infestações mais severas da mosca-dos-estábulos, ele explica que os animais, para se proteger, ficam agrupados, o que acaba oferecendo risco dos mais jovens (bezerros), serem pisoteados. Na África, de acordo com o médico veterinário, insetos da mesma família chegam a provocar a morte de leões.

Além de fazer a identificação da praga, Barros detalhou que há cerca de dois anos a Embrapa Gado de Corte, iniciou uma pesquisa sobre o inseto. O objetivo inicial deste trabalho que ainda está em curso é identificar os locais de reprodução, determinar a ocorrência de surtos, o que os provoca, estipular estratégias de contenção e aumentar a eficiência dos métodos de controle químico, além de desenvolver sistemas alternativos de controle biológico.

O pesquisador comentou que os resultados iniciais do trabalho indicam que os produtos químicos disponíveis atualmente no mercado, como os de aplicação no dorso dos animais (pour-on), os brincos e a borrifação não se mostraram eficientes no combate a infestação do inseto e que, por isso, a prevenção é a única maneira de controlar os surtos.

O trabalho de prevenção, conforme o pesquisador, envolve algumas ações que têm de ser adotadas pelos produtores rurais e pelas usinas sucroenergéticas, já que a mosca pode sair das propriedades rurais e utilizar a palha que sobra do corte da cana e que foi fertirrigada com vinhaça como local de reprodução.

No caso dos produtores, Barros comentou que as ações têm de ser executadas no período da entressafra das usinas, quando o inseto, em pequenas quantidades permanece quase escondido nas propriedades. Nestes locais, ele recomendou que se faça a limpeza de resíduos de alimentação dos animais para eliminar possíveis pontos de reprodução e também a drenagem do terreno para evitar o acúmulo de água em áreas com matéria orgânica, e ainda que se realize o manejo adequado das pastagens e se evite o uso da adubação orgânica.

Por outro lado, para as usinas, ele disse que o indicado é que as empresas façam durante a safra o manejo dos subprodutos orgânicos, como a torta de filtro , a palha da cana e a vinhaça e ainda executem a queima profilática da palha. Está última recomendação, que depende de autorização do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) já teve, inclusive, um pedido de autorização encaminhado ao órgão pela entidade que representa o setor sucroenergético no estado, a Associação dos Produtores de Bioenergia (Biosul).

Outro pesquisador da Embrapa Gado de Corte, o também médico veterinário, Paulo Henrique Duarte Cançado, ressaltou que o combate aos focos de criação da mosca-dos-estábulos representa 90% do sucesso no controle a infestação, que o trabalho tem que ser direcionado às larvas e a prevenção e alertou que uma vez instalados os surtos de ataque, eles são incontroláveis.

Cançado também destacou que somente com a parceria de todos os envolvidos no problema, no caso produtores rurais e as usinas sucroenergéticas, é que a praga será controlada. “Ações unilaterais são menos eficientes. É necessário diálogo, comprometimento e ações integradas”, afirmou.

O produtor rural Manoel Rodrigues de Oliveira, de 50 anos, dono de uma área de 302 hectares, onde cria cerca de 500 cabeças de gado de corte, e que foi um dos afetados com o surto da mosca-dos-estábulos em Costa Rica, concordou com a proposição dos pesquisadores. “Temos que dar as mãos, trabalhar juntos para solucionar o problema, cada um fazendo a sua parte”, avaliou.

A Odebrecht Agroindustrial, proprietária da usina sucroenergética localizada em Costa Rica, aponta que desde o dia 4 de setembro, quando a comissão do município enumerou algumas ações que poderiam ajudar no controle do inseto, vem executando um trabalho profilático em suas operações na área agrícola.

Entre as ações realizadas estão o recolhimento prévio de mais de 90% da palha da cana nas áreas em que ocorre a aplicação de vinhaça, a incorporação ao solo por meio da escarificação da palha que ainda fica sobre o solo e uma agilização do trabalho de controle de vazamentos na distribuição da vinhaça para a fertirrigação.

O presidente da Biosul, Roberto Hollanda, por sua vez, lembrou que a entidade e o setor têm sido parceiros da Embrapa, junto com outras instituições, como a Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), na busca por soluções para o problema da mosca-dos-estábulos e que o estado é atualmente o principal centro de pesquisas do país sobre o inseto.

Também recordou que nos últimos anos o segmento tem realizado diversos eventos e veiculado publicações para difundir o máximo de informações possíveis sobre o inseto, visando auxiliar tanto os produtores quanto as usinas a adotarem medidas preventivas contra as infestações.

Por sua vez, o prefeito de Costa Rica, Waldeli dos Santos Rosa, que coordena os trabalhos da comissão municipal de enfrentamento a praga, comentou que saiu satisfeito com o resultado da reunião, em razão dos esclarecimentos apresentados e apontou que nos próximos meses serão realizadas encontros mensais para analisar os avanços no controle do inseto.





Fonte: Do Agrodebate

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