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Ciência/Pesquisa
Sábado - 18 de Outubro de 2014 às 15:35

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O insucesso de alguns países africanos afetados pelo ebola em controlar a epidemia desse vírus hemorrágico pode dar a impressão de que a doença é simplesmente implacável.

De fato, até o momento só existem remédios experimentais para ela, e as pesquisas e dados estatísticos a respeito ainda são poucos se comparados a outras enfermidades mais conhecidas.

No entanto, as informações disponíveis já dão uma ideia do poder de expansão da doença e que, sim, há como controlá-la se houver uma estrutura de saúde adequada.

Um estudo publicado no periódico "Eurosurveillance", por exemplo, mostra que o “número de reprodução efetiva” do ebola na atual epidemia está entre 1 e 2.

Os autores analisaram os dados disponíveis em Guiné, Libéria e Serra Leoa até agosto. Esse dado significa que, em média, cada pessoa doente transmite o ebola para, no máximo, 2 outros pacientes -- isso levando em conta as medidas de contenção implementadas.

Em comparação com outras doenças, o número não é tão alto. O sarampo, uma doença transmitidas pelo ar, por exemplo, pode ter número de reprodução superior a 12 se não forem tomadas medidas de combate.

O ebola se transmite pelo contato com fluidos corporais de pessoas infectadas e com sintomas. Medidas como o isolamento rápido dos pacientes e o monitoramento de potenciais infectados podem diminuir o número de reprodução.

Para que uma doença seja considerada controlada, o índice precisa ser menor do que 1, pois isso significa que cada doente está passando o vírus para uma ou nenhuma pessoa, o que se traduz numa redução efetiva do número de casos, até se chegar ao fim da epidemia.

A faceta mais assustadora do ebola é que ele mata em um número grande de casos. Antes da atual epidemia, trabalhava-se com índices de até 90%. No surto atual, a Organização Mundial de Saúde falava em algo ao redor de 50% de mortalidade, mas, nesta semana, seu diretor-geral-asssistente Bruce Aylward citou que já se está num índice de 70% nos países com transmissão intensa.

A estratégia da OMS é conseguir, em até dois meses, isolar 70% dos doentes e enterrar rapidamente 70% dos mortos pelo ebola para reverter o avanço da doença. Os países que estão com dificuldade para controlar o ebola são aqueles que não conseguiram, por falta de estrutura, impedir que novas contaminações ocorram descontroladamente.

Nigéria, exemplo de controle

A Nigéria, por exemplo, teve a doença importada por um liberiano-americano em junho. Patrick Sawyer chegou ao Aeroporto de Lagos sentindo-se mal. Até os médicos perceberem que ele não tinha malária, mas ebola, 11 pessoas da clínica privada onde era atendido já estavam infectadas – quatro delas viriam a morrer.

O governo não respondeu imediatamente com isolamento de todos e a doença se espalhou para mais pessoas. Então veio o passo que fez a Nigéria virar o jogo: uma equipe originalmente voltada ao combate de pólio deu início a uma operação para rastrear todas as pessoas possivelmente expostas. Com ajuda de voluntários, passaram a monitorar o impressionante número de 26 mil casas.

O resultado do trabalho foi que o país de 170 milhões de habitantes está há mais de 40 dias sem novos casos. Houve 20 doentes pelo ebola, dos quais 8 morreram. O exemplo da Nigéria chegou a ser citado pelo Ministério da Saúde brasileiro: se um país com sistema de saúde mais precário do que o do Brasil conseguiu controlar o ebola dessa maneira, aqui isso também seria possível.

Até o momento, no total, foram registrados 9.216 casos da doença em sete países, com 4.555 mortes. Os países mais afetados são Guiné, Libéria e Serra Leoa, na África Ocidental - foram 9.141 casos e 4.546 mortes. Só o Brasil teve, por exemplo, quase 1,5 milhão de casos de dengue em 2013 – doença com outras formas de transmissão e mortalidade muito menor.

Paciente zero

Num estudo publicado pela renomada "Science", os pesquisadores identificaram o chamado paciente zero da atual epidemia – trata-se do primeiro caso registrado, que teria dado início a tudo. Trata-se de um menino de 2 anos que morreu num vilarejo chamado Guéckédou, que fica no sudesta da Guiné. O lugarejo fica perto da fronteira com Serra Leoa e Libéria, o que explica em grande medida como o vírus atingiu também estes países.

Fazendo uma análise molecular de amostras de vírus, os 50 autores da pesquisa (dos quais cinco morreram de ebola) conseguiram chegar a esse menino, que morreu em 6 de dezembro do ano passado. Uma semana depois, sua mãe morreu também. Depois foi a vez da irmã e da avó do garoto. Duas pessoas que estiveram no funeral da avó e eram de outro vilarejo se infectaram e levaram a doença para lá. Um trabalhador da área de saúde da localidade, bem como seu médico, também pegaram a doença.

Quando as autoridades se deram conta de que o ebola estava se espalhando na região, já era março, e dezenas de pessoas já estavam doentes. Por outro lado, foram necessários 10 meses para que o ebola atingisse menos de 10 mil pessoas, mesmo numa região extremamente pobre.

O estudo da "Science" ajudou a confirmar que os vírus estava sendo transmitido de uma pessoa para outra, e não que os doentes estavam se contaminando por causa de contatos com animais infectados. Isso mostrou que a melhor estratégia de combate seria isolar os doentes, e não tentar impedir o contato da população com animais que potencialmente poderiam transmitir o vírus.





Fonte: Do G1

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