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Policia MT
Segunda - 31 de Maio de 2021 às 06:16
Por: Wellington Sabino/Folha Max

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As interceptações telefônicas feitas pelo Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) utilizando o Guardião, - sistema com capacidade para monitorar centenas de ligações ao mesmo -, traz um “capítulo especial” dedicado a Solange Silva Rodrigues da Silva, uma das 15 pessoas investigadas por participação numa organização criminosa que falsificava diplomas e certificados por intermédio de três faculdades de Cuiabá. Todos foram alvos da Operação Zircônia.

Nas interceptações, Solange é flagrada conversando com outras pessoas sobre diferentes assuntos, desde uma forte diarréia que a obrigou faltar do serviço e ficar o dia todo “correndo” para o banheiro de sua residência, até o medo de ser presa, pois já tinha conhecimento da investigação em curso realizada pelo Gaeco contra ela e outros membros do grupo. A mulher também demonstra preocupação com documentos e computadores pertencentes às faculdades usadas no esquema de emissão de diplomas falsos utilizando indevidamente o nome do Centro Universitário Internacional (Uninter), instituição de ensino com sede em Curitiba (PR).

Conforme o Gaeco, as empresas utilizadas no esquema eram o Centro Universitário Poliensino Ltda ME, IEP Instituto Educacional Polieduca Brasil Ltda ME (Polieduca Brasil) e VHER Cursos Educacionais Ltda EPP (MC Educacional). Para dar ares de legalidade e enganar estudantes que decidiam fazer algum curso ou especialização oferecida por eles, o grupo criminoso utilizava o Uninter e até fazia festas de formatura num hotel de Cuiabá para que os alunos não descobrissem que na verdade estavam sendo vítimas e recebendo diplomas falsificados após pagarem cerca de R$ 7 mil por cursos superiores e de pós-graduação.

Partes das conversas foram interceptadas na manhã do dia 21 de janeiro deste ano e divulgadas na decisão da juíza Ana Cristina da Silva Mendes, da 7ª Vara Criminal de Cuiabá. A magistrada expediu cerca de 50 ordens judiciais que cumpridas na operação, mas negou decretar a prisão dos investigados por entender que somente o uso de tornozeleira eletrônica e proibição dos alvos manterem contato entre si é suficiente no atual momento das investigações.

Na estruturação da organização criminosa, que era divida em cinco núcleos, Solange Rodrigues é apontada como uma das pessoas que atuava na secretaria, setor responsável pela emissão e entrega de documentos falsos.

Em um dos diálogos interceptados ela conversa com outra mulher identificada como Vera sobre as investigações, ocasião em que ambas demonstram preocupações, em razão os alunos terem mencionado o nome de Solange e de outros colaboradores, com sendo as pessoas que entregaram os documentos falsos.

MEDO DE PRISÃO

Também no dia 21 de janeiro, foi interceptada uma ligação entre Solange e um telefone cadastrado em nome de Elio da Conceição de Souza. Na conversa, ela revelou que estava sendo investigada pelo Gaeco e disse que “hoje sabe de mais coisas” por ser das pessoas que assinava documentos. “Demonstrando, ainda, uma preocupação com a possibilidade de ser presa. No mesmo diálogo, Élio sugere a Solange para que retire os objetos do local, para que oculte na casa do mesmo”, diz o relatório da investigação.

Num determinado momento da conversa Solange diz o seguinte: “Meu Deus! Hélio, puxa depois na internet, eu tô sendo monitorada pelo Gaeco”. Ele questiona, incrédulo. “Gaeco, ham!”. E Solange complementa: “Crime organizado”. O homem faz uma observação dizendo que o carro usado pelos agentes do Gaeco é “aquelas Amarok pretas com um raio amarelo desenhado na viatura”. A investigada então fica mais espantada. “Vote, é só pra bandido de alta classe”, diz ela aos risos. “Não é pra pouca bosta não, é pra muita, ave maria”, comenta a mulher.

