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Ciência/Pesquisa
Domingo - 27 de Março de 2022 às 10:47
Por: Liz Brunetto/Mídia News

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Pequis no alto, em destaque, na Banca do Seu Domingos no Centro de Cuiabá
Pequis no alto, em destaque, na Banca do Seu Domingos no Centro de Cuiabá

De sabor e aroma marcantes, o pequi divide opiniões à mesa dos brasileiros. Se por um lado há quem não resista ao pratos com a iguaria, por outro há os que não conseguem nem sentir o cheiro.

Uma pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso investiga se a aceitação ou a ojeriza a esse alimento tem influência em fatores culturais e emocionais.

O fruto é nativo do Cerrado e, durante a estação, compõe a base alimentar de muitos mato-grossenses.

Levando em consideração o seu protagonismo na culinária do Estado, o projeto de iniciação científica do Grupo de Estudos sobre Frutos Nativos (Frutivo) realiza a investigação a nível nacional.

“Quando minha orientadora veio com essa proposta, eu adorei a ideia. Nunca tinha participado de algo que avaliasse o que faz com que as pessoas gostem ou não de um alimento”, afirmou a estudante de Nutrição Jadi Barros, de 24 anos, integrante do projeto.

Cuiabana nascida e criada na cidade, a jovem faz parte do time dos que não suportam nem o cheiro do alimento.

Sempre tive muita curiosidade, até porque eu mesma nunca consumi, confessa.

Filha de mãe paulistana e pai cuiabano, Jadi conta que o pequi nunca foi inserido em seu cardápio. “Minha mãe não curtia muito a ideia de me oferecer; ela também não suporta o cheiro e até passa mal com o aroma”.

Os primeiros contatos da estudante com o fruto se deram por meio da família paterna. “Eles amavam, sempre os via comendo. Quando era época de safra, faziam o arroz com pequi e outras preparações. Era direto, toda vez que podiam”, relembra.

O pequi nosso de cada dia

Se para a estudante o contato com o pequi é esporádico e mais teórico, o fruto está presente em cheiro, cores e textura no dia a adia de Seu Domingos Lopes Sampaio, de 61 anos.

O feirante tem há 16 anos uma banca em frente à Riachuelo da Avenida Getúlio Vargas, onde vende pequi e outras frutas. Além do tradicional ponto conhecido pela freguesia, ele também participa, há pelo menos 10 anos, de outras quatro feiras livres.

Natural de Goiás, Seu Domingos mora em Mato Grosso há 35 anos e conta que é do time de quem gosta do fruto que vai bem “até com galinha de granja”.

Na época do pequi ele é mais caprichado ainda, porque o cheiro fica entranhado na roupa. A gente tem que tirar a roupa e botar separado dentro do quarto, porque ele solta um pozinho e a gente tem criança pequena e ai fica difícil

“Eu gosto, só não posso devido à idade e problemas de saúde, porque é muito forte e oleoso”. Para o feirante, o segredo é comer no almoço, nunca na janta, para evitar a má digestão.

Seu Domingos revela ainda o segredo de lidar cotidianamente com um alimento tão peculiar: a sua permanência nas roupas.

“Na época do pequi ele é mais caprichado ainda, porque o cheiro fica entranhado na roupa. A gente tem que tirar a roupa e botar separado dentro do quarto, porque ele solta um pozinho e a gente tem criança pequena e aí fica difícil”, revela o feirante.

A palavra pequi tem origem indígena e significa “casca espinhenta”. Logo de cara, isso revela outra peculiaridade do fruto, o jeito indicado de comê-lo. Como seu caroço apresenta minúsculos espinhos, o mais seguro é comer roendo e não mordendo ele.

Você pode contribuir com a pesquisa

As marcantes e peculiares características do pequi provocam uma relação de amor e ódio que despertam curiosidade. Para investigar essa aceitação nas diferentes regiões do País, o grupo de pesquisadores da UFMT desenvolveu um questionário online, que pode ser respondido por qualquer pessoa, fã ou não do fruto.

“Não é preciso gostar de pequi para participar. As respostas de quem não gosta e até de quem não conhece, são importantes para o nosso trabalho”, explicou a estudante.

Os dados fornecidos são sigilosos e serão coletados até o mês de julho. Já o prazo previsto para a conclusão da pesquisa é setembro. Após o término da investigação, os resultados serão enviados para os participantes que disponibilizarem o seu e-mail.

O protagonismo cultural

Conforme a pesquisadora, o fruto é rico em lipídios, proteínas, fibras, carotenoides, compostos fenólicos, entre outros, configurando-se como a base nutricional de muitos mato-grossenses.

“O pequi fornece grande parte dos aportes energéticos necessários para as populações que vive ao redor das áreas de ocorrência da espécie”, diz.

Jadi explica que para além da influência da cultura em hábitos alimentares, que apresenta diferenças até dentro de um mesmo País, outra relação que tende a interferir na aceitação são as experiências individuais e coletivas vivenciadas por um indivíduo. Isso acontece por meio das emoções que essas experiências despertam.

“Diversos estudos já avaliaram a influência das emoções sobre a escolha e o consumo de alimentos e, na última década, houve um enfoque cada vez maior no contrário, no estudo do impacto dos alimentos nas emoções e em como isso se relaciona à aceitação”.

Para a pesquisadora, compreender essa relação é fundamental para “inserir um novo alimento em uma nova região. Porque os consumidores apresentam expectativas e percepções diferentes devido à sua cultura experiências”.





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