Élio complementa que Gaeco significa Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado e Solange concorda: “exatamente, é isso aí”. O interlocutor continua demonstrando estar surpreso com a situação e ela continua: “Ahrãm, brinquedo não meu filho, hoje eu sei de mais coisa hoje, foda. Sabe até o dia que eu internei, minha foto está lá no Facebook, tudo. O trem tá foda meu filho, mas nem falei nada pra mãe, nada hoje do que eu já sei. Que senão ela vai surtar, ela já não tá bem não”, comenta Solange.

Ainda na ligação, Élio concorda com ela: “pois é”. Solange continua: “Eu já tô malzona aqui, foda Hélio o que vai acontecer comigo”. O homem tenta tranquiliza-la dizendo que não vai acontecer nada. Mas Solange continua aflita. “Já tá acontecendo, acabou com minha vida esse trem, Deus me livre. Pior que eu não devo, cara, o duro é isso. Não devo nada”, lamenta ela. Por sua vez, o interlocutor concorda que ela não tem culpa, mas alerta que ela assinou papéis. Solange fica ainda mais preocupada: “Mas, é ai que tá, né? Até que o focinho de porco é tomada, ai tá lá, posso ser presa de verdade”.

Na sequência, Élio pede volta aconselhar que ela fique tranquila e confirma que buscará buscar os materiais que ela pretende “se livrar”. “Calma, vai dar tudo certo. Mas, depois eu vou ver como vamos fazer pra trazer pra casa. Trazer logo pra cá, já tá terminando ai?”. Solange diz que vai demorar um pouquinho, mas alerta que “tem que tirar logo. Não pode deixar aqui não”.

As interceptações trazem ainda diálogos entre Solange e outras pessoas, dizendo que “irão tirar o computador” e pede para Bárbara Monique Araújo, também apontada pelo Gaeco como integrante da organização criminosa, “retirar os papéis referente a faculdade Polieduca, afirmando que não pode ficar nada”. Ela reafirma que irão trocar todos os computadores. O contexto da conversa, segundo o Gaeco, era numa clara tentativa de ocultação de provas e documentos de interesse das investigações sobre o esquema.

Conversas entre Solange e outra investigada: Nagila Caroline Teixeira de Araújo, também foram registradas com esse mesmo teor. Solange diz que “não há mais nada para fazer na secretaria”, pois o setor já havia sofrido alterações necessárias, sendo que eles iriam “apagar os arquivos dos computadores e iria perder tudo”. Questionada se chegou a salvar ou fazer backup de parte do conteúdo, Solange responde que não, pois “não deu tempo”.

OPERAÇÃO ZIRCÔNIA

Na operação foram cumpridas 50 ordens judiciais, das quais 19 foram mandados de busca e apreensão expedidos para Cuiabá e Várzea Grande, além de uma ordem judicial cumprida no estado de Minas Gerais envolvendo um homem, apontado responsável por uma suposta “parceria” com as três faculdades de Cuiabá.

Também foram cumpridas ordens de bloqueio e sequestro de veículos e dinheiro nas contas dos investigados até o valor de R$ 910 mil. Os alvos são apontados pelo Gaeco como integrantes de uma organização criminosa especializada na oferta, realização de cursos e emissão de diplomas, históricos escolares e certificados de conclusão de cursos de ensino superior sem a devida autorização do Ministério da Educação.

A Uninter se manifestou em nota afirmando que adotou todas as medidas cabíveis ao tomar conhecimento de que a instituição estava sendo usada pela organização criminosa que atuava em Cuiabá.

Confira

NOTA DE ESCLARECIMENTO UNINTER

Sobre a Operação Zircônia, deflagrada nesta quinta-feira (27) e que resultou no desmantelamento de uma quadrilha que atuava na falsificação de diplomas de instituições de ensino superior, a Uninter esclarece que já tinha apresentado à autoridade competente notícia crime contra a falsificação de diplomas com a sua marca, adotando todas as ações jurídicas e institucionais necessárias para proteção de sua reputação e de seus alunos. A instituição reforça seu compromisso de oferecer educação de qualidade e segura para todos os seus alunos e de agir com firmeza contra aqueles que atuam para prejudicar a educação no Brasil.

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